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Esmoriz: da Barrinha e da Praia à Cidade Inteligente – Por Gonçalo Marques

As cidades inteligentes não são apenas aquelas que enchem as ruas de sensores ou multiplicam ecrãs digitais. A inteligência urbana não se mede apenas pela quantidade de tecnologia, mas sobretudo pela capacidade de cada território olhar para dentro de si, reconhecer o que tem de único e projetar esse património para o futuro. O conceito de cidades inteligentes tem vindo a ganhar

força em Portugal. De Lisboa a Guimarães, de Cascais a Águeda, multiplicam-se exemplos de territórios que usam a tecnologia para melhorar a qualidade devida, a sustentabilidade e a economia local. Uma smart city é aquela que sabe conjugar inovação tecnológica com identidade cultural e desenvolvimento económico.

O modelo de cidade inteligente vai muito além da digitalização. Envolve sustentabilidade, valorização da identidade local, inovação económica e inclusão social. Uma smart city deve ser, acima de tudo, uma cidade onde a tecnologia está ao serviço das pessoas e não o contrário. Destaco três exemplos internacionais Copenhaga, Medellin e Barcelona.

Copenhaga (Dinamarca): referência mundial em mobilidade sustentável, combina transportes públicos eficientes com redes cicláveis inteligentes, reduzindo emissões e aumentando a qualidade de vida.

Medellín (Colômbia): transformou-se de uma cidade marcada pela exclusão para um laboratório vivo de inovação social, com escadas rolantes urbanas, teleféricos e centros de formação tecnológica em bairros periféricos.
Barcelona (Espanha): exemplo europeu de integração tecnológica, desde sensores ambientais a plataformas digitais de participação cidadã, mantendo forte aposta na preservação cultural e no turismo sustentável.

Estes exemplos mostram que cada território pode construir o seu próprio modelo, adaptado aos seus recursos e identidade.

O potencial de Esmoriz
Esmoriz reúne condições únicas para ser um caso de estudo nacional. Entre a Barrinha de Esmoriz e a Praia, a cidade combina ecossistemas de água doce e salgada, biodiversidade rara e uma forte ligação à economia do mar. Aqui, inteligência urbana pode significar: i) turismo sustentável que valorize a Barrinha de Esmoriz sem a destruir; ii) desportos náuticos como motor cultural e económico; iii) economia azul baseada na pesca tradicional, mas também na investigação em biotecnologia marinha, algas e camarinhas.

Esmoriz pode tornar-se um “laboratório vivo”, onde se experimentam soluções de energia limpa aplicadas ao quotidiano, monitorização em tempo real da qualidade ambiental e plataformas digitais que promovem os produtos e serviços locais.

Medidas e sinergias com Ovar
O desafio de Esmoriz não deve ser encarado de forma isolada. A cidade pode articular-se com todo o concelho de Ovar, gerando sinergias regionais: Ambiente e Mobilidade integrada: sistemas inteligentes de transporte que
conectem Esmoriz a Ovar e ao restante litoral.

Turismo conjunto: roteiros digitais que valorizem património natural e cultural de ambas as localidades. O Programa Cultural poderá estar integrado num omnichanel que permite o conhecimento generalizado.

Economia e inovação: parcerias com universidades e centros de investigação para atrair investimento em biotecnologia marinha e energias renováveis oceânicas.

A transformação de Esmoriz em cidade inteligente, inserida numa visão integrada de concelho, pode criar emprego qualificado, valorizar a identidade cultural e colocar Ovar no mapa das regiões mais inovadoras e sustentáveis de Portugal.

O futuro de Esmoriz não está em copiar modelos externos, mas em saber usar os seus recursos de forma sábia. Inteligência é, afinal, escolher bem como agir com inovação ao serviço da comunidade. E talvez, no silêncio dos Passadiços ao entardecer ou no som do Atlântico a rebentar na praia, já se encontrem as respostas de uma cidade que pensa com a cabeça, mas sente com a alma.

Gonçalo Marques, Economista, CEO M2k e Funding Expert

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