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Ilustrador Arlindo Fagundes esteve “À Palavra” na sua terra

Com a sala dos fundadores do Museu de Ovar a reflectir o brilho colorido da luz das obras acabadas de inaugurar da pintora Manuela Mendes da Silva, a mais recente edição do “À Palavra no Museu” teve como convidado o ilustrador Arlindo Terra Fagundes, que nasceu em Ovar a 3 de julho de 1945.

Em dia de evocações do 25 de Abril, a conversa com Arlindo Fagundes trouxe à memória episódios da luta antifascista na qual foi um protagonista activo, como começou por realçar o dinamizador deste evento, Carlos Nuno Granja, que mais do que moderador, quis mesmo aproveitar a oportunidade “quando tenho aqui a meu lado o ilustrador de livros de banda desenhada da minha infância”.

Mostrando vários exemplares da coleção “Uma Aventura”, como parte da obra deste “artista versátil”, que vive em Braga desde 1984, o autor recordou como era a vida na terra em que nasceu e onde passou a infância. Como disse, esse tempo foi vivido, essencialmente, da “linha” para cima, uma vez que “para vir à Vila tinha que ser calçado”.

Para não ir à guerra colonial e consciente das injustiças, Arlindo Fagundes foi a “salto” para França, em 1967, e ainda se ia familiarizando com o exilio, quando viveu o Maio de 68 e aderiu ao PCP. Episódios de luta politica e resistência junto da comunidade portuguesa em Paris, em que a componente cultural e artística, nomeadamente a sua actividade em palco, a fazer teatro, foi a principal “arma” de intervenção até chegar pela rádio a notícia de que algo estava acontecer em Lisboa.

Confirmadas as noticias e trocadas opiniões entre os artistas antifascistas exilados, o regresso ao seu país, finalmente livre da ditadura, foi a decisão colectiva de artistas que influenciariam culturalmente o processo revolucionário que este artista de Ovar veio viver e ajudar a colorir a revolução em Lisboa.
Sempre com serenidade nas palavras, lembrou o 25 de novembro que pôs fim ao seu trabalho que entretanto tinha conseguido na RTP (Porto), como realizador de vários trabalhos que incluíram documentários e outras peças. Uma área artística despertada no exilio e diplomado como realizador de Cinema em 1973, no Conservatoire Libre de Cinéma Français.

Nesta conversa no Museu de Ovar, Arlindo Fagundes, que frequentou o curso de Desenho e Pintura na Escola Superior de Belas – Artes de Lisboa, ia correspondendo pausadamente às curiosidades que o seu percurso de vida despertaram entre os presentes, com natural incidência na arte da ilustração, em que o autor de banda desenhada que marcou várias gerações, admitiu que começou a fazer ilustração em autocolantes, num tempo em que este meio de agitação e propaganda estava na moda para iniciativas partidárias, sindicais, sociais ou outras. Ao mesmo tempo que fazia cartoons na imprensa.

Com um brilho nos olhos respondeu a Carlos Granja, quando este lhe pediu para falar sobre o seu personagem “Pitanga”, que o “barbeiro ao domicílio” é o seu “ícone”, manifestando um particular carinho por esta sua criação de banda desenhada.

Artista multifacetado, Arlindo Fagundes, explorou a sua vocação sobretudo nos trabalhos gráficos, ilustração e escultura, tendo desenvolvido a actividade de ceramista em que criou uma galeria de papudos bonecos, de expressão nacional e regional. Arte em que tem sido distinguido e a que continua a dar asas à imaginação na sua oficina de cerâmica no Prado – Santa Maria, em Vila Verde.

Mais uma vez o “À Palavra no Museu” fez magia, ao oferecer a oportunidade do público conhecer melhor e de forma muito íntima, um artista como Arlindo Fagundes, autor da ilustração da coleção “Uma Aventura”, que tem 45 títulos editados e uma tiragem global que ultrapassa os seis milhões de exemplares ao fim de mais de 20 anos de existência, com textos de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada. Autoras de literatura juvenil para quem este ilustre ovarense também tem ilustrado outros projetos, como a Colecção “Viagens no Tempo”.
Com uma obra verdadeiramente extraordinária, em que evidencia um estilo próprio e um humor muito pessoal, Arlindo Fagundes prefere identificar os seus trabalhos como “testemunhos das vivências de gente comum” ainda que admita que “tudo é política”. Assim se reviveram memórias culturais de Abril numa noite que começou a ser animada musicalmente por temas como, “Mar português” de Fernando Pessoa ou “Não há machado que corte a raiz ao pensamento” através de um trio de músicos sob orientação de Manuel Tavares (da Academia de Música do Orfeão de Ovar).

JL

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