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Imóveis da Família Soares Pinto reabilitados pela Misericórdia

O último doente com Covid19 foi reportado na Santa Casa da Misericórida de Ovar há mais de um ano. Foi a 3 de junho do ano passado que a instituição registou o último utente infectado, e depois de 12 mortes que abalaram a casa, os testes têm dado sempre resultado negativo.

Foram tomadas medidas. Mudaram os hábitos no interior do lar e o edifício com 110 anos fechou-se ao exterior como todos os outros do país. Três salas do centro de dia  foram transformadas em quartos para os infectados pelo vírus. Os quartos duplos ficaram individuais, o refeitório fechou, as refeições eram servidas nos quartos. As visitas foram suspensas, os telefonemas eram atendidos por duas assistentes sociais. Os quartos do rés-do-chão ficaram quartos de isolamento e ainda assim estão. O trajecto dos funcionários alterou-se para evitar cruzamentos.

Álvaro Silva, provedor da Misericórdia de Ovar, mantém os 54 idosos sob vigilância como mandam as novas regras. “Estamos confiantes de que nada mais grave vai passar-se porque fazemos testes a utentes e funcionários e temos essa situação quase afastada”, explica. Por vezes, lá surge um caso no infantário, mas “tem estado tudo calmo, apesar de estarmos preparados para tudo, prudentes e atentos”, garante.

A instituição ovarense não vive dias fáceis, mas a vida está, lentamente, a retomar o seu curso normal. No passado dia 25, inaugurou o edifício Pátio da Ribas, um investimento avultado a pensar no futuro. “Não tem directamente a ver com os serviços que temos, mas tem indirectamente, no âmbito da restruturação do património que a Misericórdia foi recebendo ao longo de dezenas de anos”, revela Álvaro Silva, Provedor desde 2017.

O lagado da Família Soares Pinto

Ao longo da sua existência centenária, a Santa Casa da Misericórdia tem recebido legados muito importantes, com destaque para o da Família Soares Pinto – dá nome ao largo central da cidade de Ovar, onde se encontra o chafariz do Neptuno.

Na década de 1950, morreram os últimos membros da família benemérita vareira que legou os seus bens à Misericórdia, incluindo dois imóveis, localizados na Rua Alexandra Sá Pinto e na Rua Jaime Cortesão.

O da Rua Alexandre Sá Pinto, onde esteve instalada a cooperativa do F Ramada, era o celeiro da família. Ali se armazenava o milho que recolhia das terras que possuía. Edifício alto e marcante, a sua construção foi feita muito à base de madeiras. O outro também possuía muita madeira, tectos trabalhados de gesso, era residencial e de traça muito interessante.

A recuperação dos dois imóveis orçou em cerca de um milhão de Euros, num projecto apelidado de “Pátio da Ribas”, já inaugurado e cujos apartamentos criados estão prontos a arrendar. “Podia ter sido mais barato, mas não ficava tão bem. Esta obra tem um significado importante”, sublinhou o Provedor Álvaro Silva.

“O edifício residencial da Rua Jaime Cortesão ficou bastante bem e o outro manteve a cor salmão original”, avalia Álvaro Silva. “Nota-se bem a cor do prédio que não passa despercebido”. “Estes dois prédios estavam devolutos há dezenas de anos e, embora não estivessem a ameaçar ruína, precisavam de intervenção”, recorda o Provedor.

Deve dizer-se que Ovar precisava de mais reabilitação privada. “Vê-se a acontecer em algumas casas pequenas, mas a responsabilidade levou-nos a avançar num grande projecto de reabilitação urbana no casco antigo de Ovar – podíamos pôr tudo abaixo e construir de novo, mas optamos por esta via”.

E a Misericórdia de Ovar resolveu reabilitar, “porque achamos que devemos participar na reabilitação do centro histórico vareiro, dando o exemplo e estamos muito contentes”. As obras correram bem (apenas interrompidas no primeiro confinamento) e o empreendimento, baptizado com o nome do pátio que liga os dois prédios. Conta com sete apartamentos de um lado e quatro no outro das tipologias T0, T1, T2 e T2+1. Álvaro Silva elogia o trabalho do arquitecto Jaime Eusébio que “teve um trabalho notável porque conseguiu preservar todas as características dos imóveis”.

O valor da reabilitação, um milhão de Euros, saiu dos cofres da Misericórdia. “Os apoios que existem para este tipo de projecto não são em dinheiro”, explica. Por se encontrar integrado na Área de Reabilitação Urbana do Centro Histórico de Ovar (ARUCHO) pôde beneficiar de incentivos, “como sucede em qualquer cidade, como por exemplo ter o IVA a 6%, o que é bom”.

Embora existam alguns incentivos, o projecto “é único no que à reabilitação privada diz respeito”, uma vez que escasseiam as obras de recuperação desta envergadura. “Não houve apoio nenhum em especial para este projecto”, frisa, adiantando que, para a obra, pediu dinheiro emprestado ao Instrumento Financeiro para a Reabilitação e Revitalização Urbanas (IFRRU), mas teremos de o pagar ao Banco ABANCA (Antigo NovaGalicia), que também financiou a construção da Casa de S. Thome cujo empréstimo se encontra na sua fase final de pagamento.

Depois de devidamento licenciados, os apartamentos irão para o mercado do arrendamento. “Estamos a pensar no futuro e, por isso, vamos tirar rendimento deles nos anos que se seguem”, revela.

A estratégia passa por este modelo, desvenda Álvaro Silva. “A Misericórdia de Ovar tem recuperado o que pode para retirar algum rendimento e o que não é passivel de rentabilizar, tentamos vender”. Só assim a Santa Casa ovarense consegue equilibrar as contas. “A procura pelos nossos serviços mantém-se forte, mesmo com as dificuldades crescentes das famílias, mas a sustentabilidade financeira das instituições está muito complicada”, alerta o Provedor, realçando que as que “não têm património ficaram pior com a pandemia”. “Muitas IPSS’s já fecharam no distrito”, diz, apontando que, “em São João da Madeira, a Misericórdia teve de ficar com duas IPSS’s que estavam em risco”. “Em Ovar ainda não fomos confrontados com essa situação, mas também são várias as IPSS’s que estão em dificuldades”, sublinha Álvaro Silva.

Os custos do Covid19

A pandemia da Covid19 trouxe um acréscimo quase insuportável de custos “que não foram de forma nenhuma compensados”, refere. No caso, a Misericórdia de Ovar contabiliza cerca de 100 mil Euros de gastos em EPI’s durante 2020 (em apenas dez meses) e o Provedor diz que “tivemos muitos donativos em espécie de câmara municipal, empresas e particulares”.

Este ano, os EPI’s não custaram tanto dinheiro, já que os preços baixaram, “mas não o suficiente, porque só no primeiro semestre de 2021, já gastamos 50 mil Euros”. “Vamos consumir quase o mesmo do ano passado, com a agravante dos donativos estarem perto do zero”, alerta.
“As dificuldades são muitas”, repete o responsável, atentando que “quem não tiver uma estrutura profissional que, à excepção do Provedor e dos órgãos sociais, caracteriza a Misericórdia vareira, “formada e sabedora, ainda mais dificil se torna”.

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