Covid-19

Isso é que não!

É horrível, é triste, é assustador, é devastador. O mar não nos pode fazer coisas destas.

Estive para fora, em trabalho, no final de semana, quando um colega, sem ligações a Ovar, me avisou do que se passara, já domingo à tarde. Ávido, pesquisei no telefone imagens que me comprovassem que ele exagerava, que não podia ser a destruição que ele descrevia. Mas não, ele estava coberto de razão. As fotos eram arrasadoras, as imagens em vídeo petrificantes, as legendas e comentários eram pontas de vidro afiadas a cortarem o coração.

Qualquer tragédia é de nos agonizar, mas duas, três, quatro, todas no mesmo inverno, com diferentes intensidades, com diferentes estragos, mas cada vez mais consternadoras, é penitência que ninguém merece.  No primeiro texto que escrevi, sobre o assunto, alguns diziam que a culpa é de quem construiu numa margem que haveria de ser do mar, portanto, os que se arriscaram, agora que paguem a factura, mas nem me apetece alongar esse assunto.

Digo, antes, que se for verdade que o fizeram, não é menos verdade que o fizeram com permissões legais de quem lucrou com isso. E, então, isso deixa as pessoas prejudicadas, com negócios abalroados, destruídos, sem ganha pão, ou dos moradores, com as casas alagadas, as fachadas desfiguradas e os carros arremessados, como os principais e únicos culpados? O raio que vos parta, maldizentes costumeiros.
Obviamente, existiram erros ao longo dos anos na gestão da costa, como existiram nas finanças, nos recursos humanos, no ensino, na saúde e até na administração familiar de tantos e tantos que agora dizem que as pessoas prejudicadas colhem  o que semearem.

Se elas erraram, o erro foi arriscar a mover a economia. Por cada casa construída, por cada negócio aberto, existiu um estado a lucrar impostos, existiram famílias a serem alimentadas por empregos e existiram vocês, os maldizentes, a tomarem o refresco ou cafezinho junto ao mar, antes  de descerem para a praia. É muito bonito atacar os que já estão vulneráveis, mas é ainda mais bonito gozar e invejar, quando eles estão a ter o reconhecimento do seu trabalho. Tristes pessoas, vocês.

Apontar as culpas a esta autarquia vigente é despropositado, tendo em conta o tempo que tem de governação, apontar à anterior também me parece pouco, estimando que os problemas existentes não se podem controlar com verbas  locais, por isso, gostaria de dizer que em vez de gastarmos energias, com bacocas inteligências, a atirar culpas a pessoas que estão a sofrer como ninguém, ou a tentar encontra bodes expiatórios, deveríamos saber, sim, que quem pode fazer algo por nós é o Governo, mesmo a União Europeia, que se nos tira peixes para dar aos Espanhóis, e que, por isso, ao menos, nos deveria dar praia para trazer cá turistas.

Temo pelo rumo que isto levará. Obviamente, os ânimos nas cortes de Lisboa vão abrandar logo que os telejornais desfoquem a atenção para outros assuntos e é nesse momento que necessitamos de alertar que os problemas não acabaram. Que se entupam as redacções de televisões e jornais e revistas, com depoimentos dos visados, com fotos dos estragos, com vídeos das desgraças, com o antes  e o depois, com a deterioração de décadas, com pessoas na rua. Isto não pode ficar assim.
 
E quanto às obras, que até acredito possam aparecer, penso que devemos estar todos  atentos. Infelizmente, vivemos num país de vénias, de populismos, assim desafios todos os que melhor percebem o fenómeno do mar a irem espreitar quando essas obras começarem. Não basta que nos venham dar palmadinhas nas costas com retroescavadoras que tapem a desgraça deste ano, para anunciarem ao país que se moveram. É preciso que se avance para obras sérias, pensadas, ajuizadas, que tornem possível uma convivência sã de uma população piscatória com o mar. São casas que se perdem, negócios que se desgraçam, famílias que se desmoronam. Isto não é uma brincadeira política, de bandeiras de campanha. Se for necessário que o Verão se passe com obras, sérias e dedicadas, que assim seja.

Agora, não me venham é para aqui com capacetes de engenheiros a acenar às ópticas dos canais generalistas, ou correm o risco de a onda não ser salgada, ser de pessoas desacreditadas de vocês, com palavras de ordem que usarão do vitupério.

Ricardo Alves Lopes (Ral)
http://tempestadideias.wordpress.com
[email protected]

Foto: Estela Silva (Lusa)

 

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