Opinião

Bons cozinhados – Ricardo Alves Lopes

Ovar não é reconhecida como uma cidade de excelência pela sua gastronomia, pelos  seus pratos típicos, como muitas outras portuguesas. Porém, ao nível da doçaria, dispõe  de um dos doces mais aclamados no país. O maravilhoso pão-de-ló, húmido e com um gosto que não se replica em mais nenhuma cidade.

Há derivações, já temos o pão-de-ló de chocolate, o seco, entre outros, mas a  imagem que me dissolve os sentidos em apetite é o húmido, o suculento gosto doce que me remete para o natal, mas também me faz salivar todo o ano. Curiosamente, não sou dado a doces, sou um dos raros casos que não consegue encontrar no chocolate uma perdição, mas com o pão-de-ló, ah o pão-de-ló, a história é outra. É deliciosa, diga-se.

Contudo, apesar do meu apetite feroz e da minha visita ao festival do pão-de-ló ter sido de fugida, num passo acelerado, não irei falar sobre o quão apetitoso é o nosso doce. Falarei da forma como se cozinha a sua divulgação, tantas vezes esquecida.

Em outros tempos, a comunicação ao mercado fazia-se pelo simples facto da qualidade do produto. O boca a boca, o passa a palavra, detinha a exclusividade da promoção no mercado. Hoje, os tempos são outros. As pessoas não compram nada sem experimentar antes, sem dar uma vista de olhos na internet. Obviamente, o doce, o resvalo encorpado e macio do pão-de-ló pela garganta, não se pode comprar na internet, não se pode sentir. Ninguém terá essa ambição, de revolucionar os sentidos ao ponto de se comer através do computador. Não obstante, há algo que há muito existe. O apetite dos olhos, a famosa expressão: comer com os olhos.

Nesse sentido, parece-me, o nosso pão-de-ló tem crescido. Já é mais visto pela internet, já se encontra na esquina de  dois sites, ou em passeio pelo facebook. Isso é a evolução natural das pessoas que fazem o pão-de-ló, não do pão-de-ló, porque esse devem manter-se, para o bem de todos os apaixonados por esta iguaria, com a sua receita tradicional.
Assim, em suma, penso que esta pequenina mostra, que mais do que divulgar promoveu bons momentos, pelo que pude perceber na minha rápida passagem, foi um bom cozinhado. Criou um burburinho interessante na cidade, quando as pessoas pareciam um pouco esquecidas do que são as nossas mais valias, da qualidade do que é nosso.

A APPO, com esta iniciativa e  a agenda que tem pronta para visitantes estrangeiros, como os russos, está a fazer um trabalho valente e  de salutar. Está, de certo modo, a cozinhar o sucesso de um doce nosso, que merece ser de todos. Porém, os grandes restaurantes não se limitam a cozinhar bem, também apresentam bem. Compreendem que o que conta no final é a qualidade da confecção, mas que os intermédios também são de relevância fulcral. Por isso, penso que não seria descabido as pessoas ligadas ao pão-de-ló se entusiasmarem na outra vertente. Cozinham como ninguém, apresentem como ninguém.

O festival foi maravilhoso, mas de um alcance regional. Vamos apostar em campanhas online, em uso de ferramentas sérias como o Facebook de modo mais profissional ou as campanhas de adwords, um site de cabeça, tronco e membros, uns pinterests bem catitas, um instagram a expor como o pão-de-ló é suculento, como fica bem à mesa. Porque assim, estando bem posicionado na internet, nomeadamente no Google, é que vamos chegar mais longe. Vamos chegar aos turistas, nacionais e estrangeiros.

O trabalho, até agora, é maravilhoso. Não vamos é deixar o cozinhado arrefecer. Há mais para onde crescer. Este pão-de-ló merece ser todos.
Para finalizar, os meus sinceros parabéns à organização, pela alegria contagiante que existia entre as barraquinhas. E uma palavra também há Plataforma de Ativação Cultural e Artística, PACA, que simultaneamente ao festival do pão-de-ló, alegrou um pouquinho a  tarde da praça das galinhas, com música e simpatia. Ovar está de parabéns.

Ricardo Alves Lopes (Ral)
http://tempestadideias.wordpress.com
[email protected]

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