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«Carnaval de Ovar caminha para ser uma festa auto-sustentável» – Alexandre Rosas

 

O vereador da Cultura da Câmara Municipal de Ovar, Alexandre Rosas, fala das suas apostas e aponta para um Carnaval que seja uma festa auto-sustentável.
“O ano passado esgotamos tudo e chegamos a um ponto que é difícil crescer mais”, diz, em entrevista ao Diário de Aveiro. No entanto, há novos horizontes de folia: “Só há cerca de um mês recebemos um parecer jurídico que nos diz que podemos avançar com um concurso para seleccionar um grande patrocinador. Em termos processuais, colocar esta ideia em prática não é fácil. Tendo agora este parecer, podemos para o ano que vem abrir um concurso público na esperança de conseguirmos uma grande marca patrocinadora”.

O ano passado, o orçamento foi de 500 mil euros e a receita rendeu 280 mil euros. Assim sendo, aponta, “não falta muito para sermos auto-sustentáveis. É esse o objectivo. Queremos consolidar a nossa festa até chegar a esse ponto”.

A marcação do desfile da Chegada do Rei para o dia das eleições causou polémica. Como reage a isso?
Antes de marcar a chegada do Rei para o dia 24, tivemos o cuidado de consultar a Comissão Nacional de Eleições sobre o assunto e informaram-nos que não haveria qualquer tipo de problema. Olhando para a forma como decorre o acto eleitoral em Ovar, verificamos que todas as mesas de voto estão concentradas num só local e as vias de acesso se encontram desimpedidas. No entanto, vamos fazer uma ligeira alteração ao percurso, que começa na zona da Galp e, na vez de ir pela rua de Timor seguirá pela rua da Paróquia, para que aquela via esteja desimpedida. Esta é uma decisão do Executivo, porque o Carnaval é muito cedo e há poucas datas disponíveis este ano. Pensámos em fazer o desfile no sábado, mas também era difícil porque é dia de mercado municipal. Pensámos no domingo do Carnaval das Crianças, mas nesta altura do ano, anoitece mais cedo e seria um desfile complicado e convém não esquecer que temos uma responsabilidade com as crianças. Entendemos não misturar a Chegada do Rei com o desfile das crianças. Sabemos que já aconteceu no passado, mas entendemos que assim seria melhor.

Há novidades no espectáculo de abertura?
Este ano acrescentámos ao espectáculo de abertura, de Tim Steiner, uma parada de gigantones oriundos de todo o país. Estes vêm juntar-se aos nossos, que são tão característicos do Carnaval de Ovar, e que foram restaurados em 2015. Este ano, acrescentámos mais dois que tínhamos apenas em estrutura e que agora vão passar a integrar todas as manifestações carnavalescas.

O Baile de Máscaras veio para ficar?
Vamos voltar a organizar o Baile de Máscaras que iniciámos em 2015 e esta é uma iniciativa para continuar. Sinto que, em 2015, passou a ideia de que este seria um baile para VIP’s ou elitista e não era essa a nossa intenção. Este é um momento em que queremos recordar como eram os bailes tradicionais de Ovar. Julgo que faltam momentos para convidar pessoas que não se identificam tanto com o Carnaval e esta é uma boa oportunidade para isso. O ano passado fizemos o Baile de Máscaras na Escola de Artes e Ofícios. Cobramos um preço simbólico por entrada, de modo a que a iniciativa tenha a dignidade que merece.
As pessoas podem vestir-se como entenderem, só é obrigatório que se apresentem mascaradas. Este é igualmente um momento para recordamos as músicas de outros tempos. Para isso, temos um compromisso com a Banda Ovarense, que faz um trabalho excepcional. As pessoas vão como entenderem, na esperança que este seja um evento que vá crescendo. Em 2015, tivemos fatos a fazer lembrar Veneza, tivemos os dominós de Ovar. Este ano, o Baile de Máscaras vai acontecer no Café Progresso, mítico espaço do Carnaval de Ovar.

