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Exposição colectiva “Arlindo Fagundes, Emerenciano e Lopes da Costa”

Arlindo Fagundes, Emerenciano e Lopes da Costa são três nomes incontornáveis da cultura contemporânea portuguesa. Assim, as obras destes dois artistas plásticos e do arquitecto, que nasceram na cidade de Ovar, juntam-se nesta exposição que pretende acima de tudo homenageá-los e mostrar ao público a sua obra.

A obra de ilustração de Arlindo Fagundes (1945) é vastamente conhecida através das suas ilustrações da história “Uma Aventura…” de Isabel Alçada (1950) e Ana Maria Magalhães (1946), mas o artista em causa tem um percurso artístico renascentista, isto é, sendo artista plástico, ceramista, ilustrador e realizador cumpre o papel do artista polivalente e que procura expor o seu pensamento crítico em várias áreas do saber artístico.

Em 1987, o seu trabalho na área da cerâmica foi reconhecido com o 1.º Grande Prémio de Design Artesanal da Bienal de Arte de Vila Nova de Cerveira, e em 1997, escreve o “Manual Prático de Introdução à Cerâmica”, publicado pela Editorial Caminho.
Em 2003, foi-lhe atribuído o Troféu Zé Pacóvio e Grilinho no Festival da Amadora e, em 2004, recebeu o Troféu Sobredão no Salão-BD da Sobreda.

Nesta exposição apresentam-se três ilustrações com o tema os marinheiros, um presépio, e as famosas figuras de barro branco cozido, assinadas Olaria Ágata. Salienta-se ainda na exposição a obra “Jogo de Xadrez” que só foi apresentada uma vez ao público em 1984.

Sobre as obras dos marinheiros, os mesmos apresentam-se com um atitude frontal, quase como entrassem em diálogo com o público que os observa. Trata-se de um tema que também está presente na obra de Fernando Pessoa, e que tem a ver com a história de Portugal, um país sempre virado para o mar e para a aventura, os Descobrimentos são um belo exemplo da ligação ao mar.

As obras apresentadas de cerâmica são de uma beleza ímpar, o presépio e suas figuras são um novo olhar sobre um acontecimento histórico, uma interpretação muito pessoal e de muito sucesso. As restantes figuras retratam os casais da sociedade portuguesa, o General e sua mulher, o Alentejano e sua mulher, o Frade e a Beata, etc. Figuras estáticas sem sugestão de movimento mas com uma carga simbólica muito forte.

Por último ainda patente nesta mostra, um print da prancha da banda desenhada, ainda inédita, “O Colega de Sevilha – uma aventura de Pitanga”. Barbeiro de luxo a domicílio, Pitanga fez a sua primeira aparição em 1985, nas páginas do extinto jornal “O Diário”, protagonizando os episódios de “La Chavalita”.

Para mim falar de Emerenciano (1946) é também falar do Prof. Fernando Pernes (1936 – 2010), Director Artístico e Assessor Cultural da Fundação de Serralves. Pois o Professor escreveu alguns textos sobre a obra do artista e eu tive o privilégio de os transcrever/passar para o computador. E foi através da escrita e da sua pintura que conheci o Emerenciano, ambas linguagens tão importantes no seu percurso artístico.

Foram vários autores e personalidades da cultura portuguesa que escreveram sobre a sua obra, Adélio Melo, Alfredo S. Oliveira de Sousa, Arsénio Mota, E. M. de Melo e Castro, Fernando Pernes, Maria João Fernandes, Mário Cláudio, Pedro Barbosa, Rui Magalhães, Vasco Graça Moura, e entrevistado por Agostinho Santos e Fernando Pinto.
O espectador, ao observar a obra de Emerenciano constata que a escrita, com os seus protagonistas, letra e palavra, estão muito presentes nas suas telas. Escrita + Pintura = Obra de Emerenciano, o que se pode confirmar aquando de uma entrevista dada, ao Fernando Pinto, do Jornal “João da Semana”, em que o artista afirma “A “Escripintura” é a matriz de um trabalho iniciado em 1973, que se transforma à medida que prospero no sentido de uma melhor consciência da realidade pessoal e social, a que não sou indiferente.”

O artista é autor de vários livros de desenhos e de poesia: Escutar as Mãos (1992, com poema de Eugénio de Andrade), e “A mão tingida sobre o espelho/chão prisão do Mundo”, com prefácio de Arnaldo Saraiva, entre outros.
Está representado na colecção do Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian e em diversas colecções em Portugal e no estrangeiro, assim como na sua cidade natal com um painel de azulejos no Furadouro e com obras na Biblioteca Municipal de Ovar.

Pedro Barbosa e Maria João Fernandes, estão em sintonia quando ambos se referem a uma ideia no trabalho do artista, o de nascer. Para Pedro Barbosa, Emerenciano é o pintor da palavra que quer nascer e para Maria João Fernandes, o feto, que aparece em várias pinturas e desenhos, tem a ver com a imagem do nascimento. O público poderá ter acesso a uma obra que está presente nesta exposição, que sugere um possível feto, sem título e datada de 2005. Trata-se de uma pintura acrílica sobre papel, que convida o visitante do museu a um retorno.

