De Ovar à Mongólia em missão médica e solidária
É já no próximo domingo que Luís Rodrigues e Miguel Jeri partem de Ovar em direcção à… Mongólia. A viagem é uma aventura cultural e solidária, algo que planeiam há algum tempo. Ou como eles próprios dizem: “Encaramos esta viagem como algo tri-dimensional: Dimensão de aventura, intercâmbio cultural e actividades solidárias”.
Como surgiu a ideia de realizar esta viagem e porquê a Mongólia?
Desde há muito que a Ásia Central nos tem despertado o interesse, desde logo porque ser não apenas das zonas mais remotas mas também mais desconhecidas. Todos temos amigos que já viajaram pela Europa, América do Sul, Estados Unidos, Sudeste Asiático, etc. Mas quantos já visitaram o Uzebequistão, o Turquemenistão ou mesmo a Georgia ou o Azerbeijão? Provavelmente muito poucos. A Mongólia, para além de tudo isto, tem uma história fantástica a vários níveis, incluindo o facto de, durante a era de Gengis Khan, ter sido o maior império de toda a história humana.
Desde há alguns anos que temos pensado em fazer esta viagem de carro, muito também devido ao facto de o Luís ser um entusiasta dos automóveis e ter formação em mecatrónica. Mais tarde, surgiu a ideia de dar um cunho cultural e também solidário à viagem. Por isso entrámos em contacto com a Associação de Amizade Portugal-Mongólia, bem como o cônsul honorário da Mongólia em Portugal, Dr. José Serrão, de forma a articularmos formas de promoção da cultura mongol junto dos portugueses.
Finalmente, a parte solidária. O Miguel entrou em contacto com a Cruz Vermelha da Mongólia (CVM) e articulou várias formas de ajudá-la na sua missão. Primeiro pediu uma autorização especial para missão humanitária no exterior, de forma a pode fazer voluntariado junto da Cruz Vermelha em território mongol. Depois, os dois decidimos doar o veículo à Cruz Vermelha. Por fim, decidimos arrancar com uma campanha de crowdfunding para angariação de material médico que enviaremos para a CVM, aproveitando o espaço que temos no carro.
Por que países irão passar?
O nosso itinerário actual começa em Ovar – pretendemos sair da Praça da República na manhã do dia 17 de Julho. Passaremos em Madrid para recolher um amigo espanhol que também fará voluntariado na CVM, indo de seguida para Saint-Remy-de-Provence, França, onde tivemos um convite de emigrantes portugueses. Daí iremos até Vicenza, Itália, onde seremos recebido pela família de uma amiga italiana. Daí atravessaremos a Eslovénia e Croácia até Belgrado, Sérvia. No dia seguinte passaremos por Bucareste, onde temos amigos, e daí seguiremos para Constança, no mar negro, onde chegarão muitos viajantes do Mongol Rally. Daí seguimos para Istambul, e logo pela costa do mar negro – Samsun e Trabzon. Passaremos a fronteira com a Georgia, visitaremos Tiblisi, e daí seguiremos para Baku. Daí pretendemos atravessar o Cáspio em ferry-boat até Turkmenbasi, Turquemenistão. Daí passaremos ao Uzebequistão, Cazaquistão, um pouco da Rússia e entraremos na Mongólia pela fronteira noroeste. Daí serão mais 5 dias até à capital, Ulan Bator.
Vão passar por algum país em conflito?
Em conflito franco, não. Temos consciência de não nos expormos a perigos desnecessários, e estudámos atentamente a dinâmica da geopolítica dos conflitos no Médio Oriente. O único país com algum tipo de conflito é o Azerbeijão, mas trata-se de um conflito fronteiriço de disputa do território de Nagorno-Karabakh, reacendido recentemente, mas que não constitui perigo sério para estrangeiros, além de que não passaremos por essa zona. Na verdade, talvez o país mais perigoso ainda seja a Turquia, mas vamos atravessa-la precisamente na região mais longe da fronteira com a Síria.
Como tem reagido a comunidade ao vosso apelo?
Tem sido positivo e uma caixinha de surpresas. Ficámos surpreendidos com a adesão, mensagens de apoio e disponibilidade das pessoas para ajudar. Muitas empresas do concelho participaram com donativos, mas ficámos ainda mais impressionados com o altruísmo da população quer no que toca à divulgação e apoio “moral”, quer no que toca aos donativos, muitos dos quais mutíssimo acima dos 5€ a 20€ que pedimos.
Estão ansiosos por passar em alguma cidade/país em particular?
A área que nos desperta mais interesse e onde pretendemos baixar o ritmo e ir mais devagar e atentos à exploração da envolvência é depois do Mar Cáspio. Países como Turquemenistão, Uzbequistão, Cazaquistão e Mongólia são aqueles que estamos mais ansiosos de atravessar pelo desconhecido que de lá nos chega e pelo que temos lido acerca dos monumentos, cultura e povos.
(Miguel Jeri) Pessoalmente, Samarcanda, cidade no Uzebequistão, que significa “forte de pedra” em sogdiano, uma das línguas iranianas. Foi um ponto chave-da-rota da seda e tem monumento incríveis.
(Luís Rodrigues) Perto de Darvaz, no Turquemnistão, existe algo impressionante, a cratera de Darvaz, também conhecida como as “Portas do Inferno”. Desde há 45 anos que arde continuamente, não devido a qualquer actividade vulcânica mas devido ao gás metano que vai consumindo.
Vão preparados com comida de casa?
Levamos alguns mantimentos e conservas para SOS, material para confecionar comida e camping gás, mas de uma forma geral queremos ir experimentando a comida típica dos países que iremos passar. Até porque é uma forma de conhecer melhor a cultura de cada povo.
Encaram esta viagem como uma missão?
Encaramos esta viagem como algo tri-dimensional. Dimensão de aventura, intercâmbio cultural e actividades solidárias. Seria mentir se disséssemos que esta viagem tem como único objectivo a missão humanitária, mas também é certo que pusemos muitas energias, tempo, noites sem dormir e recursos do nosso próprio bolso para que a componente humanitária tivesse êxito. E é uma componente que levamos muito a sério.
… e as vossas namoradas/família apoiam?
Claro. Sempre preocupados com a nossa segurança, sabendo que vamos para uma zona menos normal e desconhecida, mas de onde não nos chegam relatos de problemas de maior, o que querem é que estejamos felizes e realizados e neste contexto têm dado todo o apoio.
Estão confiantes de entrar na Mongólia sem problemas?
Temos um visto especial (humanitário) que conseguimos graças ao contacto da Cruz Vermelha da Mongólia junto do Ministério das Relações Exteriores da Mongólia. Não deveremos ter problema. O único país que nos deixa alguma incerteza é o Turquemenistão, uma vez que o visto só nos na fronteira e depende de uma autorização prévia (carta-convite) das autoridades deste país, a qual ainda estamos à espera de nos ser dada. No entanto, há pouca probabilidade de ser rejeitada.
Que condições atmosféricas esperam encontrar na viagem?
Estamos a realizar esta viajem precisamente nesta altura porque é agora que as condições climatéricas são as melhores. Por altura de Setembro e Outubro a neve e as temperaturas baixas na Mongólia seriam um enorme entrave; por agora espera-nos sol e calor – talvez demasiado…