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No Puchadouro, o CENÁRIO preserva o património náutico que fala do que somos e fomos

No Cais do Puchadouro, em Válega, Hélder Ventura é o rosto do CENÁRIO – Centro Náutico da Ria de Ovar, associação que se dedica à preservação do património náutico desde 24 de Maio de 2004.

É uma entidade aberta a pessoas de espírito associativo, que se identificam com os objectivos estatutários, nomeadamente a identificação, preservação e promoção do património náutico de recreio no contexto da Ria de Aveiro.

“Dedico-me à carpintaria naval, atualmente a minha ocupação primeira, enquanto diretor técnico da CENARIO”, apresenta-se Hélder Ventura.

Neste âmbito, “valorizamos o território, a paisagem e os modos vivendi que aqui se desenvolveram ao longo dos tempos, criando núcleos identitários culturalmente distintos, onde, ao longo do séc XX, a vertente náutica desportiva e recreativa assume protagonismo relevante, factor característico e peculiar da modernidade Ovarense”.

É aqui, portanto, que Hélder Ventura se dedica ao restauro de barcos de madeira.

Natural de Válega, desde cedo que começou a fixar o olhar nas embarcações que iam cruzando a Ria. A paixão por estas embarcações levaram-no até aos Estados Unidos da América para estudar Oceanografia e deixou-se contagiar pela atenção que no outro lado do Atlântico já iam dando à recuperação do património náutico de madeira.

A sede do CENÁRIO fica num antigo armazém de sal, com a área de 250 m², junto ao cais do Puchadouro, terminal de um dos braços da Ria de Aveiro e que, durante o século XX, movimentava pessoas e mercadorias.

Aqui havia movimento proporcionado pelas atividades produtivas tradicionais como a pesca, a recolha de moliço, a recolha de juncos e canízias das “praias”, o transporte de materiais de construção, nomeadamente telhas de barro e caulino para a fábrica da Vista Alegre em ÍlÍlhavo.

O CENÁRIO maravilha quem o visita. É um caso único e inspirador em Portugal, porque preserva uma certa forma de construção naval que privilegia a tradição lagunar.

Numa perspetiva museológica, promove a recolha e arquivo de depoimentos, fotografias e documentos relacionados com a génese e desenvolvimento da vela de recreio, promove debates e atividades que desenvolvem o relacionamento da população local com os territórios sociais e ecológicos da Ria de Aveiro.

No entanto, das diferentes atividades que aqui ocorrem, destaca-se mesmo o restauro, o registo e a construção de embarcações de recreio representativas da evolução do desporto da vela e da arte da carpintaria naval, assim como a prática da vela recreativa e a organização de passeios e percursos náuticos pela Ria, primordialmente na sua vertente mais a Norte.

É um CENÁRIO aberto. O ‘know-how’ de Hélder Ventura é transmitido sempre que lhe é solicitado.

Com o FOR-MAR, em parceria com a Câmara Municipal de Estarreja e o Centro Qualifica da Escola Secundária de Estarreja, recentemente, leccionou em mais um curso, no Centro de Interpretação da Construção Naval, em Pardilhó, participa em diversas conferências e demonstrações, sendo um “embaixador” da nossa identidade.

E agora, anuncia:

Recentemente, respigou um texto de 1999 que publicou no Blog Azuleante:

Ovar é uma cidade que nasceu com os pés nas águas de um mar que se foi afastando e transformando em RIA. Um Mar interior. Esta circunstância liga-nos ao mundo das cidades que se desenvolveram em deltas e Rias e com elas poderemos aprender tipos de relacionamento com o espaço natural que as envolve, sem com isso, perdermos o carácter do que nos é próprio.

Se a água se tem vindo a afastar, lentamente, derivando os modos de ocupação e expansão para longe de um imaginário de algas de peixes e de aves, terá a cidade, se quer manter o caràcter que lhe esteve na origem, de se reaproximar da àgua, iniciando uma redescoberta de si mesma.

Este conceito de aproximação não poderá no entanto ser entendido e muito menos materializado como um avanço de novas expansões urbanas, em correria desenfreada até à borda de água. Não é esta a ideia, até porque a sensíbilidade e riqueza do ecosistema existente, num espaço de ambiguidades fronteiriças entre a terra e a àgua, de uma enorme riqueza comtemplativa, não nos permitirá nunca este tipo de aproximação.

Temos portanto um problema, o de saber até que ponto será permeável o reatar de relações entre a Ria e esta cidade.

(…)

Redescobrir a carpintaria naval na preservação destas embarcações, potenciando novas actividades na Ria, relacionadas com a ecologia e com a preservação do meio ambiente, com a biologia, com a agricultura, etc, etc,…

Não serão os caminhos da água a resposta a tantas angústias e incertezas no futuro?”

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