Opinião

Podem ir à bola, rapaziada! Quer dizer, não podem nada, esqueçam! – Por Pedro Nuno

Há coisas do caraças! Mas de pouco nos vale pensar nelas quando políticas e decisões surgem paradoxalmente a outras tantas, que por muito que nos expliquem não dá para entender. Eu tento, nós tentamos, mas não dá mesmo para entender. E as explicações por parte de quem manda nisto tudo são tão claras como a escuridão que há largos meses assola as bancadas dos estádios de futebol em Portugal. “Não teremos espectadores nos estádios até ao final da época. Huuummm…! Vá, na última jornada dos campeonatos pode ser. Mas só na última jornada. Huuummm…!

Quer dizer, é melhor não. Não, não!!! Afinal é melhor irem à bola só na próxima temporada. É melhor, é…!”: foi mais ou menos assim que aquela malta do poder abordou o tema (com leviandade-mor) e decidiu que este ano não havia bola para ninguém em formato in loco, nem na última jornada, quando já tinham proferido o oposto completo.

No fundo, é passar ao adepto comum um atestado de “selvajaria” que a consciência deles reflecte cá para fora, só que não têm coragem de o afirmar. A emotividade e imprevisibilidade do futebol é um perigo que evidencia riscos provocados por milhares de almas irracionais, pensarão eles, sem a coragem necessária de o dizer, ora por medo de um debate público, ora por medo que vozes que exaltam à razão e ao bom-senso se levantem. Uma bipolaridade crassa que assusta, silenciada a todo o custo pela evidente falta de argumentos válidos. Ou simplesmente por falta de argumentos.

Os adeptos do Sporting não viam o seu clube ser campeão há quase duas décadas. Esperavam mesmo que festejassem a conquista do troféu a jogar uma “suecada” junto à porta do alpendre de casa? O Vizela não disputava a primeira divisão nacional há cerca de 40 anos. Queriam que os vizelenses brindassem na marquise enquanto “malhavam” PlayStation? O Sp. Braga arrecadou a Taça de Portugal no ano do centenário do clube. Queriam que os seus adeptos mandassem foguetes a partir da varanda de casa enquanto viam a Lady Di da Malveira e aquele cozinheiro de Leste na televisão? Não brinquem, pá!

Se os estádios estivessem de portas franqueadas ao povo, a situação era fácil de ser controlada, simples de ser monitorizada e mais seguro do que utilizar a casa de banho da Assembleia da República logo depois de o deputado João Almeida a ter usado após o almoço. Mas, vá, pouco importa. Ser inglês nesta terra é um privilégio. Ser português, nem por isso. Causa pasmo, não causa?

Olhem, sigam mas é o exemplo da minha mãe: quando eu era puto, proibiu durante meses as minhas idas à bola (ao Estádio Mário Duarte, do pré-centenário SC Beira-Mar, em Aveiro). Justificação: os meus resultados escolares eram deploráveis! “Assim que as cinco negativas que tiraste desaparecerem, podes voltar ao campo da bola”, dizia-me, entre uma ou duas palmaditas, a “cota”. “Até lá, quero-te a estudar para seres alguém na vida”, afirmava de rosto carregado de esperança. As notas melhoraram, voltei aos estádios, pouco singrei na vida e ouço a minha mãe com frequência: “Quando é que os campos da bola reabrem para me deixares de chatear a cabeça ao domingo à tarde, pá?”. E pareces ter razão, mamã! Fala com o Costa. Ou com a Graça, tá?

Pedro Nuno Marques

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