Opinião

A entrada mais cara – Sousa Pinto

Após a demolição parcial do ex-cine-teatro de Ovar e do anúncio da sua aquisição pela Câmara Municipal de Ovar (CMO) por 375.000 Euros verifica-se que afinal a solução / intenção do atual presidente da CMO, é apenas esta: “Gostaríamos de dignificar a entrada do parque urbano. Além da recuperação e manutenção da fachada, há vontade de criar ali um conjunto de serviços ligados ao turismo com informações sobre hotelaria, restauração, e divulgação de produtos regionais. Gostaríamos de adquirir o cine-teatro, demolir a parte traseira e na parte frontal termos uma grande entrada para o parque urbano”.

É legítimo perguntar se faz algum sentido e tem alguma lógica, introduzir mais uma entrada para o parque, quando nesta zona já existem duas, a menos de 1 minuto de distância? Como é óbvio isto é uma redundância inútil e uma má despesa pública e demonstra bem o vazio de ideias.

Também não me parece que ao optar por esventrar este edifício, mantendo a fachada principal, possa honrar devidamente com o seu passado histórico. Estimo que os custos de demolição, aquisição e requalificação sejam superiores a 1 milhão de euros. Assim, se este projecto mirabolante for para a frente, Ovar poderá então candidatar-se ao Guinness World Records por conseguirem ter a entrada mais cara e a mais inútil. Que visão raquítica de futuro!

Há quanto tempo não existem projetos arquitetónicos de grande qualidade, na cidade? Esta seria sem dúvida, a oportunidade perfeita para incentivar a requalificação urbana, promovendo e construindo neste local um novo edifício verdadeiramente icónico, contemporâneo e marcante, para uso comercial e particular e que se adapte harmoniosamente com a malha urbana existente.

Pelos vistos, quem beneficiou aparentemente com tudo isto, foi a sociedade proprietária do cineteatro de Ovar (ECO), porque conseguiram uma oferta de compra superior, aquela que alegadamente pediram. Que estranha negociação em que os interesses públicos não são devidamente assegurados. Depois, viram perdoados os custos de demolição (> 100 000 Euros). Neste caso o que o poder local está a afirmar que aqueles que se caraterizaram pela inércia, pela ganância, pelo desleixo, pela falta de iniciativa e pela indiferença, devem afinal ser premiados.

Que exemplo! Eu não quero que os meus impostos sejam utilizados desta maneira. Não contentes com tudo isto, ainda puseram condições de venda e de funcionalidade. Mas que grande hipocrisia. Ainda recentemente apelavam avidamente à sua venda (Visto Gold, etc.) sem se preocuparem minimamente pelo destino final do edifício.

Costuma-se dizer que uma pessoa / entidade é aquilo que faz ou não faz. Estas sucessivas más decisões confirmam definitivamente um erro de casting e são prova notória de impreparação e incapacidade para uma boa resolução dos problemas. Deste modo, não vamos lá. Enquanto os concelhos vizinhos prosperam, Ovar atrofia, perde brilho e importância, caindo numa espécie de letargia perigosa. Compete-nos mudar o estado das coisas.

Sousa Pinto
8.10.2016

*Leitor escreve com o novo acordo ortográfico

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