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“Jovem” mantém viva arte Xávega no Furadouro

O “Jovem” já lá vem, amparado pela espuma das ondas, beija a areia da praia do Furadouro, são e salvo. Há azáfama no areal. É o segundo lance do dia. “Estamos aqui desde as 4h30 da manhã”, desvenda o Jacinto, proprietário do “Jovem”, a única companha que, por estes dias se faz ao mar, na praia do Furadouro.

Os dias difíceis em que o “Jovem” virou e morreram dois pescadores (um terceiro morreria dias depois), há cerca de dois anos, já lá vão. O mar foi ingrato nesse dia de maio, mas é preciso encarar a realidade: “Não se pode desanimar. Temos que sobreviver e não temos mais de onde ele venha”, desabafa Jacinto, enquanto controla as operações com o olhar.

“Nós ainda enganamos o estômago com uma sandes, mas as nossas crianças têm que comer todos os dias”, relata o pescador experimentado com mais de 40 anos de faina. No “Arrastão do Jacinto”, como há quem lhe chame, trabalham entre 15 e 20 pessoas. “Todos dependemos disto, porque emprego por aqui já não há, viemos todos embora das fábricas”, lamenta.

“É preciso amealhar agora para o inverno”. Nesta altura do ano, as ondas estão mansas, mas ainda não há muita sardinha a saltar nas redes. “Ouvimos dizer que ela anda aí, mas o que tem dado é mais carapau”, relata, esperançado que o defeso do último ano também traga resultados nas redes que dão à costa no Furadouro.

A companha até podia fazer-se ao mar mais vezes num dia, mas Jacinto diz que “não vale a pena, porque ainda não dá rendimento para o gasóleo que se gasta”. “Vamos indo e vamos vendo. Eu tenho esperança que vá melhorar”, augura.

Antes, o “Senhora da Graça”, da família Maganinho também se fazia ao mar, mas há dois anos que desistiu. Resta um exemplar “sentado” numa rotunda de acesso à praia. Não fora o “Jovem” e seria o único exemplar visível de uma actividade que tantos braços ocupou não vão muito anos. “As dificuldades são muitas e esta é uma vida muito incerta”, desabafa.

Há gente, com ar de ser turista, a fotografar este grupo de homens e mulheres vareiros, de rosto sulcado pelo sol e pelas agruras da vida. A pesca com recurso à arte da Xávega é uma tradição e uma atracção turística, mas apoios é coisa que Jacinto desconhece. “Tenho que trabalhar. Não recebo nada de ninguém, nem da Câmara, nem do Governo, nada. Isto está difícil.”

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