Cultura

Classificada quinta em Mosteirô mencionada por Eça de Queiroz

A Quinta da Murtosa, que se situa no concelho de Santa Maria da Feira e é mencionada pelo escritor Eça de Queiroz (1845-1900) no romance “A ilustre casa de Ramires”, foi classificada como Monumento de Interesse Público.

A decisão relativa a essa propriedade, conhecida também como Quinta Sousa Brandão – consta de uma portaria ontem publicada em Diário da República, assinada em 08 de outubro pela secretária de Estado Adjunta e do Património Cultural, Ângela Carvalho Ferreira.

“A classificação da Quinta da Murtosa reflete os critérios constantes do artigo 17.º da Lei n.º 107/2001, de 8 de setembro, relativos ao caráter matricial do bem, ao seu interesse como testemunho notável de vivências ou factos históricos, ao seu valor estético, técnico e material intrínseco, à sua conceção arquitetónica, urbanística e paisagística, à sua extensão e ao que nela se reflete do ponto de vista da memória coletiva”, refere o documento.

Embora com “origens medievais”, essa propriedade do Lugar da Murtosa, na freguesia de Mosteirô, viu o seu edificado principal construído em 1780 e foi posteriormente ampliada.

Segundo a Câmara Municipal da Feira, não é possível identificar com precisão quem encomendou a obra, mas a residência principal exibe no portal da capela um brasão da família Correia e, no interior, a casa preserva “a integridade dos ambientes originais, constituídos entre os finais de Setecentos e as primeiras décadas do século XX”.

O mesmo acontece na capela contígua, à qual a secretária de Estado do Património Cultural atribui “pinturas de grande qualidade artística”.

A residência está disposta ao longo de um troço de calçada da Via Antiga de Mosteirô, que em tempos cruzava os terrenos da quinta e agora, como refere a portaria, está “amputada de uma boa parte do seu território primitivo”.

A área que subsiste mantém-se, contudo, cercada por muros altos “rasgados por portais de aparato” e, além do núcleo habitacional e das “alminhas”, integra ainda “jardins com um lago e um tanque, terrenos de cultivo e uma vasta zona de mata com exemplares de grande porte”.

Tanto a Secretaria de Estado como a Câmara Municipal reconhecem a ligação da quinta a Eça de Queiroz, que lhe fez referência em “A Ilustre Casa de Ramirez”, romance realista que, originalmente publicado em 1900, integra a terceira fase de produção literária do escritor português.

É desse livro a seguinte passagem: “Todo esse Verão, como o Barrolo decidira fazer obras consideráveis no velho palacete do Largo de El-Rei, o passaram na Quinta da Murtosa, que ela escolhera por causa da linda mata, dos altos muros do convento”.

A portaria acrescenta que a propriedade “assistiu a diversos episódios históricos, tendo servido de refúgio a elementos das tropas liberais nos anos 30 do século XIX”.

De acordo com a publicação, a quinta possui “evidente valor histórico, arquitetónico e paisagístico”, até “pelo grau de autenticidade que conserva, apesar de se situar, hoje em dia, na proximidade do núcleo industrializado de Santa Maria da Feira – ainda de matriz rural, mas, infelizmente, bastante descaracterizado”.

Destaca-se ainda o “significativo conjunto de árvores e arbustos notáveis” resguardados pelos altos muros de pedra da propriedade. “A Quinta da Murtosa integrou a Rota das Árvores Senhoriais de Santa Maria da Feira, uma iniciativa da Câmara Municipal no âmbito do FUTURO – Projeto das 100.000 Árvores na Área Metropolitana do Porto”, lê-se.

Plátanos, árvores-do-incenso, carvalhos, tuias, ulmeiros e eucaliptos de grande porte são algumas das espécies que “embelezam os caminhos que, desde o portão de entrada, conduzem à casa senhorial”. Na envolvente há ainda “monumentais sequoias, magnólias-de-flores grandes, murtas e um singular tulipeiro-da-Virgínia, classificado [pela Autoridade Florestal Nacional como Árvore de Interesse Público] e, possivelmente, com mais de 150 anos de idade”. (Lusa)

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