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Casal vive numa barraca no meio dos ratos

Alzira telefonou, recentemente, para a Cruz Vermelha a pedir ajuda: “Os ratos roeram-me as únicas calças que tenho em condições de sair”. A Associação Estrelinhas Sorridentes pôs-se em campo e comprou-lhe umas calças novas, mas o problema da habitação permanece: Alzira e o companheiro António Gomes Sá vivem num barraca perto do Mercado Municipal de Ovar.

Estiveram vários meses no parque de campismo do Furadouro a expensas da Cruz Vermelha e, sem outra solução, estão agora a viver em dois exíguos barracos instalados num terreno junto ao Cruzeiro das Luzes, em Ovar.

Estes casos estão sob alçada da Cruz Vermelha que avalia em contínuo a situação mas a solução é difícil. “Em Ovar, não há mercado de arrendamento e o que há obriga a fiador, o que para estas famílias é impossível e, ao contrário do que sucede pelas redondezas, não há soluções de emergência em Ovar”, explica Susana Guerreiro, da Delegação da Cruz Vermelha ovarense.

Para piorar o cenário, a saúde de Alzira inspira cuidados. Recentemente, esteve internada no hospital porque é diabética e não consegue ter um frigorifico para acondicionar os medicamentos de que precisa. Arrisca-se a voltar a ser internada a qualquer momento se não os tomar devidamente. Tem dias que consegue quem lhe guarde os remédios num frigorífico, mas não é sempre.

Alzira Maria Machado, 55 anos, e António Gomes Sá, de 49, vivem lado a lado com ratos e sarjetas a céu aberto, uma realidade que muitos pensam ter sido erradicada em Ovar. Mas não. Existe ali no centro da urbe, ao lado de um dos hotéis da cidade. Clemente Gomes Sá, irmão de António, também ali vive.

“Já pedi a toda a gente, já fui à câmara e à junta, a Cruz Vermelha já me arranjou mas não conseguiram mais”, conta António. “Ela esteve um mês no hospital porque precisa de insulina que tem de estar no frigorifico e não temos aqui por não termos luz”, conta António, acrescentando que “no hospital não lhe queriam dar alta por causa disso e arranjaram-nos uma pessoa para meter os medicamentos no frigorifico que depois alguém vai buscar para lhe dar, porque o calor aqui é tanto que não dá”.

“Estamos muito apreensivos devido à situação médica da senhora”, repete Susana Guerreiro, técnica da Cruz Vermelha de Ovar.

Alzira conta que cozinha “cá fora e fazemos as necessidades ali na terra”. “Estamos aqui há mais de dez meses e até passamos aqui o último inverno”. As condições de higiene são sub-humanas. Não há electricidade e não existe onde proteger alimentos. “Andam aqui tantos ratos que, além de nos roerem a roupa, comerem a comida que nos trazem, até os pacotes do leite aparecem roídos durante a noite”.

Alzira mostra-nos a casa, pois a porta está sempre aberta. Vê-se que há arrumação e brio, mas isso não disfarça um problema social grave e ela sente-me mesmo mal por viver nestas tristes condições. O frio do Inverno foi difícil, mas o calor, o pó, os insectos e os maus cheiros do verão revelam-se um inferno.

Mas pouco depois de termos estado com eles, António encontrou trabalho, o que vai ajudar à economia do casal que vivia dos parcos 320 euros que recebia do Rendimento Social de Inserção e da ajuda alimentar das “Mãos Solidárias”. Uma luz de esperança que se reforçou para Alzira e António, por acção de gente anónima que não se conforma e teve sucesso na sua busca incessante para ajudar. “Há uma forte possibilidade de se mudarem para uns anexos que têm todas as comodidades, como electricidade, água, TV, electrodomésticos, etc”, confirma a vereadora do Desenvolvimento Social da Câmara Municipal de Ovar, Ana Cunha.

“É um bom desenvolvimento neste caso, só possível com o trabalho em rede de várias entidades e pessoas. Vamos ver se corre tudo bem. Esta semana pode ser decisiva”, antecipa a autarca que também anuncia a inscrição do casal nas listas do Município para a Habitação Social.

LV

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