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Memórias de uma fábrica de olaria cujos fornos se apagaram em 1986

“Confesso que não consigo valorizar o espaço porque nasci aqui, vejo isto todos os dias e vejo com uns olhos diferentes dos que cá vêm pela primeira vez, mas, de facto, é quase unânime que as pessoas que aqui vêm ficam encantadas com o espaço”, afirmou o neto dos proprietários da antiga fábrica de olaria, José Eduardo Regalado.
Segundo José Eduardo Regalado, a história da fábrica remonta ao final do século XIX, mais concretamente a 1898, ano em que os seus avós paternos decidiram construir uma olaria, no rés-do-chão da casa onde viviam.
Era algo muito antigo, muito arcaico. Inicialmente, era apenas uma olaria que fabricava vasos, jarras, alguidares e tigelas pequenas”, contou José Eduardo, adiantando que os produtos seguiam “em carros de bois” até ao horto do Porto ou às feiras das redondezas de Ovar, como a de Arrifana ou Vale de Cambra.Durante a década de 30, chegaram a trabalhar “simultaneamente”, na fábrica, seis oleiros, sendo a maioria membros da família de José Eduardo, como o pai, os tios e os primos.
Quando o pai de José Eduardo “assumiu” o negócio, em 1935, decidiu “modernizá-lo”, comprando novas máquinas e dando início à produção de tijolos e telhas para a construção civil.Contudo, foi entre o final da década de 40 e início da década de 50 que “tudo mudou”. A Fábrica Regalado deixava a casa dos avós paternos de José Eduardo, e instalava-se num novo edifício.

“Era uma necessidade aumentar a produção e fazer uma grande ampliação. Foi construído um edifício de três pisos para a secagem dos materiais e, no rés-do-chão foram construídos dois fornos e uma chaminé para fazer a exaustão dos fumos da cozedura”, explicou.

Apesar de não ter memória ou algum registo sobre quanto produzia a fábrica na época, José Eduardo recorda-se de que foram estas melhorias que permitiram uma maior produção, mas também maior qualidade.

“Nós vendíamos tudo o que fabricávamos. Tínhamos de facto muita qualidade, mas não tínhamos uma grande produção, aliás, a produção era limitada”, frisou.

José Eduardo adiantou à Lusa, contudo, que o negócio “não resistiu” à ausência de mão de obra qualificada, à crise financeira da década de 80, que se fez sentir em Portugal, e à desatualização dos equipamentos e máquinas, tendo encerrado “definitivamente” em 1986.

“Estas circunstâncias fizeram com que a fábrica não resistisse e tivesse este desfecho”, referiu.

Contudo, a história da Fábrica Regalado não termina assim.

Consciente do potencial do espaço que outrora deu lugar à produção de vasos, tijolos e telhas, José Eduardo decidiu falar com os cinco fotógrafos amigos: Fernando Andrezo, Pedro Brás Marques, João Carlos Pinto, Luís Rodrigues e José Santa Clara.

“Mal começaram a disparar, percebi o quanto valorizavam o espaço”, salientou José Eduardo.

As memórias que o espaço ainda conserva, como os dois fornos e a chaminé, foram materializadas em 2019 mais de duas dezenas de fotografias deram origem a uma exposição: “Cinco Olhares sobre a Fábrica Regalado” e a um livro, “Na Fábrica”, de Fernando Andrezo, Pedro Brás Marques, João Carlos Pinto, Luís Rodrigues e José Santa Clara. Pode ser adquirido na Biblioteca Municipal de Ovar.

 

 

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