Opinião

Nián e a Lenda do Ano Novo Chinês (Parte I) – Rosendo Costa

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Quando mudamos de país carregamos connosco a herança da nossa língua, da nossa cultura, da nossa identidade nacional, da nossa gastronomia, mas cedo percebemos que o espaço físico onde crescemos nos limites artificiais do território geopolítico não é absoluto nem universal. Além fronteiras a nossa cultura não existe fora de nós, fora do nosso coração, memória e alma, existe, no entanto, toda uma nova galáxia cultural por explorar.

Aqui não é diferente, há um “réveillon” diferente do nosso, não ocorre todos os anos de 31 de Dezembro para 01 de Janeiro, muda de data anualmente consoante o calendário lunar e é o maior movimento de massas do planeta. Milhões e milhões – muitos milhões de chineses – movimentam-se dentro do país de regresso à sua terra natal para passar o ano novo chinês, vão para fora em viagem com a família ou regressam à China.

Nunca viajo nesta data, nem para outros países, porque além do preço das viagens ser multiplicado, de ser congestionado e caótico, adoro a calma da capital chinesa durante o ano novo chinês.

Há dias em que parece mesmo um qualquer cenário duma série apocalíptica da Netflix ou AMC: aquelas escadas rolantes do metro onde não se vê ninguém a emergir e continuam a rolar sem parar; avenidas gigantes e desertas apenas com movimentos de folhas secas e papéis a esvoaçar, lojas fechadas, supermercados fechados… Pequim fica totalmente diferente, vira o oposto e até chego a ter espaço para me deitar nas carruagens do metro. Uma cidade de 22 milhões de habitantes onde a grande maioria da população residente não é local durante o maior êxodo de massas que o mundo conhece…

Senti maior curiosidade em perceber a história por detrás do ano novo chinês do que sinto em saber a do Halloween ou do Carnaval. No ocidente toda a gente conhece mais ou menos a história que rodeia o nosso evento mais festivo – o Natal – , mas muitos desconhecem a do Halloween ou do Carnaval, embora o celebrem, mas explicaram-me, explicaram-me em jeito de como se narra histórias às crianças a lenda que rodeia a celebração do ano novo chinês, que me ajudou a perceber as cores, o barulho, a comida, as decorações.

Na antiguidade havia um monstro chamado Nián (“nián” significa “ano” em mandarim), que vivia nas profundezas do oceano e emergia uma vez por ano para se alimentar das pastagens, do gados e dos aldeões sobretudo das crianças.

Todos os anos na altura do Nián aparecer os aldeões fugiam para as montanhas lá se refugiando até o Nián voltasse para as profundezas. Uma vez, apareceu um velhote na aldeia que se recusou a esconder nas aldeias, mas conseguiu afastar o monstro queimando bambu para simular o barulho de explosões e colando adereços vermelhos nas portas e janelas e vestindo-se de vermelho.

Os aldeões regressaram à aldeia e ficaram surpreendidos de a mesma não ter sido destruída. Daí em diante, todos os anos os aldeões vestiam-se de vermelho, decoravam as casas com adereços em vermelho, queimavam bambu e colocavam espanta espíritos nas portas das casas… O Nián nunca mais apareceu…

Rosendo Costa
Um Vareiro em Pequim

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