Rios do Sono: Um espectáculo com participação da comunidade
A convocatória à população para participar no espetáculo “Rios De Sono” superou as expetativas e as inscrições rapidamente ultrapassaram o número de lugares disponíveis. Assim, nos dias 11 e 12 de abril, pelas 22 horas, vão subir ao palco do Centro de Arte de Ovar, 19 homens e mulheres, entre os 8 e os 64 anos, para apresentar “Rios de Sono”, um espetáculo de arte comunitária, co-produzido pela Circolando.
A insónia pode ser vista como uma tempestade da alma.
A vulgarização do mau dormir nestes tempos críticos lembrou-nos a peste da insónia de Gabriel García Marquez e o seu assustador prognóstico: o esquecimento.
Primeiro, apagam-se da memória as recordações de infância, depois o nome e a noção das coisas, por fim, a identidade das pessoas, até nos afundarmos numa espécie de idiotia sem passado.
Decidimos pois investigar um pouco sobre o sono e o sonho.
Um processo que iniciamos em Águeda e que ficou marcado por alguns elementos que encontramos naquele território, particularmente pelo grande temporal que afectou o parque da cidade, com dezenas de árvores centenárias a serem derrubadas pelo vento. Os presságios e as inquietações ganharam então corpo numa tempestade arrasadora.
O sono é no homem queda. Abandonar-se na vida sob a noite do ser.
Cair na escuridão como se se caísse sob o efeito da gravidade, mas depois ficar a flutuar. A flutuar num lago de águas fundas. O lago onde desagua a torrente diária da vida. Labirinto de imagens, sensações, momentos preciosos, cada um contribui com o seu testemunho.
Parte-se da solidão própria a cada sonho e ficciona-se a comunicação em pleno acto de sonhar. E se nos encontrássemos nos sonhos? E se houvesse imagens e sentires comuns que nos unissem em pleno sonho? E se inventássemos um sonho comum para o colectivo? Que desejos extravagantes sobreviveriam a uma tempestade arrasadora?
Durante o sono o coração está iluminado.