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É vareira e faz brilhar as estrelas da televisão

Goretti Marques nasceu na Ribeira, em Ovar, há 42 anos, e é lícito dizer que é quem faz brilhar muitas das cenas a que assistimos todos os dias na TV portuguesa.

Hoje é aderecista na TVI, ou seja, é a responsável pelos adereços usados pelos artistas, sejam eles bailarinos, actores, ou outros, que compõem o cenário de vários programas ou espectáculos ao vivo ou gravados.

Actualmente radicada na capital, as suas memórias de infância são todas daquele lugar pitoresco da cidade. “Nasci e cresci num meio rural muito próximo do centro de Ovar e tive o privilégio de estar sempre em contacto com a natureza, de brincar na rua com os meus amigos e vizinhos, e de estar sempre rodeada de pessoas que me conheciam desde sempre, e que fizeram de mim a pessoa que sou hoje”.

Uma das memórias mais felizes que tem é “brincar na rua com vizinhos e primas a cantar e dançar as músicas dos “Onda choc” e dos “Ministars”. Tinhamos até nome e tudo, éramos os “Nova Onda”.

Frequentou a Escola Secundária José Macedo Fragateiro, embora o sonho de criança fosse a “Júlio Dinis”, que tinha a área de saúde, de forma a cumprir o grande sonho de ser médica. Porém, as notas medianas a matemática ditaram o fim do sonho. Ingressou no Curso de Humanidades e, posteriormente, na Universidade do Minho para ser Jornalista. No curso de Comunicação Social descobriria outra paixão: o audiovisual e foi nesta área que se formou.

O sonho de conhecer Ruy de Carvalho

Goretti Marques costuma dizer que não faz o que gosta, mas adora o que faz. “Isto resume a forma como me tornei aderecista”. Licenciou-se em comunicação social na área de audiovisuais para ser operadora de câmara, “uma paixão que descobri na Universidade nos vários trabalhos para as disciplinas de audiovisual e jornalismo”. O estágio aconteceu na extinta NBP, actual Plural, mas “a minha fisionomia, e o facto de ser mulher foram impeditivos para estagiar como assistente de câmara. “Colocaram-me na produção e posteriormente na continuidade, área onde terminei o estágio. Aqui aprendi as bases do trabalho de aderecista em telenovela e surgiu a oportunidade de fazer a minha primeira novela como aderecista: “Amanhecer”.

“Nesta novela tive a grande sorte de trabalhar com dois actores que admirava muito: a Fernanda Serrano, pela pessoa maravilhosa que confirmou tudo o que pensava dela, e o João Reis que já na altura era um excelente actor”. Depois, descobriu que o resto do elenco também era maravilhoso.

A par com o “Amanhecer” elege os “Destinos Cruzados” pela oportunidade de trabalhar com um ídolo de sempre: Ruy de Carvalho. “Mas não posso esquecer de referir o projecto que muito me ensinou: “Morangos com Açúcar”. No total, fez seis temporadas de “Morangos com Açucar”, durante as quais aprendi muito sobre desportos e tudo o que os jovens da altura faziam e gostavam”.

Mas quando lhe perguntamos qual o artista, realizador, actor, que lhe deu mais trabalho, ela hesita. “É complicado responder, porque há realizadores, coordenadores e actores mais exigentes do que outros, mas em termos de trabalho, o grau de exigência que sinto sou eu que o coloco”.

Goretti é muito exigente consigo própria e a maior crítica de si própria. “Todas as pessoas com quem já trabalhei acrescentaram muito ao que sou profissionalmente, e até pessoalmente. A Plural é uma empresa de pessoas, os projetos são feitos por muitas pessoas, e para mim isso é óptimo. O ambiente é descontraído e existe muita entreajuda, por isso é complicado destacar alguma ou algumas pessoas que gostei de conhecer”.

No entanto, como referiu, “adorei trabalhar e conviver de perto com o Ruy de Carvalho que nos trata como seus filhos”. E claro, reencontrar o Sérgio Praia nos corredores e fazer uma novela com ele, podendo testemunhar de perto o seu talento, foi também algo que ansiava já há algum tempo”.

Também no set, teve a “sorte de trabalhar com a Andreia Reis, minha colega de escola e outra vareira a trabalhar atrás das câmaras. Por último, não posso deixar de falar na oportunidade de conhecer e trabalhar com o Gracindo Júnior e a Zézé Mota no “Ouro Vede”, actores brasileiros que conhecia desde sempre, do tempo em que o nosso país só via novelas brasileiras”.

Apesar da profissão de aderecista ser muito ligada ao teatro, publicidade e cinema, nestes 20 anos de profissão, Goretti Marques apenas fez televisão e publicidade.

Na sua opinião, é o trabalho feito por todos os sectores envolvidos, incluindo o aderecista, que faz brilhar a cena.

“O aderecista acrescenta valor à cena na mesma medida que a maquilhadora, o cabeleireiro, o iluminador, o realizador, o ator, o sonoplasta, etc. É verdade que nas séries ou filmes de época, o que salta mais à vista são o guarda-roupa e os adereços, assim como nos filmes de acção é o trabalho dos duplos, e da equipa de efeitos especiais, mas é mesmo o trabalho conjunto que faz brilhar a cena, sem dúvida”, sustenta.

Vareira de Ovar quer voltar
Estando em Lisboa não vem a Ovar tanto quanto gostaria, “mas tento ir uma vez por mês, embora nem sempre seja possível”. “Adoro estar em Ovar no Carnaval, como qualquer vareiro, mas o projecto que estou a fazer nessa altura do ano é que dita se eu consigo ir ou não a Ovar”.

“Sou uma pessoa de muitos sonhos, mas não sou de fazer projetos. Desde que saí de Ovar para ir estudar e depois para trabalhar que vou sendo levada pela vida e pelas oportunidades que vão surgindo pelo caminho”. Embora viva no meio das estrelas sonha voltar a Ovar e “contribuir de alguma forma para a minha cidade”.

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