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Descobrimos que Samuel Úria é mais um de nós

“Não olho de soslaio para as canções Pop feitas em 5 minutos”. Samuel Úria disse logo ao que vinha na passada quinta-feira quando manteve um “tête-a-tête” com músicos de Ovar, na Escola de Artes e Ofícios.
E ontem provou-o. Dono de uma capacidade comunicativa invulgar, Samuel Úria obrigou-nos a olhar para dentro. Não num exercício egocêntrico, mas antes como parte de um caminho de necessária partilha.

E era neste sossego que estávamos no Centro de Arte, convencidos que a noite seria tranquila, já que o cantautor estava de bandulho cheio de Pão-de-Ló. Puro engano. O conforto dos nossos lugares seria frequentemente assaltado pela energia explosiva do Samuel que nos desequilibrou para equilíbrar os momentos de intimidade.

E no meio da parafernália tecnológica obsoleta que o pai lhe deixou, deu para cantar Elba Ramalho (“De volta pró aconchego”). Perguntem a quem lá foi se ele não é mais um de nós?

Mas voltando àquela quinta-feira. Na sua tentativa de “escarafunchar sobre a identidade da canção” deixou os pretendentes a escritores de canções em aflição: “A poesia é, para a escrita de canções, simultaneamente, a melhor amiga e a maior inimiga”.

Há poesia que é feita para ser lida – “é claro que Bob Dylan e Leonard Cohen mudaram tudo”. “A poesia que nasceu para ser lida é essencial para quem quer escrever canções”. Sem perder de vista que “a rima pode fazer desmoronar toda uma canção”, atirou dicas para quem as quis apanhar: “Parece haver mais seriedade quando não há rima”. Porque ela pode ser “um tipo de desilusão desnecessária”.

O caso do poema de António Gedeão, “Pedra Filosofal”, é para Úria, “um excelente exemplo que uma canção que não faz justiça ao texto”. Mas funciona, porque a  verdade “é que aquela lengalenga do Manuel Freire tornou o poema muito popular”.

Um caso inverso é o de “Perdidamente”, poema (Ser Poeta) de Florbela Espanca, cantado pelos Trovante, que “pode ser considerado um bom exemplo de adaptação”.

Samuel Úria não sabia é que Manuel Freire é “vareiro” e Florbela Espanca viveu muitos anos em Esmoriz. Foi a nossa vez de o surpreender.

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