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Agricultores exigem apoio do Governo para não fecharem explorações

Muitos agricultores do concelho de Ovar estão em dificuldades para manter as suas explorações em tempo de pandemia. Esta quarta-feira, António Valente, produtor de leite, do lugar da Marinha, queixou-se do aumento do preço da ração para os animais que subiu dez Euros por tonelada, desde novembro, enquanto que o leite pago ao produtor mantém-se há mais de dez anos”. “O combustível sobe todas as semanas, as exigências do bem-estar animal obriga-nos a investimentos avultados com dinheiro que não temos”, lamentou o agricultor vareiro que tem uma exploração no lugar da Marinha, com cerca de uma centena de bovinos na produção de leite e carne.

“Conheço explorações de amigos que já fecharam e outros que vão fechar”, alertou, avisando que “está muito mau porque não há escoamento de carne com os restaurantes fechados. Ninguém nos tira os animais apesar de estarmos a vender abaixo do preço de custo”, sublinhou durante uma conferência de imprensa da UABDA – União de Agricultores e Baldios do Distrito de Aveiro, que decorreu em Válega.

No leite, o produtor revelou que “a Proleite não escoa o leite e já há quem procure outras empresas”. Até há pouco tempo, pagava-se a qualidade através da contagem celular e bacteriológica e “se tivéssemos qualidade atribuíam-nos pontos”. António Valente diz que “tinha excelente qualidade mas agora tiraram-nos os pontos de bónus mas se não cumprirmos os requisitos da qualidade, castigam-nos. A mim já cortaram cerca de 70 cêntimos por litro. Assim, é preferível fechar”, repete.

Na região de Aveiro, no último ano, fecharam cerca de 30 explorações. Só nas últimas semanas, dois criadores de raça arouquesa “fecharam portas porque não conseguem competir com os preços cada vez mais baixos da carne importada” e vários produtores de leite de Aveiro, “que já antes andavam mal, agora estão a vender o litro abaixo do preço de custo”, sustentou Carlos Alves, presidente da UABDA.

Face ao fecho de restaurantes e da hotelaria, às restrições quanto a feiras e mercados, e à inibição geral do consumo devido à crescente fragilidade financeira das famílias, Carlos Alves diz que a situação é “massacrante, sobretudo quando os produtores vêem o mercado a ser invadido por produtos estrangeiros, muitas vezes de qualidade inferior, mas a preços mais baixos”, com os quais não conseguem competir. António Valente diz que, esta semana, andou à procura de carne nacional nos hipermercados e não encontrou, “o que é incompreensível quando sabemos que há dificuldades no escoamento dessa carne no produtor”.

O presidente da UABDA defende, por isso, que o Estado “tem que acordar para a vergonha que é um país importar 60% a 70% da sua alimentação” e passar a valorizar a produção agrícola, leiteira e pecuária nacional, com estratégias concretas que, por um lado, permitam aos produtores “viver com dignidade” e, por outro, garantam “a sobrevivência das famílias portuguesas e a qualidade do que lhes chega à mesa”.
Na sessão que decorreu no auditório da junta valeguense, o dirigente defendeu que “a solução passa por distribuir pelo sector parte das verbas do Fundo de Recuperação da União Europeia, embora Carlos Alves não esteja optimista quanto à eficácia da respectiva programação financeira, mesmo que as verbas a atribuir à agricultura sejam “num montante mais razoável”.

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