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“A minha mãe diz que eu nasci no meio dos panos do Carnaval”

Abrem logo a boca de espanto quando ouvem a guia Tânia Guimarães dizer que a primeira referência que se conhece do Carnaval de Ovar remonta a 1887. “Uma notícia do jornal “O Ovarense” refere que o Carnaval em Ovar “já não é o que era, tinha perdido espontaneidade, ou seja, esta é uma tradição que vem de muito longe. Na plateia, máquinas fotográficas em punho, estão cerca de três dezenas de alunos da Academia de Saberes de Aveiro que integraram uma das muitas visitas guiadas que a Câmara Municipal de Ovar tem agendadas à Aldeia do Carnaval.

A pouco mais de uma semana da realização dos grandes corsos da cidade, a aldeia fervilha de actividade, com os grupos e as escolas de samba na recta final dos preparativos para os grandes corsos. Cada visita integra uma “espreitadela” a um grupo da categoria de passerelle, um grupo carnavalesco e uma escola de samba.

O grupo de passerelle “Barulhentas” foi o primeiro a acolher os curiosos aveirenses. A fazer as honras da casa esteve Catarina Picado, descendente das fundadoras do grupo que tem quase 40 anos de actividade. “Venho de Lisboa todos os anos para trabalhar no grupo nesta altura do ano”, revelou aos visitantes que logo dispararam uma série de perguntas. “Isto é uma coisa que se sente e não se explica, uma paixão muito grande, pois até tiro férias para vir para cá ajudar”.

“A minha mãe diz que eu nasci no meio dos panos do Carnaval”, confessa Catarina Picado, que não se poupa a esforços: “Faço tudo o que for preciso para o grupo ir bem”.
O tema do grupo no desfile de Carnaval de 2018 é “Las Vegas”, um retrato daquela cidade norte-americana, onde não faltarão referências ao “jogo, ao dinheiro e às ‘girls’”, adiantando Catarina Picado que vai ser “uma explosão na avenida”.
Ao lado, de abre-se a porta do grupo carnavalesco “Hippies” que este ano está a comemorar 50 anos de vida. Bruno Nunes guia os alunos da academia aveirense por entre as peças em espuma já elaboradas, penduradas a secar. Ele conta que o grupo vai desfilar sob o tema “Macaquinhos no Sótão” e que se especializou na construção em esponja e grande parte das suas alegorias são feitas deste material. “As minhas mãos não mentem”, ri-se, enquanto as abre e mostra a tinta de várias cores que lhe pintam os dedos e penetram as unhas. Os visitantes não conseguem perceber nada do que é a ideia dos Hippies para o desfile: “Parece que está atrasado, mas no dia fica tudo pronto”, diz, satisfazendo-lhes a curiosidade.

“Macaquinhos
no sótão”
“Com tantos anos de desfiles, o que fazem a tantos fatos?”, pergunta alguém. Bruno admite que “muito trabalho, muitas coisas são para deitar fora, mas os fatos de costureira, por exemplo, guardam-se no sótão. Tenho tantos que já nem sei onde guardar mais”.
Os Zuzucas, outro grupo da categoria de carnavalesco, são os anfitriões seguintes. Daniela Brito explica que “O Segredo da Vitória” é o tema o grupo vai levar nos grandes corsos: “Gira tudo em torno da moda, dos costureiros e dos manequins”. “Já temos o trabalho bastante adiantado, mas não tanto como gostaríamos”, confessa.

Ao lado, em conversa mais informal com os visitantes, a zuzuca Fátima Fernandes lembra que as actuais condições na aldeia são boas, não esquecendo outros tempos em que “o Carnaval de Ovar era feito nas garagens uns dos outros”.
Faltava entrar numa escola de samba. Foi a Juventude Vareira a abrir as portas. “Já estamos a trabalhar para o Carnaval deste ano há vários meses. Mas agora é de dia e noite”. Lá dentro, os esplendores feitos de plumas de cores garridas ganham forma. Nos tecidos dos fatos aplicam-se milhares de lantejoulas e pedras brilhantes. Duas costureiras trabalham arduamente nos fatos dos mais de 120 elementos que a escola vai levar para a avenida Francisco Sá Carneiro. “Não tirem fotografias porque estes fatos ainda estão no segredo dos deuses”, adverte uma delas, alertando para a rivalidade que existe entre os participantes do Carnaval de Ovar. Aqui, o segredo ainda é a alma do negócio e as fantasias têm que ser surpresa até à última hora.

Tânia Guimarães, guia do serviço de Turismo da Câmara Municipal de Ovar, explica que “antes de haver esta aldeia, os grupos estavam dispersos pelo centro da cidade. Hoje, estão todos juntos e, apesar da rivalidade, há também muita interajuda”.

Adepto confesso do Entrudo, Domingos Cardoso, um dos integrantes da visita, diz que já assistiu ao desfile do Carnaval de Ovar “várias vezes e tinha a curiosidade de ver como é que estas coisas são feitas”. Já fez o mesmo no Carnaval do Rio de Janeiro e “até já estive no Carnaval de Veneza várias vezes”. O que viu permite-lhe concluir que “o Carnaval de Ovar já tem uma estrutura muito grande e um padrão de qualidade muito elevado”. “Já andava há muito tempo com ideia de cá vir, pelo que esta foi uma oportunidade única e foi muito interessante”. Por seu lado, Marieta Duarte considerou que a visita “superou muito as minhas expectativas”. “Achei muito bonito ver a forma entusiasmante como as pessoas vivem esta festa”, concluiu.

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