Belo Horribilis
O gosto pela contemplação acompanha-nos desde da nossa criação como espécie.
A arte chegou mais tarde – O belo não tem necessariamente de ser sinónimo de bom ou agradável, mas é de representação possível.
Talvez tenha sido algo muito primário, logo inconsciente, que fez aproximar da costa ovarense , vagas compactas de pessoas ávidas de alimentar o seu voyeurismo.
Vieram constatar uma espécie de “Belo Horribilis”, como se a fúria do mar fosse um episódio impossível de relatar ou imaginar, como se a grandeza do mar fosse de impossível de mimese e só verossímil se demonstrada.
Chegaram prontos para assistir a uma manifestação icástica sem igual- a valorização do factum , do real e da sua observação empírica teve ontem uma forte representação na costa ovarense.
Um aglomerado de curiosos que constituía um paredão, um obstáculo a qualquer intervenção de emergência. Felizmente, O mar, grandioso, já se tinha manifestado vigorosamente na madrugada anterior.
Durante a tarde de ontem, fez apenas uma ponderada exibição da sua força- não é seu objetivo atingir as pessoas, apenas quer reaver um espaço que considera como seu.
Durante a tarde de ontem, o mar foi ajuizado ao contrário de muitos que teimaram em se aproximar de uma costa de margem indefinida.
Henrique Gomes
(Imagem: Torrão do Lameiro – Costa Ovarense, tarde de ontem)