A espiral, que também é o título do seu poema “Espiral-retorno”, é uma constante na obra do artista e que se refere a elas como “as minhas espirais-fechadas”. Assim como palma da mão, a mão pomba que desenha a espiral, também presente neste trabalho, e que Gilbert Lascault, afirma que estas marcas, sinais, selos, poderão ser assinaturas.
Escrita figurada e assumida, justificando textos de reflexão e a poesia é o que nos espera aquando de uma visita aos trabalhos de Emerenciano.

Licenciado em Arquitectura pela Unité Pedagogique D’Architecture de Bordeaux, em 1984, a obra arquitectónica de Lopes da Costa (1959) cumpre na íntegra um dos objectivos da arquitectura, o utilizador/cliente cria um elo de ligação com o espaço arquitectónico, e o percurso que fazemos nas suas obras evocam sentimentos, ideias e associações. “É perceptível no trabalho de Lopes da Costa a ânsia de manter os sentidos, todos os sentidos, despertos em permanência para a procura de novas soluções, novas propostas, novos materiais, novas formas de entender a casa”. Valdemar Cruz, in atelier d’arquitectura, J. A. Lopes da Costa.

O primeiro contacto que tive com a obra de Lopes da Costa, foi através do restaurante Bazaar, no Porto, um projecto datado de 2000/02. E como cliente do espaço nunca passou despercebido o trabalho de relevo do arquitecto, e a sua preocupação de criar uma envolvência de conforto, elegância e de contemporaneidade.

Das suas obras destacam-se: a Biblioteca Municipal Ferreira de Castro, em Oliveira de Azeméis, de 2000/07, trata-se de um edifício em forma de “U” em que dialoga harmoniosamente com o espaço envolvente; o Posto de Turismo e Auditório, 2004/05 no Furadouro, Ovar, o próprio Museu Júlio Dinis – Uma Casa Ovarense, onde decorre a exposição, e que as obras de reabilitação e ampliação deste imóvel datam de 2012.

Salienta-se também o Lar Residencial Torre Sénior, de Santo Tirso, pelo uso da luz, do espaço aberto e dos materiais nobres como a madeira. Trata-se de uma área triangular, com um edifício longo que se distribui paralelamente à encosta, e com um corpo perpendicular a este, onde estão o resto dos espaços. Um espaço para a terceira idade, com sessenta quartos, discoteca e piscina, e outras áreas também importantes para a instituição.

O papel do arquitecto contemporâneo não é meramente o autor do projecto, “o que desenha casa”, mas o profissional responsável pelo projeto, supervisão e execução da obra. E em alguns casos autor também do equipamento e mobiliário. Dos esboços e desenhos aos estudos prévios, aos projectos de execução, licenciamento, acompanhamento de obras, planos de pormenor, memórias descritivas, operações de desenho em CAD, até à própria gestão interna do atelier, as actividades do arquitecto são em geral muito diversas.

O Arquitecto Lopes da Costa, e a sua equipa no seu atelier, trabalham em prol da comunidade e de criar espaços em função da criação artística do arquitecto e do pensamento abstracto do cliente, quando este lhe pede ou os convida para criar um projecto. Ao criar um projecto de arquitectura também estamos a ajudar a criar um projecto de vida de alguém.

José Rosinhas

Bibliografia consultada:
“atelier d’arquitectura”, J. A. Lopes da Costa
«TODA A ARTE É CRÍTICA DE ARTE, TAMBÉM !», lembrando Fernando Pernes, texto da autoria de Emerenciano, a propósito da sua exposição individual, em 2010, na Olga Santos galeria.
“A mão tingida sobre o espelho | Chão prisão do Mundo”, Emerenciano, Campo das Letras, 1998
“Emerenciano 10 anos de escripinturas – 1973 – 1983”.
“A rua chão de escada”, Onaicnereme e Emerenciano, 1993
“Emerenciano”, catálogo da exposição na Galeria da Praça, no Porto, 1991.
“Emerenciano – vinte anos de pintura – a aventura de um singo” – Árvore – Cooperativa de Actividades Artísticas, CRL, 1994
“Idade das idades – à procura do tempo que me fizeram perder”, Emerenciano – Edições Caixotim, 2001

Sítios consultados:
http://www.arlindofagundes.com/bd1.htm
http://www.uma-aventura.pt/
http://bloguedebd.blogspot.pt/2014/11/entrevistas-18-arlindo-fagundes.html
http://entrevistasjornaljoaosemana.blogspot.pt/2012/06/emerenciano-artista-inquieto_8016.html
http://www.emerenciano-art.com/
http://www.jalopesdacosta.com/
http://www.espacodearquitectura.com
https://www.homify.pt/livros_de_ideias/15107/lar-residencial-torre-senior
http://www.arquitectos.pt

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