Saúde

Aumentos das temperaturas vão ‘assar’ a Península Ibérica

As temperaturas da Península Ibérica vão aumentar de forma “muito preocupante” durante
este século. O alerta é de um estudo da Universidade de Aveiro (UA) que prevê até 2100
aumentos da temperatura média de 2 a 3 graus ao longo de todo o ano, o suficiente para
causar graves impactos no meio ambiente e, por consequência, na saúde pública. Em
Portugal há mesmo regiões que poderão registar aumentos de 4 a 5 graus centígrados nas
máximas diárias.

“As implicações poderão ser enormes”, alerta o investigador David Carvalho. Com base nos
aumentos de temperatura detetados no estudo que coordenou, o cientista do Centro de
Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) da UA antevê que “o número de dias por ano com
temperaturas máximas acima dos 40 graus centígrados poderão aumentar até cerca de 50
dias por ano no final deste século”.

Ou seja, sublinha, “daqui a algumas décadas poderemos ter 3 meses por ano onde as
temperaturas máximas diárias são acima de 40 ºC, se bem que esta tendência é mais
predominante no centro-sul de Espanha e não tanto para Portugal”. Aumentos que, a
acontecerem, “trarão de certeza consequências significativas para a saúde humana, mas
principalmente para o meio ambiente e em áreas como a agricultura, os fogos florestais, a
desertificação ou a seca”.

Subida dos termómetros em todas as linhas
Publicado na revista Climate Dynamics, o estudo assinado pelos investigadores do CESAM
David Carvalho, Susana Cardoso Pereira e Alfredo Rocha projetou e analisou as
temperaturas de superfície na Península Ibérica para dois períodos futuros, o primeiro de
2046 a 2065 e o outro de 2081 a 2100.
Os resultados apontam para aumentos da temperatura diária, não só da média como
também da máxima e da mínima, para praticamente todo o território da Península Ibérica.
As temperaturas máximas diárias aumentarão mais do que as médias e as mínimas serão as
que aumentarão menos.

No entanto, existe uma grande variação espacial nestes aumentos de temperatura: para
Portugal os aumentos andarão à volta dos 1,5-2 graus centígrados para o período 2046-2065
e de 2-3 graus centígrados para 2081-2100 em termos de temperatura média diária. No caso
da temperatura máxima, o aumento poderá chegar aos 4-5 graus centígrados no final do
século.

As zonas projetadas para terem maiores aumentos de temperatura são as zonas centro e sul
de Espanha, onde poderão ultrapassar os 5 graus centígrados em termos de temperaturas
médias diárias.
Os resultados das projeções “são, sem dúvida, muito preocupantes”, alerta David Carvalho,
coordenador do estudo e investigador do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar da UA. O
cientista explica a preocupação com os resultados: “Aumentos de cerca de 2-3 graus
centígrados em termos de temperaturas médias, máximas e mínimas são suficientes para
causar impactos em áreas vitais como agricultura, fogos florestais, seca, desertificação e
respetivos impactos na saúde e bem-estar das pessoas”.

“Quando os dados mostram aumentos de 5-6 graus centígrados em algumas zonas de
Espanha e entre 1.5-3 graus centígrados para a maioria das zonas da Península Ibérica, isso é
sem dúvida motivo de preocupação”, refere o investigador.
E como se já não bastasse, David Carvalho sublinha ainda a “unanimidade quase total nos
dados de clima futuro no que diz respeito ao aumento generalizado de temperatura na
Península Ibérica, em todas as estações do ano, zonas geográficas e tipo de temperaturas”,
sejam elas médias, máximas e mínimas.

É urgente reduzir a emissão de gases
A emissão para a atmosfera de grandes quantidades de gases com efeito de estufa, como é
o caso do dióxido de carbono e do metano, refere o cientista do CESAM, “são as principais
causas para o aumento de temperatura que estamos já a assistir, e que serão amplificadas
nas próximas décadas”.

As soluções para contrariar as subidas do termómetro são já conhecidas, mas David
Carvalho sublinha-as mais uma vez: “apostar fortemente numa descarbonização do modelo
socioeconómico em que vivemos, ou seja, usar meios de produção de energia que não
impliquem a emissão de dióxido de carbono para a atmosfera, apostar também num uso
mais eficiente dos nossos recursos energéticos e evitar a necessidade de produção de tantos
bens de consumo”.
“O único caminho a seguir será gastar menos energia e recursos e ao mesmo tempo gerar a
energia de que necessitámos sem emissão de gases com efeito de estufa”, resume David
Carvalho.

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