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Paulo Rocha pelo olhar de um aprendiz em ‘A Távola de Rocha’

DVD apresentado em Ovar

O filme “A Távola de Rocha”, estreado mundialmente em agosto de 2021, no festival de Locarno, uma primeira longa-metragem de Samuel Barbosa, explora o processo criativo de Paulo Rocha, realizador natural de S. Vicente de Pereira, através dos seus filmes, das suas personagens, dos artistas com que trabalhou, pessoas, épocas e paisagens do cinema de Paulo Rocha.

“Trilho os lugares por onde ele passou à procura de um filme”, diz o realizador Samuel Barbosa, narrador omnipresente, nos primeiros minutos desta longa-metragem dedicada à vida e à obra cinematográfica de um dos fundadores do Cinema Novo português.

Samuel Barbosa foi assistente de Paulo Rocha desde 2001, e a ideia de se fazer um filme biográfico chegou a ser falada entre ambos, mas o projecto mudaria de rumo quando Paulo Rocha morreu, em 2012, lê-se no dossier de imprensa.

Em “A Távola de Rocha”, Samuel Barbosa convoca algumas pessoas que trabalharam de perto com o realizador natural do concelho de Ovar, nomeadamente os actores Luis Miguel Cintra e Isabel Ruth, a escritora Regina Guimarães, e escuta-lhes histórias de bastidores dos filmes.

Uma dessas histórias é contada por Isabel Ruth, no jardim do Campo Grande, em Lisboa, percorrendo os mesmos passos de uma das cenas do filme “Os Verdes Anos” (1963). Era uma cena romântica e Isabel Ruth julgava que haveria um beijo com o ator Rui Gomes, que Paulo Rocha não quis que acontecesse.

“Que eu me lembre, acho que nunca vi um beijo num filme do Paulo Rocha”, verifica Isabel Ruth, a actriz que Paulo Rocha mais filmou ao longo da carreira e que fixou como um dos rostos do Cinema Novo.

No documentário, Samuel Barbosa expõe a sua própria vivência de trabalho com o cineasta e recupera declarações de Paulo Rocha, registadas em imagens de arquivo, a propósito do processo criativo.

Com recurso ao arquivo fílmico depositado na Cinemateca Portuguesa, é ainda aflorado o passado familiar, a relação com a mãe; são incluídos depoimentos do irmão e é traçada uma procura dos locais por onde Paulo Rocha passou no Japão, onde viveu como adido cultural.

Paulo Rocha, um cineasta “raro e secreto, autor de uma obra estilizada e contemplativa, cósmica e panteísta”, como escreveu a Cinemateca Francesa, morreu no final de 2012, deixando completo o filme “Se eu fosse ladrão… roubava”.

Este filme, no qual Paulo Rocha recuou às memórias da família e do seu cinema, foi exibido em 2013, em estreia mundial, precisamente no festival de cinema de Locarno, com o qual teve uma ligação desde o primeiro filme, “Os verdes anos”, premiado em 1964. Paulo Rocha, que estudou Direito em Lisboa e cinema em França, foi assistente de realização de Jean Renoir e de Manoel de Oliveira, e assinou outros filmes como “Mudar de vida” (1966), “A Ilha dos Amores” (1982), “A Raiz do Coração” (2000) e “Vanitas” (2004).

“A Távola de Rocha”, produzido pela Bando À Parte, teve estreia mundial no dia 08 de agosto do ano passado, em Locarno, na secção “História(s) do Cinema”.

A Bando à Parte, Lda., na qualidade de produtora do documentário cinematográfico, com o apoio da Câmara Municipal de Ovar, apresentou o DVD do filme “A Távola de Rocha”, que inclui extras não integrados na obra final, numa sessão que decorreu este sábado no Museu Júlio Dinis, em Ovar.

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