“Não me coloquem no mesmo saco da Fátima”
Não queria pronunciar-me sobre este assunto, mas depois de todo o debate gerado, sinto-me quase na obrigação de demonstrar qual a minha posição relativamente ao artigo “Podemos? Não, não podemos”.
Não devia sentir essa obrigação porque não fui eu que o escrevi, nem tampouco me identifico com ele, pelo contrário, acho repugnante e de uma desonestidade intelectual extrema.
Estou a fazê-lo porque, como muitos sabem, sou familiar da autora, e, infelizmente, há pessoas que não sabem separar o trigo do joio. Os auto-proclamados mais democráticos que os outros todos que, na verdade, só o são quando pensamos exactamente como eles.
Sou liberal assumido, defensor da meritocracia e acho o actual estado social o cancro da sociedade. Não acredito em inclusão por decreto, mas antes em programas de apoio bem estruturados, com uma base de informação adequada.
Segundo o que tenho lido por aí, as pessoas ainda não perceberam muito bem o que é que está em cima da mesa, e a questão das quotas é apenas uma de muitas possibilidades levantada pelo actual executivo. A título de exemplo, concordo que o parlamento deva ser representativo da nossa sociedade, mas nunca à base de pressão.
Os partidos deviam ser os primeiros a trabalhar directamente nas comunidades, a reformularem por iniciativa própria as suas listas e a largarem de uma vez por todas o sistema de castas que, da esquerda à direita, ainda hoje vincula.
Mais concretamente sobre o artigo, é no mínimo vergonhoso que uma historiadora com grande conhecimento na sua área cientifica dê erros primários que se fossem cometidos na escola do antigamente eram corrigidos à galheta. E isto não é uma questão de interpretação ou opinião, são factos errados. No entanto, e como dizia ontem, e bem, a Catarina Marcelino, apesar de negativos na sua génese, estes acontecimentos também trazem algo de positivo: lançam o debate.
Enquanto orgulhoso Bonifácio que sou, só peço que não me coloquem no mesmo saco por ser familiar da Fátima, por até ser liberal, de direita, etc. É que ao fazê-lo estão a cometer o mesmo erro que a autora cometeu: estão a demonstrar que um cidadão por ter ideias diferentes, cor diferente ou religião diferente, não se inclui na vossa sociedade que também é minha.
João Bonifácio Baptista
Ovar
Este texto foi originalmente publicado no Facebook do seu autor.