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A Protecção Especial das Capelas dos Passos de Ovar

Nos termos do artigo 43.º da Lei n.º 107/2001, de 8 de Setembro, os imóveis classificados como sendo de interesse público devem dispor de uma zona especial de protecção (ZEP).

Ora, as Capelas dos Passos de Ovar encontram -se classificadas como imóvel de interesse público por Decreto n.º 37450, de 16 de Junho de 1949. Trata -se de um conjunto ímpar de sete capelas do século XVIII que se destacam
a nível artístico e que constituem o percurso dos Passos da Paixão.
As zonas especiais de protecção definidas tiveram em conta quer a implantação das capelas, espalhadas pela cidade de Ovar, quer a realidade urbana local. Deste modo, cinco destas capelas foram integradas numa zona especial de protecção conjunta e as outras duas possuem zonas especiais de protecção em separado, o que se justifica pela integração das primeiras no traçado urbano do núcleo primitivo de Ovar, enquanto que as últimas se encontravam localizadas em lugares limítrofes, urbanizados posteriormente.

As referidas delimitações tiveram ainda em conta a escala das capelas, o seu enquadramento urbanístico e a qualidade e genuidade do mesmo, o contexto espacial, os pontos de vista/eixos visuais e as perspectivas do conjunto das capelas, que constituem a moldura de enquadramento visual da paisagem em que os imóveis se inserem, tendo em conta a sua implantação, nomeadamente espaços vazios, tratados, como jardins, ou expectantes, como espaços públicos, cuja caracterização se revela essencial ao bom equilíbrio da paisagem urbana. A relação das capelas com a envolvente encontra -se devidamente preservada pela fixação da zona especial de protecção.

O percurso evocativo da caminhada de Jesus pelas ruas de Jerusalém, desde o Pretório de Pilatos até ao Calvário (já fora dos muros da cidade), a Via Sacra foi recriada nos mais variados locais, para recordar, a quem a percorresse, a Paixão de Cristo, observando a iconografia presente em cada uma das estações.

O período barroco, com toda a carga cenográfica e penitencial que lhe é própria, recriou com frequência esta ideia de caminho que conduz à vida eterna, ou percurso de Salvação, através dos longos escadórios evocativos da Paixão de Cristo, e de que são exemplo, entre outros, o santuário do Bom Jesus do Monte, ou a Via Sacra do Buçaco.

No caso de Ovar, e tal como acontece em tantas outras vilas e cidades, a Via Sacra é um trajecto urbano, constituído por um conjunto de cinco passos integrados na malha urbana, pela capela do Pretório, junto ao alçado lateral da igreja matriz, e pela capela do Calvário, esta última de grandes dimensões e à qual se acede através de uma longa escadaria.

A procissão dos Passos de Cristo era uma tradição antiga de Ovar, realizada com figuras de palha e com capelas portáteis até à construção deste conjunto, ocorrida entre 1747 e 1756. Inicialmente, eram edificações isoladas, que a cidade foi integrando e envolvendo por outros imóveis de maiores dimensões.

O primeiro passo é o da capela do Pretório, na igreja matriz, rematado por frontão de volutas interrompido e com retábulo de talha polícroma no interior. Os restantes cinco conservam uma estrutura idêntica, com fachada-portal definida por pilastras, coroada por cimalha curva assente sobre aletas e decorada por enrolamentos de folhas de acanto.

Sobre o frontão triangular, encontram-se dois balaústres laterais e uma cruz na empena. As portadas são de madeira e foram acrescentadas posteriormente. No interior, as paredes são pintadas e os retábulos são de talha dourada e polícromada com esculturas de grandes dimensões, numa iconografia que se relaciona com o respectivo passo – Senhor caído por terra, Encontro, Cireneu, Verónica e Filhas de Jerusalém.

Por fim, a capela do Calvário é antecedida por uma longa escadaria, apenas concluída em 1782 e, segundo se crê, desenhada por Francisco Rodrigues Ferreira (Gonçalves, 1981). A sua fachada divide-se em três corpos, correspondendo os laterais à sacristia e o central à nave. Este, é definido por pilastras e aberto pelo portal principal, em arco ultrapassado, que se relaciona com o registo seguinte, em cantaria, e onde uma janela de moldura recortada antecede o remate em frontão de lanços, ao centro do qual e ergue uma cruz. Nos corpos laterais, as portas são de moldura recortada e remate semicircular.

No interior, com nave única de dois tramos, destaca-se a composição do Calvário, com esculturas de grandes dimensões. Esta, marca o final de um longo percurso pelas ruas da cidade, evocativo dos principais passos de Jesus a caminho do Calvário, à qual se acede depois de ultrapassar a escadaria que antecede o templo e percorrer o espaço interno daquela que é a capela de maiores dimensões e aparato de todo o conjunto.
(Rosário Carvalho)

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