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Cortegaça: ICNF diz que reflorestação será espontânea

A zona de Cortegaça onde o abate de pinheiros tem sido criticado terá uma reflorestação espontânea, sem intervenção humana, disse à Lusa o Instituto de Conservação da Natureza e Floresta (ICNF).
Em causa está o corte massivo de árvores no Perímetro Florestal das Dunas de Ovar, onde o desbaste tem sido criticado pela população e motivou, na segunda-feira, o lançamento de uma petição ‘online’ apelando à “reversão da decisão do corte de pinheiro-bravo em cerca de 30 talhões”, numa operação que se prevê decorrer até 2026 em terrenos entre as praias de Esmoriz e do Torrão do Lameiro.
Cerca de 80 hectares já foram intervencionados com resinagem intensiva e abate de árvores, mas o ICNF não revelou o valor exacto da venda desses produtos.
O ‘site’ dessa entidade permite analisar, contudo, que, no caso da resina, cuja receita reverte a 100% para os proprietários dos terrenos, o material recolhido em 2018 com recurso a 81.388 das chamadas “feridas” nos pinheiros esteve à venda em hasta pública pelo valor base acumulado de 123.000 euros. Em 2019, a licitação da resina de 52.092 feridas começava nos 86.750 euros.
Quanto à matéria lenhosa, cujo lucro é dividido em 60% para o dono da terra e 40% para o Estado, o leilão de 2021 disponibilizou a madeira de 34,18 hectares de pinhal ao valor base total de 198.500 euros.
Nessa transação, a Junta de Freguesia de Cortegaça vendeu 1.571 árvores (o que representa 10,3 hectares de corte, 1.843 metros cúbicos de madeira e 47.000 euros) à empresa Salvador Soares & Cia. Lda. e transacionou ainda mais 3.294 pinheiros (cortados em 5,1 hectares, com um volume de 829 metros cúbicos e ao preço de 18.000 euros) com a firma Ângulo Verde Lda..
A União de Freguesias de Ovar, São João, Arada e São Vicente Pereira também vendeu 2.805 árvores à Salvador Soares e Cia. (o que corresponde a 10,3 hectares, 2.556 metros cúbicos e 65.000 euros), destinando outros 2.385 pinheiros (de 9,5 hectares, 2.547 metros de volume e outros 65.000 euros) à Bioflorestal S.A..
Foi igualmente a essa terceira empresa que a Câmara Municipal de Ovar, após o desbaste de 0,8 hectares, alienou 96 árvores e os respetivos 109 metros cúbicos de madeira pelo valor de 3.500 euros.
ICNF informou que, na propriedade da autarquia, há um outro talhão que, “desafetado do Regime Florestal Parcial no passado”, acolhe atualmente infraestruturas do Clube de Ténis de Ovar. “Esse lote, por intermédio dos Serviços da Câmara Municipal, foi constituído por solicitação da direção do Clube de Ténis, apresentando como justificação para a necessidade de corte do arvoredo o facto de estar prevista para aquele local a instalação de novas infraestruturas desportivas”, esclareceu o instituto.
Quanto aos planos de reflorestação dos terrenos sujeitos a desbaste, para já não está prevista a plantação de pinheiros ou quaisquer outras espécies por mão humana.
“Dadas as características biofísicas e condições biológicas do povoamento, dar-se-á prioridade ao aproveitamento da regeneração natural – que, em regra, apresenta bons resultados na área em questão – e seguir-se-ão os trabalhos de silvicultura necessários para garantir o adequado desenvolvimento das novas árvores”, disse o ICNF, admitindo que só após avaliar o curso da recuperação espontânea equacionará a eventual necessidade de outro processo.

Partidos, ambientalistas, moradores de Ovar e até industriais de resinagem têm criticado a forma como autarquia e juntas de freguesia estão a conduzir o processo de abate, cuja planificação teve início em 2016, mas não evitou a surpresa da população em março de 2021, quando os referidos pinhais começaram a ser sujeitos a uma operação massiva da chamada “resinagem até à morte”.

O ICNF realçou, contudo, que o Plano de Gestão Florestal para a zona em causa, “elaborado com o apoio da Câmara Municipal de Ovar, foi submetido a consulta pública em 2016 e, após emissão de declarações de concordância pelas juntas de freguesia envolvidas e na ausência de qualquer proposta de alteração, foi aprovado nesse mesmo ano”.
Em termos práticos, já nessa altura ficaram previstas, portanto, “diversas acções de gestão para esse espaço submetido ao Regime Florestal Parcial, entre as quais a prática de resinagem à morte (que consiste na extração de resina de pinheiro no curto prazo, limitada em exclusivo aos quatro anos que antecedem o corte)”. Essa recolha foi decidida com base nas “características e idade do povoamento”, justificando “o posterior corte de arvoredo”.
Alexandra Couto, Lusa

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