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Museu de Ovar foi “etapa” do livro Volta a Portugal

O geólogo Álvaro Domingues (Melgaço, 1959) foi o mais recente convidado no evento literário do Museu de Ovar, organizado e moderado pelo escritor Carlos Granja, para falar do seu mais recente livro, “Volta a Portugal” que, ao contrário do que sugere a capa das Edições Contraponto, não fala de ciclismo.

Não se assumindo como escritor, o autor de outros dois grandes ensaios sobre o território, A Rua da Estrada (2009) e Vida no Campo (2011), fala deste Volta a Portugal como um retrato do País em que a mitologia da ruralidade e do urbano “é pura ficção” montada pela propaganda “salazarenta”.

Nesta “etapa” do Volta a Portugal no Museu de Ovar, Álvaro Domingues referiu a sua propensão para a hipertextualidade, que admitiu ter levado aos limites nesta sua obra, que apresenta como “obra aberta” lembrando
Humberto Eco.

O livro “usa e abusa” da técnica hipertextualidade, assume o geólogo, que nas suas deambulações à procura do País e dos seus povoados carregados de mitologia, regista fotograficamente como apontamentos de profissão,
resultando em contrastes, contradições e diversidades, desvendadas em imagens e textos.

Um livro de “flaches de regiões” com pequenas e diferentes histórias, que o autor, que partilhou com a plateia ter sido “inesquecível” esta sessão numa sala com as imagens da exposição fotográfica de Jorge Bacelar, diz não ser “linear”, ou seja, “pode-se abrir em qualquer página”. Pequenas histórias que partilhou nesta noite de “conversas úteis”, particularmente sobre a região lagunar de Aveiro, em que dedica um texto à Ria de Aveiro, para o qual Carlos Granja chamou atenção dos presentes, convidando ali à sua leitura.

Como chegou a ser dito entre os participantes, tratou-se de uma autêntica aula, dada pelo professor e geólogo Álvaro Domingues, que “ensina-nos a olhar, não para o óbvio”, reconheceu uma sua ex-aluna presente para quem
“a geografia deve ser dar a ver”.

Este serão acabou por ser demasiado curto para uma tão estimulante conversa sobre Volta a Portugal, que também pode ser de bicicleta, mas que exige sobretudo abertura para olhar para a paisagem que se transforma, que, “varia conforme as mudanças” realça o autor, para quem “não há Beiras! Não é uma entidade geográfica estável! É uma ficção”. Sobre cidade, adiantou que “é um elemento de poder! A relação cidade/campo é uma história de dominação”, resumiu Álvaro Domingues, que ainda justificou que o gosto pela fotografia, vem de “ter uma máquina” e da profissão, em que se pode registar através de desenho, mapas ou fotografia.

Já sobre palavras, diz, “valem o que valem”. Carlos Granja encerraria a conversa ainda que de forma óbvia, porque nem sempre compreendida, “a nossa vida não é estanque. Estamos sempre a aprender!
JL

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