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Dragagens na Ria de Aveiro têm de ser permanentes, defende cientista

O físico João Miguel Dias, que lidera o núcleo de modelação estuarina e costeira do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESSAM), defende que a Ria de Aveiro precisa de uma draga permanente.

Em declarações à Lusa, João Dias salienta que o assoreamento da Ria faz parte da evolução do sistema natural, desde a sua formação, e que o acesso aos cais dos pescadores e às marinas de recreio, bem como a navegabilidade dos canais precisam de manutenção, o que justifica a presença permanente de uma pequena draga.

Para o cientista, a “Empreitada de Transposição de Sedimentos para Otimização do Equilíbrio Hidrodinâmico na Ria de Aveiro”, adjudicada por 21,6 milhões de euros ao consórcio “ETERMAR/MMAS/RHODE NIELSEN”, por si só não resolve o problema da navegabilidade na Ria.

Ao todo está a ser dragado no leito da Ria um total de um milhão de metros cúbicos de sedimentos, numa extensão global de 95 quilómetros, mas essa operação “de desassoreamento da Ria de Aveiro”, prestes a ser concluída, poderá não ser suficiente para contrariar o curso natural da Ria, que tende para o assoreamento.

“O que está a ser feito é um conjunto de dragagens pontuais, para limpar alguns canais principais e não está a ser feito o desassoreamento das zonas dos cais piscatórios e das marinas de recreio, pelo que as populações vão continuar a ter dificuldade de usar os barcos e vão continuar a queixar-se”, comenta.

João Dias sublinha que a Natureza “não é estática”: “Temos correntes de transporte, temos erosão, temos assoreamento, temos estes problemas naturais no sistema dinâmico” e “se queremos resolver o problema das populações para que dele possam usufruir, faz falta uma draga de pequenas dimensões”.

“É preciso que se vá dragando onde se mostra necessário e sem grande alteração à hidrodinâmica do sistema, com ações pontuais, e com um custo incomparavelmente menor que estas mega operações de dragagem que são feitas”, defende.

Para aquele cientista, a Ria nem está assim tão assoreada como se supõe, já que a profundidade de alguns canais até aumentou nas últimas décadas.

“Há uma perceção um pouco errada de que a ria de Aveiro como um todo está muito assoreada: o que se passava e passa é que há zonas que estão assoreadas de facto, particularmente as zonas com uma dinâmica mais diminuta, particularmente as que têm correntes fracas, que são as mais protegidas, mais abrigadas e é precisamente aí que se localizam os cais piscatórios e as marinas de recreio. Essas são zonas com tendência a

a assoreamento”, descreve.

João Miguel Dias explica que a amplitude das marés aumentou em resultado de vários fatores, nomeadamente de dragagens feitas na década de 90, o que “cria a sensação de assoreamento” que existe em algumas áreas, mas não é um fenómeno generalizado.

“Quando aumenta a amplitude de maré, aumenta a cota de praia mar, mas também diminui a cota de baixa-mar e aquelas zonas menos profundas da Ria vão ter uma coluna de água inferior em baixa-mar à que tinham no passado”, detalha.

“A maior amplitude cria a sensação de assoreamento porque é mais difícil de navegar na baixa-mar, que descobre zonas que antes estavam cobertas”, acrescenta.

A Ria de Aveiro, onde inicialmente a costa se caracterizava por um golfo, foi-se formando ao longo dos séculos pela progressão para sul de uma língua de areia que se formou a partir de Espinho até Mira.

Esse sistema natural tem evoluído desde a sua formação, sendo que a atual barra foi aberta artificialmente no início do século XIX porque a ligação da ao mar foi mudando de posição e chegava inclusive a fechar em certas épocas do ano.

Face à evolução previsível, a realização periódica de pequenas dragagens poderia assegurar que os barcos continuariam a percorrer os canais e a ter onde acostar, indo ao encontro do que tem sido reclamado pelos proprietários de embarcações de recreio e de pesca.

Ainda que uma pequena draga não seja investimento de monta, fica por resolver quem faria a sua gestão, já que sobre a Ria, neste momento, tutelam inúmeras entidades.

Miguel Souto, agência Lusa

 

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