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Ruído: A Minissérie de Bruno Nogueira em que o riso é proibido

Estreou no passado dia 7 de maio, na RTP, a nova série de Bruno Nogueira que promete revolucionar a forma de fazer humor em Portugal. Com um elenco de luxo, recupera o modelo tradicional dos sketches humorísticos, mas acrescenta-lhe não só um toque audiovisual mais cuidado e cinematográfico, como também um mote: uma distopia num Portugal em que é proibido, é crime mesmo, rir ou fazer rir.

Partindo desta inverosímil premissa, um grupo de amigos procura criar sketches de humor clandestinamente, com público, num ato de resistência e como que um escape para fugir à proibição que se revela mais cruel e autoritária do que aparentemente poderia parecer. Tal como alguns recorrem às roletas online da lista de confiança do RouletteGuru como forma de evasão num contexto opressivo, aqui o humor serve de válvula de escape. A série abarca vários planos e perspetivas, que vão da conceção humorística e das trocas de ideias, mais ou menos acesas, entre argumentistas, ao produto final, o sketch, e à reação que pretende provocar, o subversivo riso.

O conceito

Numa nota à imprensa, a RTP resumiu o conceito do projeto na perfeição: “Ao longo de oito episódios, num tempo distópico, onde foi aprovada uma lei que proíbe o riso, vive-se um ambiente de medo e desconfiança. Foi retirada a liberdade para expressar qualquer tipo de alegria em público. Como forma de resistência, um grupo de atores e argumentistas decide criar um movimento clandestino para que as pessoas possam rir em segredo. O resto é ruído”.

Na senda do tipo de humor e intervenção pública própria de Bruno Nogueira, Ruído apresenta fatalmente um carácter político, de intervenção. Nesta distopia ficcional, em que o riso, que aqui pode simbolizar também o lado criativo, culto e ocioso da vida, detestado pelas tiranias, é considerado crime. A sátira é encarada como um sobressalto da ordem pública. Os comediantes são vistos pelo sistema como agentes subversivos.

O conceito da série passa, sobretudo, por, através de um humor com alguma negritude e nonsense, servir como crítica social a uma sociedade sonambulizada em massa por conteúdos digitais e que, em virtude disso, totalmente alienada, perde noção da importância dos valores democráticos e da importância da liberdade. Deixa, inclusivamente, de ser capaz de reagir quando são postos em perigo. 

  • Distopia num Portugal que proibiu o riso;
  • Crítica social à atualidade;
  • Sociedade sonambulizada pelos conteúdos digitais;
  • Produto humorístico, com laivos de humor negro;
  • A importância da liberdade.

A atualidade 

Apesar dos esforços do comediante em não politizar demasiado a série e de a fazer valer por s mesmai, enquanto produto humorístico de qualidade, é impossível não notarmos a contemporaneidade da série ao compará-la com a situação nos Estados Unidos, no Brasil e noutros países europeus como a Hungria, em que casos de humoristas cancelados, perseguidos ou até condenados em tribunal têm feito manchetes. 

Outra das críticas que perpassam a série prende-se com a alienação digital provocada pelas redes sociais e pelo entretenimento online. São várias as referências da série a influencers e a plataformas de jogos como as roletas online que funcionam como forma de escapismo da realidade. Realidade essa que, como na série se sugere, pode assumir os contornos mais distópicos. 

Se Ruído é uma análise social disfarçada de humor ou humor disfarçado de análise social cabe a cada espetador decidir, como vimos para a questão da roleta online Portugal. Mas que oferece momentos humorísticos brilhantes e uma fina reflexão sobre o estado atual das sociedades ocidentais atuais e sobre os perigos de uma política de controlo estatal, é inegável. Ruído está perfeitamente ancorada numa realidade palpável, a de todos nós e do nosso dia a dia.

Os nomes que fazem Ruído

A série reúne um conjunto de luxo dos melhores nomes da comédia portuguesa. Com Bruno Nogueira em todas as vertentes do processo, Ruído conta com o consagrado argumentista Frederico Pombares, parceiro de longa data de Bruno Nogueira em muitos dos seus programas televisivos, com o ator Luís Araújo e com o humorista Carlos Coutinho Vilhena.

Uma equipa de peso na comédia portuguesa

O extraordinário leque de atores que acompanha os nomes do argumento, que, naturalmente, surgem também no ecrã, dado que esta é uma série cujos bastidores do processo criativo são também parte da trama, é uma das razões do sucesso de que está a gozar. Albano Jerónimo, Gonçalo Waddington, Miguel Guilherme, José Raposo, Gabriela Barros e Rita Cabaço são fundamentais para o carácter simultaneamente sério e cómico do programa.

Na realização, o humorista optou por chamar pesos-pesados do cinema e da produção audiovisual em Portugal: André Szankowski (Rabo de Peixe), para diretor de fotografia, e, como realizadores, Ricardo Freitas (O Último a Sair, Os Contemporâneos e Tabu), colaborador de longa data de Bruno, e Tiago Guedes (Glória e A Herdade). A ideia é a de conferir um ar mais pesado, visualmente mais forte, que reforce o contraste entre a leveza do alheamento digital e o peso da distopia real.

Equipa Técnica e Elenco “Ruído”
Realização André Szankowski (fotografia); Ricardo Freitas e Tiago Guedes (realização);
Argumento Bruno Nogueira, Frederico Pombares, Luís Araújo e Carlos Coutinho Vilhena
Elenco Albano Jerónimo, Gonçalo Waddington, Miguel Guilherme, José Raposo, Gabriela Barros, Rita Cabaço…

Ruído é mais do que uma série de comédia: é um comentário sócio-político envolto em humor afiado. Bruno Nogueira arrisca e entrega uma obra provocadora e atual. Vale a pena assistir e pensar – ou rir – sobre o mundo em que vivemos.

 

 

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