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“Se alguma vez precisares da minha vida, vem e toma-a”

Victor Hugo Pontes está de regresso ao Centro de Arte de Ovar com o espectáculo “Se alguma vez precisares da minha vida, vem e toma-a”, este sábado, pelas 22 horas.

“A Gaivota”, de Anton Tchékhov, é o ponto de partida para a nova criação de dança de Victor Hugo Pontes. Não se trata de transpor o enredo para o movimento, nem sequer de posicionar as personagens numa linguagem artística distinta do teatro. A dança clássica serve-se de um libreto e este espetáculo de dança serve-se de uma peça. A estrutura dramatúrgica sustenta o movimento, mas a narrativa perderá linearidade, de modo que o espectador veja aqui aquilo que quer ver num Tchékhov dançado. Depois de traçada a narrativa e de encontrados os agentes da ação (personagens, ligações, conflito, clímax, desenlace, etc.), a ideia é despojar a trama, de modo que se torne dançável e em simultâneo reconhecível, chegando-se a uma composição coreográfica que sobreviveu a hipotéticas linhas divergentes entre o teatro e a dança, ou entre texto e movimento sem palavras.

Um texto como ponto de partida é o desafio a que o coreógrafo se propõe. O texto de “A Gaivota” é, também ele, uma espécie de sucessivas tentativas de criação e de existência. De resto, a reflexão sobre o acto criativo é um dos pontos mais fortes desta peça de Tchékhov, e um dos que mais interessa a Victor Hugo Pontes.

Victor Hugo Pontes integrou a equipa criativa do espetáculo “A Gaivota”, com encenação de Nuno Cardoso, assim como das obras “Platónov” e “As Três Irmãs”, também de Tchékhov. O fascínio pelo autor levou-o a encenar “Os Malefícios do Tabaco”. Agora, o objectivo é criar dança a partir de uma das peças mais importantes da contemporaneidade, mesmo que se trate de um texto finissecular. Para Victor Hugo Pontes, alguns dos pontos mais interessantes do teatro de Tchékhov são a composição de enredos a partir de acontecimentos banais, o desenho das personagens enquanto seres humanos comuns e o jogo do ato criativo, numa espécie de teatro-dentro-do-teatro avant la lèttre. O trivial torna-se trágico, a vida comum torna-se criação.

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