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Tim Steiner: Espectáculo explora um “potencial único, em toda a sua excentricidade e esquisitice”

O compositor britânico Tim Steiner, que dirigiu centenas de projectos colaborativos europeus e este sábado estreia outro em Ovar, defende que a escassez de verbas culturais pode ser uma “bênção escondida” num país com “entusiasmo” por eventos comunitários.

“Em Portugal, descubro um particular entusiasmo por eventos culturais que envolvem profundamente as comunidades – e nessas comunidades há uma riqueza de cultural tradicional que parece muito satisfeita em relacionar-se com culturas novas, mais recentes”.

Tim Steiner declara, por isso, que “as dificuldades financeiras de montar grandes espectáculos em palcos tradicionais são, de certa forma, uma bênção escondida – podem levar os artistas a procurarem novos contextos de trabalho e podem conduzir o público a experimentar o negócio da arte ou da criação musical de uma forma muito mais pessoal e relevante”.

Dada a sua experiência em comunidades de diferentes países, Tim Steiner diz-se inspirado pelo à-vontade com que jovens e idosos trabalham juntos, e pela abertura que demonstram para explorar as relações entre tipos de música muito díspares.

“No Reino Unido, a cultura tradicional é muito menos importante do que em Portugal e é muito mais difícil desenvolver devidamente projectos integrados orientados para a comunidade”, garante.

O compositor reconhece que o seu país de origem “tem certamente mais fundos do que Portugal para a actividade cultural em geral”, mas admite que “só uma muito reduzida porção é dedicada a projectos que envolvam devidamente as populações, já que o foco [da distribuição de verbas] pesa sobretudo sobre as performances profissionais em contexto formal”.

São duas as razões pelas quais Tim Steiner lamenta constatar essa realidade: uma é que “há muito potencial por explorar” na sociedade e outra é que “a maioria dos artistas, certamente os compositores, só estão interessados no potencial dos artistas profissionais em espaços de actuação formais”.

Argumentando que cada povoado urbano tem um carácter único que devia ser explorado e celebrado, o director do espectáculo de abertura do Carnaval de Ovar declara: “Gostaria de ver um mundo em que se desse muito menos destaque à reinterpretação de música e espectáculos previamente escritos”.

Duas situações exemplificam esse desagrado: “As orquestras revisitam com persistência um extremamente reduzido cânone da música clássica e pelo mundo inteiro repetem-se os mesmos shows básicos, com franchisados como Blue Man Group e Stomp, que não têm uma ligação única à audiência”.

Para Tim Steiner, o que cada cidade tem de único vai mudando com o tempo e “os artistas deviam relacionar-se com o que está mesmo à sua frente, com a cultural real tal como ela é e com as pessoas que lá estão, nesse momento”.

O coro reunido em Ovar revela, nesse contexto, “a capacidade de criar um som muito próprio, em que o objectivo não é soar como qualquer outro grupo, mas sim explorar o seu potencial único, em toda a sua excentricidade e esquisitice”.

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