Adaptação de “Capitães da Areia” para ver no CAO
Onze rapazes e uma rapariga, todos jovens, pobres e excluídos da sociedade, protagonizam a peça “Margem”, que se apresenta no Centro de Arte de Ovar, no próximo dia 11 de Janeiro, às 22 horas.
Victor Hugo Pontes apresenta “Margem” a partir do romance “Capitães da Areia”, escrito por Jorge Amado em 1937, o encenador e coreógrafo Victor Hugo Pontes e a directora do Teatro do Vestido, Joana Craveiro, construíram uma peça sobre “os capitães da areia dos dias de hoje” – “uma peça sobre os pobres que, parafraseando os próprios intérpretes, são como podres”.
Uma palmeira e muitos colchões espalhados pelo chão compõem o cenário daquela família de jovens que dorme num ‘trapiche’ e que se vão protegendo uns aos outros da sociedade que os “centrifugou para as margens”.
A peça surgiu do convite da programadora da Fábrica das Artes do CCB, Madalena Wallenstein, feito a Victor Hugo Pontes, para fazer uma peça do romance de Jorge Amado.
“Oitenta anos depois da publicação do livro, interessa-me sobretudo questionar quem são os novos capitães de areia, inspirando-me na realidade social destas crianças, e consciente de que nem sempre há finais felizes”, explicou o encenador, em nota de imprensa.
Quem são estas pessoas que são colocadas à margem, e quando é que essa marginalização começa? Na casa de partida da vida, temos todos as mesmas hipóteses ou alguns partem para a luta já em défice? Há formas de quebrar isso? Quais? A sério? De certeza? Será realmente admirável o mundo novo que conseguimos construir com todos os nossos ideais de igualdade para todos?
Teatro documental
Numa ideia de teatro documental, este é projecto alicerçado num trabalho junto de jovens que foram privados do ensino, da alimentação, de carinho, de um pai, de uma mãe, jovens que cometeram crimes, jovens que partiram em défice ou que se viram em défice por razões que muitas vezes lhes são alheias.
Duas instituições fizeram parceria nesta peça de dança e teatro – a Casa Pia, em Lisboa e o Instituto Profissional do Terço, no Porto, é aí que estão os “Capitães da Areia”, se não fosse o trabalho que é feito. As muitas perguntas que ficam no ar, para a vida destas crianças que não praticaram nenhum crime, apenas nasceram no lugar errado da margem. Num espectáculo que é de dança, mas também de teatro, Victor Hugo Pontes pediu ajuda a Joana Craveiro, que escreveu o texto a partir dos relatos de jovens das duas instituições, Casa Pia e Instituto do Terço, para um espetáculo que tem dança e palavras e palavras duras, a fazer doer.
Música composta para este espectáculo, Margem, de Marco Castro e Igor Domingues (Throes + The Shine), o lado urbano, com todas as perguntas que o livro já fazia há oitenta anos mas parece que foram feitas ainda ontem à tarde, a margem continua cá.