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Dez vareiras dão voz ao coro de “Madalena”

Quando “Madalena” subiu, esta sexta-feira, ao palco do Centro de Arte de Ovar, uma dezena de mulheres ovarenses emprestou a sua voz ao coro de voz falada da peça: Clara Alves de Oliveira, Cláudia Isabel Fonseca Dias, Inês Rodrigues Guimarães, Maria Manuela Dias Marques, Ana Miguel Costa, Ana Maria Silva Fonseca, Margarida Bandeira, Beatriz dos Santos Tavares da Silva, Isabel Maria Rodrigues Fonseca, Beatriz Sousa Sá Dias.

Clara Oliveira, uma das intérpretes vareiras que tem desenvolvido um intenso e rigoroso trabalho de voz, considera “sempre enriquecedor” poder participar em projectos desta natureza. No grupo que se juntou destaca a “cumplicidade e a aprendizagem. Gostei muito da conversa de domingo, de entender como é que surgiu a ideia, qual era a inquietação e como este acto artístico é uma resposta”. Achou “muito bonito.” Também Ana Maria Fonseca, outra participante de Ovar, diz que encontrou ”uma experiência muito cativante. O grupo é excelente. Só passaram quatro dias e já me sinto uma artista.”

“Madalena” é uma coprodução do Teatro Nacional D. Maria II, Teatro Viriato e Centro de Arte de Ovar, com direcção artística de Sara de Castro. Em palco estarão, além da representação vareira, um elenco constituído por mais cinco mulheres: Sara de Castro, Carla Galvão, Crista Alfaiate, Madalena Almeida, Paula Só.

Pouco depois da estreia de “Madalena”, em fevereiro de 2020, Portugal esteve confinado durante um mês e meio. “Madalena” era um espectáculo sobre a complexa figura simbólica de Maria Madalena, a cuidadora. É ela quem prepara o corpo de cristo para as cerimónias fúnebres e também é a ela que é dado a conhecer o milagre da transcendência da carne. Nesse espectáculo, as actrizes atravessavam uma longa noite de luto – um processo que passa pela negação, raiva, negociação, tristeza e aceitação – para resgatar o direito ao contacto com o corpo morto numa sociedade em que a morte foi higienizada, desmaterializada, tornada abjeta. Conta com a participação de um coro de voz falada formado por membros da comunidade.

“Madalena” é, hoje, um outro espetáculo. Não sabemos bem o que é. Hoje não só estamos impedidos do contacto com o corpo morto, mas também o contacto com os vivos está condicionado. As suas inquietações agigantam-se depois de convivermos com um vírus que nos isolou fisicamente, que nos fez temer o outro, que fez com que funerais fossem proibidos, que deixou tantos morrerem sós. “Madalena” continua a lembrar-nos que sem contacto, somos menos humanos.

“Hoje em dia cada espectáculo que fazemos é uma vitória. Fazer o Madalena em Ovar é especial porque sabemos que Ovar foi particularmente fustigado com a situação actual. Portanto, é quase como se fosse a nossa dádiva, a possível… ”, refere a encenadora Sara de Castro.

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