Opinião

“Campesino” – Henrique Gomes

Muitos adeptos de ciclismo continuam a considerar os “trepadores “como a classe nobre do ciclismo. De aparência frágil, quase sem músculos e de diminuto corpo, normalmente tímidos e pouco faladores, os “trepadores” são ciclistas que aparecem pouco mas bem, com exibições sublimes.

Contrariamente aos sprinters- personagens de aparição rápida, musculada e acotovelada, os trepadores assentam a sua atuação em ataques elegantes, finos, delicados, subtis.
Quando damos conta, lá vai um peso pluma que aos poucos se distancia dos restantes ciclistas.

Ultrapassando inclinações, normalmente em esforço solitário, permanecendo na frente da corrida por longos períodos. A forma como se evidenciam na corrida faz dos” trepadores “ os poetas do ciclismo.
A versão do super-herói híper musculado, vencedor de batalhas invencíveis e arrasador de adversários perdeu a validade e é anacrónica- foi necessário rever os critérios de casting.

Precisamos de entidades humanas ou que se pareçam o mais possível com elas. É fundamental que saibam andar de bicicleta mas que se afastem de Hollywood e das suas sucursais.
Nairo Quintana, vencedor do último Giro, parece que já obedece aos novos critérios.

Personagem de aparência frágil, tímida, reservada, e que por vezes quase parece pedir desculpa por invadir o nosso espaço mediático. Quintano não foi formatado para uma versão de mundo mediatizado ao extremo e consegue vencer competições de três semanas.

De origens humildes, Quintana é alcunhado por, entre outras coisas, “Campesino” e continua a viver a 3000 metros de altitude numa remota povoação da região de Boyaca, na Colômbia.

Henrique Gomes

Fotografia: Ana Luísa

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