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Espectáculo sobre o que está a desaparecer em Portugal

As biografias de Leonor Keil e de Rafaela Santos servem de ponto de partida para uma reflexão sobre o que está a desaparecer em Portugal, proposta num espectáculo que tem ante-estreia marcada para quinta-feira, em Canas de Senhorim, seguindo para Ovar, onde se vai apresentar a 28 de outubro.

Canas 44 é o nome do espectáculo que tem direcção artística de Victor Hugo Pontes e está integrado no ciclo Portugal em vias de extinção, do Teatro Nacional Dona Maria II (TNDMII).

São as suas vivências em Canas de Senhorim enquanto cidadãs, artistas, mães e mulheres que Leonor Keil e Rafaela Santos, as intérpretes do espectáculo, vão levar para o palco.

“É quase um ponto de situação, um marco na vida ou no destino. Terem a mesma idade (44 anos) e Canas de Senhorim em comum, porque uma viveu cá e entretanto foi embora, e a outra veio para cá e continua cá”, disse à agência Lusa Victor Hugo Pontes.

Partindo dessa ligação a Canas de Senhorim, no concelho de Nelas (distrito de Viseu), é feita uma espécie de memorabilia de factos, de lugares e de pessoas.

“Chegamos à conclusão de que os lugares são as pessoas. E quando as pessoas desaparecem o que é que fica nos lugares? Traçamos um mapa de desaparecimentos, o que é que elas encontraram cá quando chegaram que entretanto já desapareceu, o que é que existe agora e o que ficará no dia em que elas desaparecerem também”, explicou.

Segundo Victor Hugo Pontes, “a dramaturgia da peça passa muito por essa ideia da chegada, o que existia quando chegaram, qual era a relação delas com este lugar, sendo que há uma que o abandona e vai embora e outra que quer continuar a fazer o seu percurso nele, não sabe é até quando”.

O espectáculo alude a pessoas que viveram e ainda vivem em Canas de Senhorim.

“Canas está no título, mas, depois, no próprio espectáculo, nunca é referido o nome do lugar. Pode ser qualquer um no mundo que tenha características simulares”, referiu o director artístico, considerando que toda a gente tem memórias desta ruralidade, “destes espaços que entretanto começam a deixar de existir e das pessoas que desaparecem, desaparecendo com elas as histórias”.

Canas 44 é uma coprodução da Amarelo Silvestre, Nome Próprio, TNDMII, Centro de Arte de Ovar e Câmara Municipal de Nelas.

Fernando Giestas, da Amarelo Silvestre, desenvolveu um projeto paralelo com o agrupamento de escolas e o Centro Social e Paroquial de Canas de Senhorim, durante o qual foram levantadas questões que serviram para o texto do espectáculo.

“Há excertos que foram retrabalhados pela Maria Gil (autora do texto) e acabam por entrar no espectáculo como a voz que nós damos ao povo, às pessoas, em que dizem o que mudavam, o que gostariam de fazer, porque continuam aqui ou porque querem partir”, contou Victor Hugo Pontes.

Depois de Canas de Senhorim e Ovar, Canas 44 tem já apresentações agendadas para Covilhã (29 de novembro), Sever do Vouga (02 de dezembro) e TNDMII (de 25 a 28 de janeiro).

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