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“À Palavra” entre romances históricos e livros de viagens

As mais recentes tertúlias literárias do Museu de Ovar trouxeram ao “À Palavra” escritoras como Carla M. Soares, que se assume mais como autora de “romances de época”, ao contrário da designação de romances históricos, enquanto Raquel Ochoa, no sábado à noite (6 maio), falou da sua “escrita mãe”, a escrita de viagens.

A escritora viajante, Raquel Ochoa, começou por partilhar com os participantes da 59.º tertúlia do “À Palavra” no Museu de Ovar, que andou a pé pela cidade de Ovar a qual visitou pela primeira vez, desabafando: “Portugal é um sítio maravilhoso, cheio de pequenas terras”. Referindo-se às suas “caminhadas” pelo mundo, considerou “quanto mais viajo lá fora, mais fico desperta para o nosso país”. Foram as palavras de reconhecimento da vencedora do Prémio Literário Revelação Agustina Bessa-Luís, em 2009, com o livro “A Casa-Comboio”, pela forma como foi recebida pelas pessoas e pelo Museu que visitou também demoradamente.

Foi, pois, à volta de algumas das histórias das viagens que fez, pela Costa Rica, Peru, Chile e Argentina, e do seu contacto privilegiado com as pessoas, realidades sociais, culturais e ambientais, registadas em imagens e apontamentos que acabaram por dar origem ao seu primeiro livro de viagens, “O Vento dos Outros”, publicado em 2008, que relata estas viagens pela América Central e do Sul. Segundo a autora, “é um livro muito ingénuo”, porque “quando escrevi, não era para publicar, era para mim, sobre as viagens”.

Outras viagens por vários continentes e seu percurso literário, vieram à conversa moderada por Carlos Nuno Granja, sobre estas experiências de Raquel Ochoa viajar sozinha, que considera ser, “importante na minha construção como pessoa e mulher”, que um dia, na sequência de uma viagem à India, entre as várias que fez à Ásia e Oceânica, concluiu que a área do Direito, “não era para mim”.

Interessou-se sim, sobre História, e como sublinhou, “histórias que ficaram esquecidas”, como os romances históricos, “A Casa-Comboio” que fala de uma família indo-portuguesa e dos territórios de Damão, Diu e Goa, em 1885, ou “Mar Humano” (2014) e “As Noivas do Sultão”, cuja narrativa deste romance publicado em 2015, se baseia em factos verídicos ocorridos em 1793 quando uma embarcação com a família e o harém do sultão de Marrocos Mohamed III, arrastados por uma tempestade, chegaram a Lisboa.

Grande parte do tempo desta autora é pois dedicado a viajar e a escrever, por isso, assume que, “apesar da ficção, o meu natural são as viagens”, porque, como se definiu, “a minha escrita mãe é a escrita de viagens”. Uma opção natural desta escritora, que pôs os presentes na tertúlia a “viajarem” com as suas histórias, mesmos as de carater biográfico, como, “Bana – Uma Vida a Cantar Cabo Verde” ou sobre a história de resistência de D. Maria Adelaide de Bragança em “A Infanta Rebelde”, obra condecorada com a Ordem de Mérito Civil.

Como diria um dos participantes neste À Palavra com Raquel Ochoa, a escritora propôs-se no início da tertúlia, “oferecer” cerca de três viagens, mas acabou por proporcionar quase “uma dúzia”, tal foi o entusiástico momento de diálogo com a autora que se desdobrou em agradecimentos, à forma como foi recebida em Ovar, onde afirmou, “o mundo inteiro é muito bonito e as pessoas são muito bondosas”. Palavras numa noite, em que Carlos Nuno Granja afirmaria a propósito do evento literário, que, “poderá não ter gerado mais leitores, mas gerou certamente melhores pessoas”.

Uma semana antes, no mesmo “À Palavra”, com Carla M. Soares, autora dos romances “O Ano da Dançarina” (2017), “O Cavalheiro Inglês” (2014) ou “Alma Rebelde” (2012), esta escritora e professora falou então dos seus livros não como romances históricos, mas “romances de época”, justificando ser “a divisão que faço quando estou a escrever pequenos e grandes acontecimentos familiares que vou entrelaçando”. Admitindo ainda que “aquilo que é histórico num romance, acho que deve haver rigor”, sem deixar de ter “liberdade para explorar a imaginação com as minhas personagens”. Foram duas tertúlias com jovens escritoras que assumiram as suas próprias correntes de escrita entre romances históricos ou de “época” e “escrita de viagens”.

JL (texto e fotos)

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