O Espaço Folião regressa ao Parque da Senhora da Graça.
O Espaço Folião vai ficar instalado no Parque da Senhora da Graça. O ano passado não houve, porque o concurso ficou deserto. Este ano, optámos por assumir a programação, o que não sucedia antes. Entendemos que cabe à Câmara Municipal assegurar a programação, que também é escolhida por nós, tentando sempre que seja a melhor possível. Por uma questão de controle vai ser disponibilizada uma pulseira de 5 euros que dará acesso aos três dias. Esta é uma forma de nos ajudar a controlar a grande massa de pessoas que nos chega.
O nosso objectivo é criar cinco grandes noites no Carnaval de Ovar e isso tem a ver com o turismo e com a vontade de concentrar as pessoas em Ovar durante mais dias. Estamos a trabalhar em conjunto com as nossas estruturas hoteleiras para que isso possa ser uma realidade. Este ano, vamos pela primeira vez à FITUR – Feria Internacional de Turismo, em Madrid, no período do Carnaval, de 20 a 25 de Janeiro, e vamos estar presentes com pessoas trajadas, programação e vídeos de Carnaval. E vamos fazer campanhas com as juntas de turismo da Galiza, Salamanca e outras. Esperamos colher resultados desta promoção ainda este ano e certos de que, no futuro, os vamos ter com mais visibilidade.

A Farrapada é um risco calculado?
Este ano introduzimos a Farrapada, na sexta-feira, dia 5, porque queremos partilhar a cidade com toda a gente, dar a oportunidade ao país para fazer um desfile de forma espontânea. É um primeiro passo e temos expectativas de boa participação e até temos prémios para as primeiras mil inscrições. Temos a noção de que é a primeira vez, mas estamos a apostar e esperamos que nos próximos anos possa vir a ter muita gente de todo o país a participar.
Os primórdios do Carnaval vareiro usavam este termo e os escritos da época assim o confirmam. As pessoas reutilizavam tecidos antigos e saiam à rua no carnaval. Actualmente, na noite mágica de segunda-feira, costuma a haver grupos de fantasiados e agora o convite é que venham na sexta e fiquem cá para o resto dos dias. Os hotéis oferecem vantagens para quem ficar esse número de dias. Temos estudos que indicam que as pessoas vêm ver o desfile e vão embora. O repto, agora, é para que fiquem, pois temos boas condições de estadia.

Depois de ter falado na mudança para o centro da cidade, o desfile das Escolas de Samba fica, afinal, no local habitual.
Não me basta dizer que é difícil ou impossível, tenho que experimentar. Felizmente ou infelizmente, o ano passado choveu no sábado e o desfile nocturno das escolas de samba não se realizou, mas houve um ensaio geral nas vésperas. Isso permitiu verificar o que correu e o que não correu bem. Os tempos mudam e as exigências são outras. Em termos técnicos, o resultado não era bem o que se pretendia. E as nossas escolas de samba encontram-se hoje num patamar de exigência bastante mais elevado. Tínhamos noção dos riscos até porque era suposto ser um desfile gratuito, muito embora tivéssemos tudo preparado para salvaguardar quem desfila. Queremos que o Carnaval se passe em grande parte no centro da cidade, mas as próprias escolas de samba decidiram que gostariam de manter-se na Avenida Sá Carneiro e que houvesse lugar ao pagamento simbólico de uma entrada que dignifique o espectáculo – 2,5 euros de bancada. Acima de tudo, porque temos todas as condições montadas. Pareceu-nos pertinente não estar a gastar erário público num novo desfile no centro e que iria interferir com a vida das pessoas da cidade. Assim, decidimos manter o cortejo nocturno das escolas de samba na Avenida Sá Carneiro, só com uma alteração: o desfile vai de Sul para Norte.

Vai voltar a haver camarotes.
A introdução de camarotes foi um sucesso o ano passado e esperamos que o voltem a ser este ano. Foi uma experiência que correu muito bem e a imprensa interessou-se pela inovação. Ver o desfile de Carnaval no Camarote é uma perspectiva muito agradável. Vamos ter de novo cathering incluído e, pelo que sei, as empresas que estiveram nos camarotes em 2015 gostaram muito e vão repetir.

O ano passado, a iluminação do corso foi muito criticada. O que correu mal?
A iluminação do cortejo, no ano passado, foi, assumidamente, um erro nosso. Como tínhamos que iluminar o desfile nocturno das Escolas de Samba, na avenida Ferreira de Castro, optámos por uma iluminação amovível que, depois, iria para a avenida Sá Carneiro nos restantes dias, mas esta ficou aquém das nossas expectativas. Foi insuficiente. Para agravar a situação, a EDP tem um sistema de poupança da iluminação em que determinados postes deixam de funcionar a partir de dada hora. Houve, assim, um conjunto de factores que concorreram para o que aconteceu. Este ano, para ultrapassar isso, teremos iluminação própria, alteramos os postes, mudamos a cablagem toda que estava em más condições e, portanto, vamos ter uma iluminação como deve ser. Julgo será uma grande melhoria.

