Decisões, relações e passados complicados em dose dupla (Passatempo)
Com encenação de Nuno M. Cardoso, “Águas Profundas + Terminal de Aeroporto”, que o Centro de Arte recebe no sábado, 9 de Abril, reflecte sobre a profundidade das relações humanas.
“É isto que me provoca a escrita de Simon Stephens, fascínio, curiosidade, prazer, mas também ansiedade e tormenta, perturbando-me, pois coloca um belo espelho diante de nós, revelando as nossas sublimes fragilidades”. As palavras são de Nuno M. Cardoso e justificam a abordagem (dupla) do encenador à obra do dramaturgo britânico.
Em “Águas Profundas” (do título original Wastwater, que faz referência ao lago mais profundo de Inglaterra onde se diz ser frequente serem lançados os corpos de mortos) são apresentados três episódios de duas pessoas que vivem um momento de crise. Na primeira cena, temos uma mãe que se despede de um filho que ama de uma forma quase possessiva (Pedro Almendra e Maria João Luís); na segunda parte, vemos dois amantes que se encontram num quarto de hotel (Albano Jerónimo e Olinda Favas); e num terceiro momento, há um homem nervoso que é interrogado por uma jovem mulher que o ajuda numa transação ilícita (António Durães e Íris Cayatte).
No monólogo preciso e amargo, repleto de referências pop, de “Terminal de Aeroporto” (T5, título original com base no terminal do aeroporto de Heathrow), conhecemos uma mulher sem nome que decide desaparecer da sua casa e da sua própria família. Interpretada por Rita Brütt, a personagem mergulha no mais profundo de si mesma e tem de lidar com o limite emocional em que vive desde que viu um adolescente ser morto perto de sua casa. Ela foge, sim, mas devido ao seu desejo de ficar.
No entanto, para Jorge Palinhos – que assina a tradução das duas peças –, existem duas dimensões nestas relações: a superficial, “onde as personagens lutam por ficar” e a profunda “para onde as personagens constantemente se afundam contra a sua vontade”. Águas Profundas + Terminal de Aeroporto decorre nas imediações do aeroporto de Heathrow, em Londres, em que a viagem é uma metáfora do tempo. Para o encenador, as personagens encontram-se numa espécie de transição: “os que permanecem, os que partem e os que aguardam, todos são sobreviventes”.
No final, a escrita dura e intranquila de Simon Stephens mostra, de acordo com Nuno M Cardoso, “o quão frágeis somos e o quão frágil é tudo aquilo que nos rodeia”. A obra do dramaturgo britânico desliza para um absurdo inconsequente e, segundo Jorge Palinhos, a conclusão “não traz soluções, nem estruturas, nem caminhos, mas é antes uma visão horizontal da espiral da vida contemporânea, sempre em fluxo, sempre a atravessar tempos e espaços, não só no mundo mas também no discurso das personagens”.
A encenação de Nuno M. Cardoso conta com uma equipa também ela dupla. A cenografia está a cargo de Pedro Tudela (Águas Profundas) e de Catarina Braga Araújo (Terminal de Aeroporto); os figurinos são da responsabilidade de Helena Guerreiro (Águas Profundas) e Nuno Baltazar (Terminal de Aeroporto); enquanto que a música e desenho de som são de Marco Pereira e Miguel Pereira (Águas Profundas) e de David Santos/Noiserv (Terminal de Aeroporto).
PASSATEMPO: Para o espectáculo “Águas Profundas + Terminal de Aeroporto”, do próximo sábado, dia 9 de Abril, O OvarNews oferece 2 convites duplos aos nossos leitores. Para se habilitar, basta dizer o nome dois actores que integram o elenco.
As respostas devem ser enviadas por e-mail para [email protected] com os dados pessoais do participante (nome, BI/CC e nº de telemóvel para contacto).
A data limite para recepção dos e-mails é o dia 8 de Abril, sexta feira, às 12h00, e os vencedores serão contactados posteriormente, de forma a levantar o respectivo prémio.