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“Património religioso de Ovar é incrível mas precisa de manutenção” – Padre Vitor Pacheco

O Padre Vitor Pacheco, da Paróquia de São Cristóvão, no centro de Ovar, tem a tarefa de zelar pelo “incrível” património religioso vareiro e organizar o programa da Quaresma que agora integra a Rede Europeia de Celebrações da Semana Santa e Páscoa.
Que balanço é possivel fazer do primeiro ano de integração na rede europeia?
O ano passado fizemos com sucesso uma candidatura à Rede Europeia de Celebrações da Semana Santa e Páscoa, um organismo europeu criado ao abrigo do programa “Itinerário Cultural Europeu”, com vista a integrar Ovar. A nossa candidatura foi validada pelo conselho científico em 2023 e na assembleia geral, que ocorrerá no próximo mês, em Espanha, a nossa adesão será formalizada através da entrega de uma placa  comemorativa. Pertencer a esta Rede Europeia, além da certificação como membro, pois o processo seletivo é extremamente rigoroso, estou convicto de que dará uma visibilidade em todo o território europeu e será, assim, mais uma forma de visibilidade e valorização das nossas tradições quaresmais.
Sente a adesão dos vareiros?
Eu dinamizei esta candidatura, porque considero que há pessoas e parcerias suficientes para a dinamizar, desde a Câmara, às Irmandades passando pela sociedade civil. Em 2023 assisti, pela primeira vez, às manifestações da Quaresma em Ovar e, embora a organização não esteja perfeita, temos tudo para melhorar e a tornar num cartaz cultural de relevo. O ano passado participei pela primeira vez e achei que estava muita gente a participar e a assistir nas ruas e parece-me que foi essa a opinião geral.
O que falta para isso acontecer a uma tradição que tem mais de 400 anos?
Tudo é possível, na medida em que vai ganhando dinamismo local e atraindo visitantes de fora, porque estamos a criar aqui um cartaz cultural que vai além das procissões. É um processo que leva o seu tempo, vai passo a passo e vai integrando e convidando a uma participação cada vez mais natural da comunidade local.
Onde vai a Paróquia encontrar as verbas para tudo o que precisa?
Temos dificuldades financeiras, não vou negar, mas quero ver se com o tempo vamos adquirir uma certa autonomia nesse aspeto. O importante agora é apostar na divulgação desta programa quaresmal. As pessoas percebem as novas ideias e dinâmicas e começam a aparecer.
Que objetivos tem em mente?
Quremos que esta tradição atraia gente e tenha impacto na economia local. Em Braga, são 12 milhões de Euros que entram na cidade todos os anos na Semana Santa. E Braga tem uma agenda cultural colossal durante todo o ano. Não queremos imitar ninguém, porque Ovar já tem uma tradição de 400 anos muito própria, identitária e é isso que pretendemos, manter essa matriz que nos diferencia e levá-la ao conhecimento de mais pessoas.
O que destaca da programação deste ano?
Este ano, apostamos nos concertos e destaco uma exposição no Centro de Arte de Ovar sobre a relação da Irmandade dos Passos com a vila de Ovar. E como a Quinta-feira Santa é também Dia dos Monumentos vamos promover uma visita guiada às capelas dos Passos pelo professor Nuno Resende. Julgo que há pouco trabalho académico em torno do muito património arquitetónico religioso vareiro. É incrível o que Ovar possui e mais incrível é verificar como isso é desconhecido do país.
Esse património precisa de manutenção?
Precisa e estamos a limpar os telhados e as fachadas de todas as capelas dos Passos. O ano passado também fizemos o mesmo e o exerior parece estar bem. Vamos avançar para o projeto do restante que é necessário fazer no interior. Vamos iniciar esse levantamento, um projeto de intervenção e apresentar uma candidatura a fundos europeus. Mas o Estudo Prévio custa dinheiro… O mesmo se passa com a Igreja Matriz: o exterior e o telhado foram arranjados e agora vamos avançar para o projeto da zona envolvente, o adro e depois viramo-nos para o interior da Igreja. Quanto às verbas, temos feito peditórios e a comunidade está empenhada.
A Capela da Senhora da Graça é um caso diferente…
Sim. Fomos confrontados no final do Carnaval do ano passado com o arco cruzeiro rachado. Pode ser coincidência, mas a verdade é que aconteceram muitos concertos no Mercado Municipal em 2023. O arco cruzeiro é só que suporta o corpo do prebistério da capela, está ofendido e encontrava-se a ceder porque aquela capela quase não tem alicerces. Tivemos de lhe colocar suportes e agora está seguríssimo, mas precisa de uma grande intervenção.
Após o Entrudo, a Quaresma tem que ser um tempo triste e fechado?
Não, não temos que viver este período com tristeza. Aliás, o Papa Francisco assim o diz, porque este é um caminho que no leva à alegria da Páscoa.

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