Cultura

Pensar a profissão de docente através da interacção entre pares

Este foi o tema da ação de formação que teve lugar no dia 27 de janeiro, na Escola Secundária José Macedo Fragateiro, e agregada no Plano Anual de Atividades do Agrupamento de Escolas de Ovar (AEO). Inserida no plano de melhoria dos resultados escolares, a iniciativa contou com a participação dos docentes dos vários níveis de ensino do AEO.

O Auditório Maria Cecília Oliveira esteve repleto para assistir à sessão apresentada pelo convidado José Matias Alves, reputado investigador em ciências sociais e ciências da educação, atualmente a desempenhar funções docentes na Faculdade de Educação e Psicologia, da Universidade Católica Portuguesa.

Na alocução inicial, Matias Alves traçou as linhas genéricas do seu currículo académico e apresentou as expectativas da sessão, abrindo os trabalhos por enumerar os quatro maiores problemas da profissão docente.

Trata-se, e de acordo com os estudos realizados, de uma profissão complexa e desafiante; de solidão deontológica (em que a resolução de problemas fica, não raro, a cargo do próprio docente, o que gera angústias crescentes); de exigência excessiva (mormente por via do défice de existência dos alunos, de que advém a sobredimensionalidade do «mandato pedagógico», causadora da tão continuada exaustão); e de entrega total, porque o verdadeiro âmbito de responsabilidade e trabalho supera imenso o espaço circunscrito da sala de aula.

Perante as dificuldades inerentes ao ato de ensinar, o orador expôs como principais desafios a prática da cooperação profissional, em ordem a elevar o patamar de resposta às dificuldades mais sentidas. Por conseguinte, revela-se de capital importância apostar nos requisitos de confiança e de conhecimento mútuo entre docentes, para criação de um método comum de trabalho que se apresente construtivo e em aperfeiçoamento durável, ao contrário de tendências políticas nem sempre esclarecidas.

Prosseguindo os trabalhos, Matias Alves deu início à leitura de questões formuladas pelos presentes, centradas na promoção do sucesso dos alunos e nas angústias suscitadas pelo empenho à causa pedagógica. Em resposta, referiu os docentes devem saber gerir o equilíbrio entre a homogeneidade e a diversidade de expectativas de aprendizagem, sem incorrer em facilitismos.

Citou, a este propósito, o psicólogo soviético Lev Vygotsky, que definiu o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), que viria a ter uma enorme influência nos meios educacionais europeus e norte-americanos, a partir da década de 60, do século passado. A ZDP consiste na relação entre o nível atual de desenvolvimento de um aluno, determinado pela sua capacidade de resolver problemas individualmente, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da resolução de problemas, tendo o professor como mediador do processo de aprendizagem, de forma a incrementar os talentos dos alunos.

Em seguida, Matias Alves salientou os deveres do profissional do ensino, situados tanto na promoção das aprendizagens dos alunos, como no concurso para a valorização do conhecimento, na elevação da qualidade das práticas quotidianas. Torna-se, portanto, premente favorecer a eficácia das dinâmicas cooperativas, entre respostas organizacionais promotoras do sucesso, não de um indivíduo isolado, mas de uma comunidade inteira.

Matias Alves apontou a gestão mais inteligente do tempo disponível como estratégia fulcral capaz de transformar progressivamente o modo de olhar para a profissão, tornando-a mais solidária e comprometida na construção dos recursos em atualização sempre urgente. Para além disso, e porque se sofre exageradamente pela solidão imposta pelas tarefas infindáveis e exigentes, é imperioso passar a apostar ainda mais no trabalho partilhado, apesar dos constrangimentos associados à limitada disponibilidade horária.

Ao concluir os trabalhos, Matias Alves agradeceu a presença dos docentes do AEO e mostrou-se totalmente disponível a colaborar com este género de iniciativas, porquanto promotoras da melhoria dos índices de sucesso pessoal e institucional, deixando um desafio aos docentes do Agrupamento de Escolas de Ovar: «sejam autores e não meros executores de um programa!», certificou.

Texto de Hélder Ramos
Foto de José Sá

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