
Das sombras, os dois galos aguardam.
Ouvem o rugido da multidão, o som ritmado dos tambores, os gritos de antecipação. Lá dentro, onde a luz da arena ainda não os alcança, preparam-se.
Cada um segue o seu próprio ritual.
Do lado esquerdo, o Galo Alvinegro ajoelha-se sobre uma das esporas. Espada numa mão, escudo na outra, o capacete sobre a cabeça. O metal está gasto, enferrujado, marcado pelas batalhas passadas, e ele abaixa a cabeça e respira fundo.
— É o teu momento. A tua glória. O teu nome será eterno.
Os olhos focam-se na porta à sua frente. Assim que ela se abrir, não haverá mais dúvidas. Apenas luta. Apenas sangue.
Do lado oposto, o Galo Coque Sportif prepara-se de forma diferente.
— Pâcruuuhhh! — solta um grito seco, batendo as asas.
Ele não se ajoelha. Ele não traz escudo. As suas armas são duas espadas curtas, afiadas como a língua de um comerciante francês a discutir preços.
— C’est ta vraie batalha! O teu nome dans l’histoire! Le sangue do inimigo será teu! O peito infla. Os olhos brilham. Ele não teme.
A porta da jaula range.
Lá fora, o Guardião da Arena ergue-se no centro do palco, a sua voz ecoando entre os corpos ansiosos dos espectadores.
— Amigos! Vareiros! Hoje, vossa sede será saciada! O sangue será derramado! O aço será provado! Aqui estão os guerreiros que se elevaram até este momento! Duas vidas! Um destino! Lutem até à morte!
— ESTAIS PRONTOS?
A multidão murmura. Depois, o som cresce como um trovão, um rugido que toma conta da praça.
Os tambores batem mais rápido. Uma trompeta rasga o ar. O polegar do Guardião sobe. Os gladiadores avançam.
Não correm, caminham como reis em passarela, absorvendo os gritos da multidão, sentindo cada olhar sobre eles.
Nos extremos da arena, as suas amadas observam, escondidas entre os espectadores.
Do lado francês, Bernadette, a bela e esguia galinha parisiense, pisca as pestanas aprimoradas, um suspiro no peito, orgulhosa do seu guerreiro.
Do lado vareiro, Galinácea, a fiel companheira do Galo Alvinegro, segura a respiração. O medo aperta-lhe o peito.
Ambas sabem que só um sairá dali vivo.
Lá no meio, os dois rivais param.
Fixam os olhos um no outro.
As espadas são erguidas.
O suor escorre das suas testas emplumadas.
A multidão silencia.
A batalha vai começar.
Artur, come um rebuçado… mas nem o saboreia na antecipação de escutar mais.
Edgar Branco







