Opinião

[Dia 39 . 23/Ago] Caminhos separados

Imaginem o seguinte cenário: por razões que explicaremos mais tarde com mais calma e pormenores, onde pensávamos que ia ser mais fácil entrar com o carro e material médico foi na verdade o sítio mais difícil, moroso e custoso, sim custoso.

Em traços gerais, depois de muito falar, argumentar, provar e com ‘conects’ o jipe ficou bloqueado à entrada, na fronteira da Mongólia. Passamos dia e meio a tentar até que visto que este processo ia demorar tempo (dias) e eu com um voo para apanhar, enquanto o Miguel e o Alejandro esforçam-se por resolver o desbloqueio eu tenho de seguir viagem.

E por agora separam-se os nossos caminhos. O prometido será cumprido, o jipe chegará a Ulanbator mas sem mim. Este é para mim um final impensável e infortúnio, é ingrato, esperava tanto vivermos esta estepe juntos, guiar e parar o carro, dar a chave e apertar a mão… Aqui entra uma aventura bizarra, algo dura e cansativa.

Tentem visualizar o seguinte:
De Bayan-Ulgh a Ulanbator distam 1700km que foram feitos em 56h (sim, 2 dias + 8h já fizeram contas a média km/h?), pois, autocarro velho, 44 kazakes e um tuga lá ao fundo no banco de trás, encostado ao vidro (mesmo), todos a falar kazaz e eu a falar com a paisagem, autocarro atulhado de malas no corredor central quase até ao pousa braços, calor de dia e de noite, A/C quando abriam o postigo no tecto, para dormir todos esticados e eu em minoria lá lutava pelo meu território.

Estrada: 600km de asfalto e 1100km de estradão por estepe pura (sim muito bonito acreditem, montanhas, pastoricia, lagos, guers, cavalos) mas ao fim de algumas horas de pedras, lombas, desvios, riachos (ok estamos a invadir a natureza), num autocarro já bem rodado, atafulhado, com difícil comunicação, foi duro, não via fim ao caminho.

O autocarro só parou em 3 condições, 1 hora para “necessidades” 3 horas para jantares em guers, no meio não faço ideia de onde, alimentados a geradores e 10 horas em 3 avarias mecânicas.

Eu de noite solidário sofria em silêncio com o sofrimento dos condutores, a conduzirem em plena escuridão, só com as luzes do autocarro, com tudo a dormir, eu podia sentir as milhentas passagens de caixa entre 1.a e 2.a velocidade a desviar de “pedrinhas” e buracos, as vezes que ligou o autocarro a subir e a descer pois tinha problemas no alternador e motor de arranque. Cansados? 🙂

Miguel e Alé, portem-se mal, eu sei que manjam disso melhor que eu e o jipe e o material chegaram bem e em breve ao destino. Não vivemos juntos mas aproveitem como eu sei que sabem. Até já. MUNDO

Luís Rodrigues a caminho da Mongólia

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