Conjunto de Oliveira Muge recordado em dois novos livros
Durante o primeiro semestre de 2014 foram editadas duas obras que inserem o Conjunto de Oliveira Muge naquele que terá sido um dos primeiros movimentos juvenis ligados à cultura popular com forte expressão musical: “Biografia do Ié-Ié”, de Luís Pinheiro de Almeida e “Portugal Eléctrico” da Groovie Records.
Luís Pinheiro de Almeida é um jornalista e investigador português a quem se deve duas obras relativas a esta época: os “Beatles em Portugal” e a co-autoria da “Enciclopédia da Música Ligeira Portuguesa”.
Segundo Rafael Amorim, autor da biografia publicada em 2012 pela Junta de Freguesia de Ovar, “Para Longe é Perto Daqui”, no âmbito de uma homenagem efectuada por aquela autarquia aos diversos integrantes do conjunto, a obra em apreço, “Biografia do Ié-Ié”, traça o perfil de um movimento musical que durou cerca de uma década em Portugal com influência nas províncias ultramarinas. “A biografia constante nesse livro foi feita por Carlos Santos, amigo de António Policarpo Costa e José de Oliveira Muge, também ele um ex-músico de moçambique, que, de forma sumária, toca nos principais tópicos da vida do conjunto e baseou na recolha efectuada entre 2009/2010 e em depoimentos dos nossos músicos.”
“Portugal Eléctrico” é uma obra de 160 páginas que é o resultado da vontade, há muito expressa, da Groovie Records, em conseguir efectuar “uma recolha exaustiva de todo o acervo de vinil publicado entre os anos 50 e a “ressaca” do boom do rock português no início dos 80 que penso ter sido bem conseguida”.
O interesse no Conjunto Oliveira Muge demonstrado no cinema por Miguel Gomes, na sua incursão na história musical por alguns investigadores e, em particular, pelos coleccionadores pode sustentar-se em diversos factores.
Para Rafael Amorim, “não foi apenas a vida em Moçambique ou a música Mãe que justificam o interesse no Conjunto de Oliveira Muge. É certo que estes dois factores traduzem, quase na perfeição, um modo de vida que ficou cristalizado no tempo mas o Conjunto foi mais do que isso. Penso que poucas foram as formações nacionais que, começando em finais da década de cinquenta do seculo passado, conseguiram manter-se unidos até 2010 e, ainda hoje, tocar no coração de muita gente”. “Estamos a falar de uma formação que, tendo começado com um Conjunto de baile do tipo de Marino Marini ou Renato Carosone, cantou em francês, italiano, inglês, gravou temas com estilos completamente dispares, tentou a internacionalização sem nenhum tipo de rede, gravou, ainda que em italiano, um dos temas chave do psicadelismo norte-americano “I had a Dream Last Night” dos Electric Prunes e manteve sempre um fio condutor até ao fim, eram amigos que, juntos, gostavam de tocar música.”
Há sempre histórias para contar, segredos que ficam perdidos no tempo e a esperança de se conseguir mais alguma coisa que nos revele o que foi o Conjunto de Oliveira Muge. “Há um texto, ainda não publicado, feito por mim e com a colaboração, ainda em vida, do Sr. Policarpo e do Sr. Muge com um titulo provisório “A verdadeira história da “Mãe” onde são revelados alguns factos menos conhecidos sobre esta música”.
O autor revela-nos que o que queria mesmo “eram 3 peças que, supostamente, estão perdidas: a bobine de apresentação do Conjunto que continha uma versão do Drácula Cha Cha Cha – do Bruno Martino com letra em português adaptada do Conjunto de Tony Hernandez do Porto – e da La Novia – um bolero chileno, escrito em 1961, popularizada em Portugal, por Rui de Mascarenhas sob a designação A Noiva – alguma das gravações da RTV e no Radio Clube de Moçambique e que, por mais tentativas que tenha feito ao longo destes anos, não consegui obter”.
A “Biografia do IÉ IÉ” é facilmente adquirida em livrarias do circuito comercial enquanto a “Portugal Eléctrico”, segundo Rafael Amorim, “pode tornar-se um caso sério de peça de colecção pois, das mil cópias efectuadas, devem existir meia dúzia disponível em lojas de discos ou junto da editora, até porque, 100 dessas unidades tinham um EP de duas bandas dos anos sessenta -Tubarões e os Dardos – nunca antes editados”.
Luís Pinheiro de Almeida, nascido em 1947 em Coimbra, explica que ele próprio foi um “ié-ié”: “Cabelos compridos, guedelhudos, portanto, camisas floridas, as boites, os concursos ié-ié. E eram mal vistos. Dizia-se que eram uma pouca vergonha, uns indecentes contra a moral e os bons costumes, uns revolucionários que queriam subverter o sistema”.
https://www.facebook.com/pages/Portugal-Eléctrico/
www.facebook.com/pages/Groovie-Records
http://www.fnac.pt/Biografia-do-IE-IE-Luis-Pinheiro-de-Almeida/a783902