O que se pode esperar em termos de espectadores?
A questão das bancadas também será alterada relativamente a 2015, passando a ser duas, porque o ano passado batemos todos os recordes de bilheteira. Este ano, teremos mais 150 lugares lugares sentados, passando a ter 4.150 lugares de bancada. No peão, é mais dificil dizer. Na terça-feira de Carnaval, em 2015, tivemos que mandar fechar as bilheteiras porque já não cabia mais ninguém. Registámos uma afluência que nos apanhou de surpresa, já que não era feriado. Aliás, esperamos que esta questão também seja alterada, agora que o ex-presidente da Câmara Municipal de Torres Vedras está no governo (risos).

Foi isso que possibilitou o aumento dos apoios aos grupos e escolas de samba?
Desde 2008 que os grupos e escolas de samba não tinham um aumento nos apoios. No total, vamos acrescentar 12 mil euros aos apoios, que vêm do orçamento deste ano, estimado em meio milhão de euros. Apostamos na qualidade dos grupos e escolas, que se repercute no espectáculo que oferecemos a quem nos visita. O reforço das verbas foi bem recebido e é, acima de tudo, merecido. Há sempre gente insatisfeita, mas é melhor que nada.

O Carnaval de Ovar quase deixou de ter as tradicionais “piadas”. O que pensa fazer em relação a isso?
Este ano, queremos apostar no regresso das piadas aos corsos carnavalescos. O regulamento respectivo foi já aprovado no Executivo e agora queremos que as piadas voltem mesmo ao Carnaval, sem censura da organização. Eu, por exemplo, sempre que possível, canto com os Axu Mal, respondendo a um convite que me fizeram e já cantei críticas a mim próprio. Mas é assim mesmo o Carnaval, é importante que isso aconteça. Reunimos com o Zé Maia, o Rochinha e o Rilho, três piadistas conhecidos na cidade, que nos ajudaram a elaborar esse regulamento. Agora, esperamos que as piadas apareçam no Carnaval de Ovar e possam acrescentar mais qualquer coisa ao desfile.

Outra questão sensível tem a ver com os júris sempre muito contestados. Como resolver?
Eu já estive do outro lado e o certo é que quando estamos a ser avaliados não gostamos de ser injustiçados. Na organização, estamos totalmente disponíveis para fazer as alterações no modo de votação que os grupos entendam. Os grupos de passerelle conseguiram chegar a acordo e introduziram alterações ao modelo. Os júris vão passar a avaliar por itens, alteração que foi aprovada também em reunião de Câmara. Com os carnavalescos, não sucede assim. Algumas pessoas pensam que pode haver algum tipo de manipulação nas votações, mas isso não é verdade e não há forma de isso suceder. Os júris vêm logo para aqui após o desfile de terça-feira e inserem, um a um, os seus pontos. Agora, são pessoas que avaliam melhor ou pior, mas avaliam de acordo com a sua perspectiva. Nós reunimos com eles, na tentativa de uniformizar, mas é difícil. Do ano passado para cá, houve júris que desistiram e a verdade é que há dificuldade em encontrar quem queira avaliar. Nós apresentamos os júris aos grupos e estes, se entenderem, podem pronunciar-se sobre as escolhas.
Mas é difícil arranjar júris porque a questão que se coloca é: o que é perceber de Carnaval de Ovar? É difícil, porque há sempre ligações afectivas ou familiares e é sempre muito complicado. Mas esta alteração feita na passerelle pode ser uma boa solução. Um júri vota no carro, por exemplo, e não sabe nem é responsável pelo que se passa nos outros itens. Não vai resolver os problemas todos, mas pode ajudar. Por muito perfeito que seja, o sistema é sempre complicado. Vejamos as marchas em Lisboa ou as escolas de samba no Brasil. Chega a descambar em violência…

O Carnaval de Ovar já é auto-sustentável?
O ano passado esgotámos tudo e chegámos a um ponto em que é difícil crescer mais. Só há cerca de um mês recebemos um parecer jurídico que nos diz que podemos avançar com um concurso para seleccionar um grande patrocinador. Em termos processuais, colocar esta ideia em prática não é fácil. Tendo agora este parecer, podemos, para o ano que vem, abrir um concurso público na esperança de conseguirmos uma grande marca patrocinadora. O ano passado, o orçamento foi de 500 mil euros e a receita rendeu 280 mil euros. Não falta muito para sermos auto-sustentáveis. É esse o objectivo. Queremos consolidar a nossa festa até chegar a esse ponto. (Ler artigo)

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