Querem fazer isto comigo? – Ricardo Alves Lopes
O que proponho é um exercício de gestão, digamos. Se Ovar fosse uma marca, uma empresa, quem seria a nossa concorrência?
Para analisar essa concorrência, primeiro necessitamos saber qual é o nosso produto/serviço e qual é a nossa marca diferenciadora. O nosso produto/ serviço é o turismo, como a maioria das cidades do nosso país. Temos o carnaval, o pão-de-ló, o azulejo, as capelas, o mar, a ria e, porventura, o parque da cidade. Então, de repente, podemos ver como grandes concorrentes Torres Vedras, no carnaval, Braga nas celebrações religiosas, Aveiro nos ovos-moles e no mar e ria e Porto na arquitectura e no parque da cidade. E o que nos diferencia?
O bairrismo. Aveiro, Porto e Braga são maiores e Torres Vedras é quase catapultada para uma junção à Grande Lisboa. Mas não chega. O Porto, por exemplo, é conhecido pela hospitalidade das suas gentes, pelo que essa diferenciação se desvanece. Será, então, pela diversidade de oferta? Possivelmente, não. Seremos mais fortes financeiramente, com maior potencial de investimento, para criação de uma melhor estrutura de eventos e promoção? Também não.
Como poderemos, então, tornar-nos diferenciadores? Juntando-nos. Não temos que temer ser comparados, temos é que ter confiança na nossa capacidade de produzir valor. A nossa diferenciação terá que chegar disso, dessa mudança de paradigma em que, antes, era o segredo a alma do negócio, para agora ser a partilha. Se queremos atacar estrangeiros na busca de os trazer para o Carnaval, o que nos impede de nos unirmos a Torres Vedras nessa luta? São estrangeiros, vêm uma semana e existem dois corsos em cada cidade, pelo que poderiam ser divididos. Um desfile em Torres Vedras, outro em Ovar. Quem sabe uma passagem por Loulé, ou Estarreja ou Mealhada. Não sei. Sei que fará confusão às pessoas de cá comprar a qualidade de lá, pelo que vamos vendo, à de cá. Mas esse não é o ponto. O ponto é abrir as portas, a diferenciação de qualidade são as pessoas, que se espera que venham, que fazem.
E Aveiro, porque não alongar a parceria a mais do que capital de distrito? Um moliceiro, quem sabe dois, que começa viagem em Ovar e acaba em Aveiro, ou vice-versa? No caminho, fazem-se apresentações de tradições, o bilhete engloba uma caixinha de ovos-moles e um mini pão-de-ló. Sabemos que é bom, mas os turistas também precisam de saber. Oferecer, dar a conhecer, é fundamental. E o Porto, com a beleza da sua cidade, mas de pequena dimensão, em relação a outras cidades, não teria interesse em alongar a oferta, para promover férias mais prolongadas, em vez de ‘escapadinhas’ de fim-de-semana? Alocar, na oferta deles, um passeio por uma cidade viva de azulejo, com traços artísticos, onde Júlio Dinis, escritor, se inspirou.
Podia ser interessante para eles. Faz confusão sermos confundidos com o Porto, pelos estrangeiros, mas faz mais confusão não sermos conhecidos por eles. Se cá vierem, pensando que é numa localidade do Porto que estão, mas forem surpreendidos pela beleza dos nossos azulejos, pelos cuidados que se começa a ter no parque da cidade ou na Azurreira, com uma ria que se espera limpa, com uma cidade enfeitada pelo espírito criativo dos que cá vivem, pode ser a solução. A inclusão de Ovar, num programa para estrangeiros, em que se destaca a religiosidade da cidade de Braga também não pode ser mau.
A Arte Xávega em junção a Vila do Conde, Póvoa, Torreira, Esmoriz, Cortegaça, etc, etc, também será um bom rumo. Pessoas de países desenvolvidos, centrados na evolução tecnológica, deliram com tradições. Compete-nos dá-las a conhecer. E todas juntas são mais, são mais completas, são mais cativantes.
Devemos ser ambiciosos, mas também necessitamos ser pragmáticos. Temos potencial turístico, mas não temos estrutura para ser a ‘porta de entrada’ do país para os estrangeiros. Portanto, juntarmo-nos aos melhores não é sinal de fraqueza, é sinal de inteligência. Hoje, os mercados vivem de parcerias. E, para além disso, com gentes de fora, ganharemos gente de dentro. Os portugueses, os que passeiam cá dentro, necessitam ser estimulados. E muitas vezes, infelizmente, esse estímulo surge de opiniões alheias, estrangeiras. Vejam o Porto e Lisboa, tão em voga lá fora, que também ganham, com isso, turismo interno.
Entretanto, não nos devemos esgotar aí. Há trabalho a ser bem feito. O desporto, com o triatlo e a sincronizada, elevaram o patamar. 5 páginas no jornal O Jogo no passado fim-de-semana foi muito bom, a realização do campeonato ibérico de triatlo, mesmo com as chatices de trânsito, foi o crescendo das expectativas. Fora isso, não devemos descurar o estímulo criativo desta cidade. O carnaval é o expoente máximo disso, mas temos, também, fotógrafos de qualidade invejável, pessoas a trabalharem vídeo como poucos, pintores, caricaturistas, designers, ilustradores, escritores.
A possibilidade de residências artísticas também não pode ser esquecida. Como também não podem ser as oportunidades que a escola de artes e ofícios e a incubadora abrem. A impulsão de novas indústrias, através da incubadora e do orçamento participativo, também pode ser rumo. Ou seja, a modernidade tem que ser traço da nossa cidade. O turismo não são só os monumentos, também são as sensações e experiências. E uma cidade que respire confiança, onde palpite criatividade, será sempre uma cidade a ter em conta. Por todos.
No final, deixar uma palavra de enorme elogio à APPO que tanto se esforça para divulgar o nosso pão-de-ló. No dia 23 de Maio receberão jornalistas russos, dando a conhecer não só o pão-de-ló como a tanoaria de Esmoriz. Isto é a junção de que falava.
Ovar é uma marca. E o seu conceito é o Movimento. Ovar promete Movimento. E nós acreditamos nesse movimento. Eu acredito.
Juntar as pontas e criar uma experiência única, deve ser o nosso lema.
Ricardo Alves Lopes (Ral)
http://tempestadideias.wordpress.com
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