Opinião

O ciclo de vida das “Lagartas do Pinheiro” e a flexibilidade curricular experimental

Neste novo ano letivo a arrancar, o projeto de Autonomia e Flexibilidade Curricular dos ensinos básico e secundário para o ano 2017/18, que resulta do Despacho n.º 5908/2017, de 5 de julho, poderia corresponder a mudanças que sustentassem algumas das conclusões, entre as várias tiradas pelo ministério da educação, ainda que de forma superficial e através de métodos de discutível diálogo e auscultação com os trabalhadores da educação, relativas à necessidade do emagrecimento do currículo e maior flexibilidade, dando maior autonomia às escolas, permitindo mudar a forma como se leciona atualmente.

Intenção que passaria também por dar mais tempo aos professores, numa lógica de promoção do sucesso escolar, com vista a atingir objetivos, como, o novo perfil do aluno à saída da escolaridade obrigatória.

No entanto, as expetativas de quem esperava alterações curriculares que viessem no sentido de melhor gerir o currículo para potenciar aprendizagens. Com um tal Despacho que o ministério não quer naturalmente assumir como “reforma” curricular, inevitavelmente acabará por se traduzir em mais um regime de experiência pedagógica, para as escolas sinalizadas como Territórios Escolares de Intervenção Prioritária (TEIP) ou para os estabelecimentos de ensino (Agrupamentos de escolas) que manifestaram interesse em aderir a tal promoção ou propagandeada melhoria de aprendizagens.

Mas, não parece ser nem consequente nem mobilizador. Contrastando com os tempos em que a Escola EB 2.3 António Dias Simões (atual unidade do Agrupamento de Escolas de Ovar), sempre integrava mesmo as fases experimentais. Desta feita, ficamos de fora do projeto-piloto e esperaremos pelos resultados de quem arriscou experimentar desde já este novo modelo, a aplicar no primeiro ano de cada ciclo de escolaridade (o que no nosso caso incluiria o 5º ano).

Neste âmbito de alterações curriculares, seria curioso implementar um projeto local, que por exemplo, por mais estranha que possa parecer a “dica”, monitorizasse o ciclo de vida das “Lagartas do Pinheiro”, como experiência que poderia resultar num eventual contributo ao estímulo de aprendizagens.

Tendo por base a experiência com que a comunidade escolar lidou em anos letivos anteriores, em torno da temática da “Lagarta do Pinheiro” ou as “Processionária”, em que o fenómeno, ainda que recorrente pelos fatores objetivos da existência de pinheiros no interior do espaço escolar e da zona envolvente, considerando a área de pinhal existente antes do avanço urbanístico da cidade para norte. Este contacto com as lagartas, que, ao contrário de outras comunidades escolares no país, em que chegou a ser motivo de abertura de telejornais e de paragonas na imprensa, nesta escola os alunos foram sensibilizados para tal realidade da natureza e para os cuidados a terem.

Estavam pois criadas condições, para esta comunidade escolar desenvolver e promover uma espécie de laboratório sobre tal tema, e ser uma referência feliz e exemplo de boas práticas na compreensão e monitorização do ciclo de vida da “Lagartas do Pinheiro”. Um projeto que poderia ser sustentado pela nova abordagem curricular sobre “aprendizagens efetivas e significativas”, nomeadamente com as novas áreas disciplinares, “Cidadania e Desenvolvimento”, perspetivadas no referido Despacho da Flexibilidade Curricular experimental.

Com esta ambiguidade de adesão voluntária à implementação do Despacho, este cenário natural para a viabilidade de um tal projeto concreto nesta escola, que poderia ajudar a estimular aprendizagens, e poderia tornar a comunidade escolar numa referência de como lidar com o ciclo de vida da “Processionária”, não deixará de ser, como já era, uma utopia de quem não é docente, mas sente e partilha este exercício de cidadania.

Ficou também a certeza que a sensibilidade para dinamizar e assumir um projeto nesta área em meio escolar não é tarefa fácil, mesmo quando este inseto tem um efeito nocivo, neste caso, no contato com os humanos, podendo causar irritações na pele, nos olhos e no aparelho respiratório ou mesmo, originar graves problemas de saúde pública, devido à ação urticante dos pelos, que provocam alergias.

Ao contrário de se compreender e monitorizar, neste caso com o apoio, colaboração e intervenção de técnicos do Município de Ovar, como vinha sendo feito desde o ano letivo anterior, na procura de preservar o máximo de árvores em condições de serem salvas, o que passou por intervenções como, colocação de fitas adesivas nas árvores afetadas, eliminação de “ninhos”, colocação de recipientes que atraíram as borboletas na fase do ciclo de vida que antecede a sua evolução para lagarta. Descoordenação que pode ter resultado da falta de sequência e de conclusões do trabalho até então realizado, cujos registos concretos da sua evolução se desconhecem.

Acabou por imperar o abate de pinheiros, naturalmente em nome da segurança, mas ficaram as dúvidas sobre os critérios utilizados para um tal abate, mesmo de árvores que estavam sob observação/monitorização dos serviços do Município.

É verdade que ainda há pinheiros no meio escolar e na área envolvente. Há naturalmente condições propícias ao desenvolvimento destes bichos que, eles sim, atacam e fragilizam as árvores. Por isso continuam a ser necessárias medidas preventivas de sensibilização e de caráter pedagógico (como o que foi iniciado no ano letivo anterior) e respetiva monitorização consequente, dando continuidade às medidas
de intervenção que vinham sendo desenvolvidas pelos serviços técnicos do Município, para que o seu trabalho seja coerente e consequente, e resulte em conclusões que ajudem nomeadamente as comunidades escolares a lidarem com segurança e conhecimento com a realidade da “Lagarta do Pinheiro”.

06/09/2017
José Lopes*
Assistente operacional (educação)

*escreve com o novo acordo

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