Opinião

A Alma da Cultura – Rosendo Guimarães Costa

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Somos portugueses, acordamos atrasados e saímos de casa à pressa para o trabalho ou aulas. Comemos cereais, croissants, pães mistos ou com manteiga, leite e café para o pequeno-almoço, dizemos “olá” e “bom dia” e tudo nos parece tão mecânico e natural, mas na verdade não o é. É apenas a nossa identidade cultural ramificada nos confins da nossa alma, uma identidade tão forte nem vivendo fora dela nos conseguimos desprender.

Somos portugueses, mas nunca pensamos que nos sentimos como tal… até que vivemos fora… Cá acordamos cedo para evitar para evitar o congestionamento das grandes metrópoles, descobrimos sabores de pequenos-almoços parecidos com o tão típico “gosto salgado” português e bebemos café de máquina grátis servido em copos de plástico na empresa porque cá o café não custa €0,65, custa mais de € 2,00 e verdade se diga não presta: é um café azedo, sem sabor torrado, sem espuma e sem o trave que fica na boca durante meia-hora.

Não há bacalhau para milhares de pratos e gostos, confitado com batata em palha, tomate, azeite ou simplesmente frito na chapa, não há sardinha fresca de odor forte e suculentamente grelhada na brasa, não há enchidos de mil cores e texturas, adeus à morcela, ao chouriço assado no barro com bagaço ou aos rojões à moda do Minho, ao cozido à portuguesa, às tripas à moda do Porto ou francesinhas.

Temos que nos limitar à gastronomia local nem sempre fácil, picante, agridoce, por vezes insabor ou pagar gastronomia ocidental de segunda, vendida a preço de ouro e quase sempre pseudo-italiana ou pseudo-americana, mas nunca nossa.

Ser alguém é estar ligado a um país, a uma língua, a uma cultura.
Por muito que vivamos fora do nosso país nunca nos vamos sentir tão nacionais como lá fora, nunca nos sentimos tão portugueses como a viver noutro país com os nossos desabafos – por vezes em palavras menos bonitas que ninguém à volta entende – na voz interna de poesia portuguesa que acompanha o nosso pensamento (isso ninguém nos tira), na nossa curiosidade em saber dos escândalos fúteis que passam nos noticiários do FB e acontecem lá ao longe no nosso rectângulo plantado a este do Atlântico, no nosso estilo frontal de reclamar quando nos passam nas filas do supermercado, no vinho do Porto que bebemos com outro portugueses perdidos pelo mundo, no nosso estilo cortês e educado de etiqueta, na nossa capacidade de nos adaptarmos a viver em qualquer lugar do mundo, resquício que jaz no nosso sangue transmitido pelos nossos antepassados de navegantes e descobridores, na nossa consciência saudosista, melancólica, fadista e nostálgica, no nosso jeito português de levar a vida descontraída e despreocupadamente, mesmo debaixo de incêndio ou tempestade. Somos portugueses, sempre seremos, passem cinco, dez ou vinte anos fora da nossa pérola atlântica e isso… nunca ninguém nos tirará!

Rosendo Costa
em Pequim, China

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