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João venceu não um mas cinco cancros

“Não podemos desistir e o meu caso é um exemplo disso"

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No braço esquerdo, João Silva desvenda uma tatuagem em que se lê: “O segredo é ter fé em Deus”. Mesmo nos momentos mais difíceis, quando tudo parecia perdido, João garante que nunca perdeu a esperança, agarrou-se à fé. Hoje, ao completar 20 anos de vida, não tem dúvidas de que a “fé na ciência e nos médicos que o acompanharam e, não menos importante, em Deus, para contrariar todas as probabilidades, foram determinantes para vencer a doença”. Milagre? Ele garante que não. Mas a fé, essa foi fundamental.

A luta contra o cancro começou há cerca de dois anos, numa altura em que João se encontrava a estagiar numa empresa automóvel, em Estarreja. Os primeiros sintomas surgiram no dia 1 de Fevereiro de 2017, “dia do aniversário do pai”. “Lembro-me de sentir muitas dores de cabeça”. Era dia de festa e a mãe, longe de imaginar o que estava para vir, apenas lhe pediu dizer para cantar os parabéns antes de ir dormir, para descansar”.

Na manhã seguinte, “as dores de cabeça tinham-se agudizado e o mal-estar era geral”, recorda João Silva que, mesmo assim, tentou fazer-se ao caminho para Estarreja. A mãe já não o deixou ir, fazendo antes caminho para a Extensão de Saúde de Avanca, onde lhe seria diagnosticada uma virose. Medicado, João andou dois dias melhor, mas ao terceiro dia já não se conseguiu levantar da cama. Ou melhor, conseguiu, mas a perna esquerda cedeu.

“Não tinha acção sobre ela”, conta. “Deitei-me de novo”. Levantou-se mais tarde, a medo, e lá conseguiu dominar a perna. Assim andou, no fim-de-semana seguinte, pensando que teria sido um mau jeito e que iria passar”.

Em dificuldades, na segunda-feira voltou ao estágio. “Custou-me muito mas fui”. Mais uma vez, a seguir ao almoço, “já não aguentava as dores”. Estava pior e, nesse dia, à noite, o pai levou-o ao Hospital de São Sebastião, na Feira. Após exames, o médico de serviço na Urgência mandou-o para casa: “Oh rapaz, vieste brincar com o nosso trabalho, tu não tens nada. Podes ir embora”, recorda João Silva, as palavras que nunca mais esqueceu.

Dois dias depois, as dores de cabeça eram insuportáveis. “Voltei ao Centro de Saúde de Avanca e a médica que lá estava disse logo que algo não está bem”. Dali, seguiu para o Hospital de Santa Maria da Feira, com uma carta da médica. “Quando lá cheguei já fiquei internado”.

Diagnóstico preocupante

Uma ressonância magnética feita de imediato acusou “uma mancha negra no meu cérebro, que ainda não estava identificada mas que aparentava não ser nada de bom”. O seu estado inspirava cuidados que só estavam disponíveis no Hospital de São João do Porto. Submetido a uma bateria de exames, esperavam-no três meses internado na Pediatria do Hospital portuense. Sem tempor a perder, os médicos operam-no à cabeça para identificar a “tal mancha negra”. O resultado não tardou: Era um linfoma de Hodgkin, termo genérico para designar os carcinomas que se desenvolvem no sistema linfático. Mas a doença de Hodgkin caracteriza-se por ser pouco comum, representando menos de 1% de todos os casos de cancro nos EUA, por exemplo.

Mas havia más notícias: João foi diagnosticado com quatro tumores alojados no cérebro e havia ainda um quinto na medula espinal, num total de cinco.

A partir daqui, iniciou um tratamento à medula, “a começar com uma punção lombar para colecta do líquido cefalorraquidiano na medula espinhal” para exame citológicoseguido de quimioterapia. “Colocaram-me um catéter central, no peito, que infeccionou ao fim do primeiro tratamento, pelo que tive de ser transferido para os cuidados intensivos”. O azar não fica por aqui: “Entrei em coma e assim permaneci durante uma semana”. Curiosamente, acordou no dia 21 de Março, dia do seu 18.º aniversário.

Paralisado da cintura para baixo, ficou internado num quarto individual, em isolamento, onde receberia os tratamentos até setembro desse ano. “Felizmente, que comecei a reagir e a recuperar”. Com tudo a correr pelo melhor, o último tratamento de quimioterapia seria administrado em regime de ambulatório, em casa, em Válega, no concelho de Ovar. Mas havia outro contratempo à espreita. Tal como o médico alertara, as defesas caíram, “mas eu não quis ir ao hospital com medo de lá ficar internado. Fiquei em casa”. Com febre a subir rapidamente aos 42 graus de temperatura, não teve alternativa: “Fui parar de novo ao hospital e lá fiquei”.

“Ter cancro não é uma sentença de morte”.

No total, “estive nove meses internado com mais um de ambulatório”. No final do terceiro tratamento, o médico disse-lhee que a medula estava limpa, estava a correr bem e em remissão. “Recuperei o andar, sem necessidade de fisioterapia”.

No dia em que completa vinte anos, encara a vida com optimismo, porque o mais importante é estar vivo, mas apesar de ter o curso de técnico de reparação e pintura de carroçaria, continua desempregado. João Silva tinha emprego na área da indústria automóvel, mas devido à sua condição de saúde não pode trabalhar nesta área. “As tintas e diluentes impedem-me”. “A partir daqui, levo uma vida normal, quase sem restrições”.

É vigiado de quatro em quatro meses e o seu maior receio agora é ter uma recaída. “A ansiedade é grande até ver os resultados”, admite. Quando tudo começou, os médicos disseram ao pais que a taxa de sobrevivência era muito reduzida. “Além do azar acabei por ter sorte”.

Hoje, partilha a sua experiência e a sua luta bem sucedida “para dar esperança a quem enfrenta a notícia de que tem cancro”. “Isso não quer dizer que seja uma sentença”. “Não podemos desistir e o meu caso é um exemplo disso. É preciso ter fé nunca desistir. Eu tinha muita gente a ajudar-me”.

Hoje, o seu sonho é “ser feliz e encontrar um trabalho, seja ele qual for, desde que não prejudique a minha saúde”.

João Silva partilha a experiência de como foi vencer quatro tumores na cabeça e um na medula espinal para dar alento a quem trava, neste momento, uma guerra com a doença do século . (Ler in Diário de Aveiro) – Foto: Paulo Ramos in DA.

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