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A enguia tem futuro e os pescadores também

O declínio da população de enguia na Ria é um facto, pelo que o Grupo de Acção Costeira da Região de Aveiro (GAC-RA) considerou de toda a premência promover um estudo sobre este recurso natural, intitulado “Enguias na Ria de Aveiro: um ex-libris a preservar: biologia, sanidade e pescas”.

A enguia espalha-se por uma estrutura complexa como a Ria de Aveiro, incluída na Bacia Hidrográfica do Rio Vouga,  povoando toda a extensão da Ria de Aveiro. A enguia-vidro atravessa a laguna em direção às áreas de água doce, a enguia-amarela refugia-se nos ambientes muito propícios para aí crescer e a enguia-prateada aproxima-se da embocadura para se adaptar, de novo, ao ambiente salgado do mar e encetar a sua fuga em direção ao Mar dos Sargaços.

Das conclusões apresentadas neste fim-de-semana, na Murtosa, são apontadas medidas que conduzam ao seu restabelecimento para níveis em que a sobrevivência da espécie não continue ameaçada.

“Controlar o ambiente e a boa condição da enguia é um processo prolongado e caro”, considera o estudo apontando a redução da escala de acção para um curso de água que simula um pequeno rio, como o canal de Mira, onde a espécie é abundante, ou para uma zona de menor dimensão, como uma área de piscicultura, pode trazer vantagens de tempo, na obtenção de resultados a curto prazo, e de custos, tornando o processo menos dispendioso.

“Com um controlo apertado sobre a qualidade do ambiente e da enguia na região delimitada pode obter-se um certificado de fiabilidade em relação a uma enguia saudável”, defende o estudo realizado pelos Departamentos de Biologia e Química, da UA.

A enguia tem futuro e os pescadores podem ter futuro ao lado da enguia. O Grupo de Acção Costeira da Região de Aveiro considera que estão encontradas pistas para “estabelecer conhecimento que proporcione a sua exploração sustentada, ou seja, uma pesca continuada no tempo que não contribua para a extinção da espécie”.

Os dados apurados levam os autores do estudo a recomendar a criação de “uma área piloto de intervenção para a recuperação da população da enguia e da gestão sustentada da sua exploração, através de intervenções a serem desenvolvidas a curto-médio prazo e a médio-longo prazo”.

Com estes passos, admite-se que num horizonte de 5 a 10 anos seja possível obter “resultados mais fiáveis sobre o estado da população e eventualmente o alargamento do aumento de esforço de pesca”.

No capítulo dedicado ao repovoamento, os investigadores defendem que as pisciculturas podem dar “impulso à produção de enguias” onde para além da entrada natural “devem ser introduzidas enguias pigmentadas no início da enguia-amarela”.

O estudo defende também que sejam definidas “zonas privilegiadas para o crescimento natural da enguia”, como a metade sul do canal de Mira, da Vagueira ao Areão, e a parte norte do canal de S. Jacinto, acima da ponte da Varela.

“Estas áreas devem ser repovoadas com, pelo menos, metade da produção de enguia-amarela das pisciculturas. Com esta medida, pretende-se incrementar o stock de enguia nas regiões e melhorar as capturas dos pescadores profissionais licenciados para pescar especialmente nessas zonas. Em relação à enguia-prateada produzida em piscicultura, cerca de 80% deve ser devolvida ao mar para seguir a migração para a reprodução”.

Outras das apostas é o alargamento do plano à Bacia Hidrográfica do Rio Vouga uma vez que a enguia pode aproveitar áreas que não as da ria de Aveiro sugerindo ações “nos obstáculos à migração, na recuperação dos habitats, no controlo das pescas, no repovoamento e nos predadores naturais”.

Para melhorar a qualidade e o controlo da produção, os investigadores dizem que a dispersão dificulta e colocam a criação de áreas específicas e mais restritas como a região do Areão, no canal de Mira, como solução para melhor controlar o processo.

Medidas preventivas

“Muito embora se constate uma tendência ligeira de recuperação do stock de pesca, isto é, a quantidade de enguias disponíveis na Ria de Aveiro para serem pescadas, não sabemos se a propensão positiva verificada é consolidada ou é um fenómeno casual”.

Não tendo certezas sobre a sustentabilidade da recuperação do stock, os investigadores sugerem que, de forma preventiva, “sejam mantidas e fiscalizadas as normas legais em vigor, de restrição da pesca comercial da enguia na Ria de Aveiro”.

No caso da enguia-de-vidro com proibição total da pesca; no caso da enguia-amarela e enguia-prateada limitação do tamanho mínimo de captura dos exemplares para 22 cm. Nas sugestões fala-se em congelar a atribuição de novas licenças para artes destinadas à captura de enguia e manter o período de defeso, entre outubro e dezembro, para permitir a fuga dos reprodutores (enguia-prateada).

O controlo das actividades de pesca é outra das apostas com o preenchimento e entrega de um diário de pesca, com indicação do peso pescado, discriminado por enguia-amarela e enguia-prateada, e a região de incidência da pesca. Este um trabalho dos pescadores.

Nas Lotas com registo diário do peso desembarcado, discriminado por enguia-amarela e enguia-prateada e registo dos compradores comerciantes que adquirem o pescado de enguia.

No caso dos comerciantes de praça, com registo de um diário de abastecimento de enguia, indicando o peso adquirido, discriminado por enguia-amarela e enguia-prateada, e o abastecedor (pescador ou intermediário).

Para restaurantes é exigido o registo de um diário de abastecimento de enguia, com indicação do peso adquirido, discriminado por enguia-amarela e enguia-prateada, e o vendedor que abasteceu.

Quanto à pesca lúdica e desportiva da enguia os investigadores sugerem a “proibição total”.

Conclusão

No resumo, fica a certeza de que a atividade “pode ser atrativa do ponto de vista económico”, tendo em consideração os postos de trabalho que pode criar e o retorno financeiro e turístico para a região.

“Pode constituir uma fonte de reconversão dos pescadores lagunares, que vendo restringidas as suas licenças de pesca e tendo um bom conhecimento empírico sobre a enguia, podem ser uma mais-valia na produção da espécie”.

One Comment

  1. boa tarde
    gostaria de saber se criação de enguias e possível ser feita numa lagoa com agua parada de mais de 1 hectare de supreficie e com a volta de 8 metros de fundo baixando a altura da agua no verão 1 metro 1.50m mas sendo reposta todos os invernos e com descarga de aguas sendo portanto renovada todos os anos.
    que outra qualidade de peixe poderia ser criado? – para fins comercias?
    obrigado
    aguardo , e aguardo um possível esclarecimento

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