Opinião

Bem-estar em Linha – Por Eduardo Pereira

1.

A Ferrovia, como qualquer meio de ligação e transporte constitui um importante factor de desenvolvimento e progresso, com as inegáveis vantagens que hoje se podem enunciar em termos de sustentabilidade
economica e ambiental.

Também como qualquer outro meio de ligação equiparável, estabelece relações entre pontos (localidades, regiões,…) que podem gerar assimetrias entre esses diferentes locais, dependendo das oportunidades que forem geradas e aproveitadas a partir desses mesmos pontos.
O planeamento e a preparação que se fizer para acolher as soluções de melhoria da Ferrovia, podem ajudar a antecipar a resolução dos problemas e a maximizar a rentabilização das oportunidades.

Contudo, na perspectiva da saúde e bem-estar, à luz do complexo processo social e de economia global em que vivemos, a Ferrovia por si só não satisfaz as necessidades já identificadas de mobilidade como um todo. Acrescenta desafios e potencialidades para o desenvolvimento do território sustentável.

2.
E o que é isto de território sustentável? Vale o mesmo para cada um de nós?
Responde aos problemas dos mais jovens? dos que trabalham e que precisam de se deslocar? dos mais idosos que deviam poder continuar a viver e a participar condignamente na comunidade, com acesso à cultura, à saúde, aos equipamentos de bem estar? Com acesso aos arruamentos em segurança? aos problemas de falta de habitação? Aos problemas da falta de mão-de-obra?
São as questões que precisam de ser resolvidas.

É hoje amplamente conhecido que Portugal é um dos países mais envelhecidos do mundo.
Esta realidade, implica que se olhe para o presente com outro olhar. O olhar que integra e protege os seus idosos.
É preciso mudar as cidades para densificar essa ideia. Podemos começar pela Ferrovia, mas sem estações intermodais que levem as pessoas ou os produtos aonde precisam de chegar, pouco relevância tem. O processo deve ser transversal. É preciso acolher e integrar novas formas de deslocação e transporte, trotinetas, carrinhos para seniores, bicicletas, autocarros mais pequenos, menos poluentes e com plataformas de acesso a pessoas com mobilidade condicionada, ligações às cidades ou pontos de interesse na circunvizinhaça, como os hospitais, os espaços culturais e de lazer, os espaços de trabalho, os espaços do desporto.

Devíamos começar pelos arruamentos, pelas mudanças nos espaços pedonais e de circulação mista, por forma a trasmitirmos segurança e conforto a quem os percorre, por forma a habilitarmos a nossa população mais idosa a utilizar a pretendida Ferrovia.

A Câmara Municipal de Aveiro, pretende apresentar uma candidatura a Capital Europeia da Cultura 2027. Os responsáveis por essa candidatura escolheram também ouvir representantes de Universidades Seniores por considerarem um aspecto relevante desse projecto. Bem hajam por assim pensarem. Não esqueceram a população mais idosa, não esqueceram a população como um todo.

Contudo, importa acautelar que essa participação assegure resultados e que não sirva apenas um propósito teórico e de indicadores qualitativos dessa candidatura.
Em algumas cidades tem vindo a ser feita uma reconversão no espaço público de forma a tornar esse espaço mais amigável de utilização pedonal, sem prejuízo da utilização esporádica de viaturas ou do acesso condicionado para moradores. São iniciativas que tornam mais atractivos os territórios e que são menos discriminatórias na fruição. Temos muitos e bons exemplos na vizinha Espanha.

Também no golfo da Biscaia temos, há vários anos, passadeiras rolantes incorporadas nos passeios, de longa dimensão, para apoiar pessoas com mais dificuldades de locomoção, a ultrapassar declives ligeiros.
Ao processo de envelhecimento activo, hoje chamamos envelhecimento saudável. Daqui a pouco tempo iremos chamar outra coisa qualquer. Mas o resultado será muito pouco diferente enquanto pensarmos mais nos nomes do que nos resultados.

Portugal tem uma esperança média de vida muito próxima dos países nórdicos. Mas o que não
temos é a mesma qualidade vida que se encontra diminuida em cerca de 10 anos nesse referencial.

3.
Em Ovar tem vindo a ser desenvolvido pela Misericórdia, um relevante trabalho da área do apoio a pessoas com doenças neuro-degenerativas não severas. Existem projectos, já licenciados, que pretendem ajudar a resolver alguns desses problemas. Estas doenças não são apenas do doente, mas da familia com quem vive.
Temos também que cuidar de quem cuida e atribuir competência no cuidar. Mais do que criar edificios, importa criar centros de competências que apoiem e disseminem as boas práticas. É também esse o propósito.
Com as condições morfológicas do território de Ovar, e resolvendo questões de mobilidade e acessibilidade, poderiamos considerar um projecto global de excelência, gerador de atractibilidade.

Também a reorganização dos espaços habitacionais merece ser reavaliada, quer pela forma como devemos preparar o futuro, quer pela dificuldade em fazer alterações no edificado que permitam a prestação de cuidados em ambiente domiciliário.

A oportunidade que temos de melhoria da Ferrovia, pode ser o catalizador que precisamos para que tudo mais se propicie. Vamos trabalhar para isso.

Texto da responsabilidade de (*) Eduardo Pereira; Adm. SCMO; membro PLATAFORMAcidades; grupo de reflexão cívica

Veja outros textos desta série no Blogue Plataforma Cidades; Contacte [email protected]

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