Opinião

Por cá o mandarim é o novo chique – Rosendo Costa

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O novo idioma chique a despontar pelo mundo chama-se mandarim, a língua comum e oficial da República Popular da China, falada por mais mil milhões de pessoas no mundo, falada também em Singapura, Malásia e Ilha Formosa.

Há trinta anos, muitos poucos eram os não nativos que falavam mandarim. Ninguém tinha interesse em aprender o idioma de um então país pobre como era então a China, ninguém via interesse, os chineses não viajavam fora da China, não investiam fora do país e o chinês era, como ainda é, sinónimo de difícil e impossível, tanto mais
que em Portugal e em França, quando não se entende algo é comum dizer-se que para alguém “aquilo é chinês”.

Os tempos mudaram, a China é actualmente a segunda economia a nível mundial, os chineses viajam mais e investem mais no exterior e os das gerações mais antigas não falam nenhuma língua estrangeira e apenas sabem dizer o básico de “hello”, “sorry” e “thank you”, ganhando cada vez mais a consciência que os estrangeiros que lidam com eles no mundo dos negócios ou vivem no país deles devem saber falar o básico
de mandarim.

E não deixam de ter razão: não se pode exigir a quem sempre viveu num antes fechado país do tamanho da Europa, com províncias com mais habitantes do que a Alemanha ou Espanha, que fale inglês para um estrangeiro que venha à China e ache que o inglês serve perfeitamente. Não serve! Seria arrogância achar isso…

Nos mais de quatro anos e meio que levo a viver na China, percebi logo de início que o inglês não serve para nada. Tirando situações excepcionais em contexto de negócio com pessoas que estudaram a fundo o inglês, com outros estrangeiros ou frases em circunstâncias muito básicas, no dia-a-dia, falar inglês, português ou alemão é a mesma coisa para os chineses, não entendem e não querem saber e eu concordo – já experimentaram ir a Madrid e abordar as pessoas falando francês?

Mas na verdade nem tudo é a arrogância que parece: os chineses mais novos tentam ajudar a falar e responder em inglês mesmo que não percebam, mas os mais idosos como só falam mandarim e talvez ainda o dialecto da terra deles rematam a falar mandarim depressa, partindo do compreensível pressuposto de que se alguém está a pisar solo chinês então deve saber falar mandarim.

Mas a projecção do mandarim não se limita à China: reparei que devido muito ao comércio e turismo na Coreia do Sul fala-se mandarim – lembro-me de ter usado o mandarim para comunicar na Ilha de Jeju e em Seul; bem para falar com clientes vietnamitas no Vietname; e fui a restaurantes em Tóquio explorados por chineses em que falei mandarim também.

Isto não se resume ao Oriente: pelo mundo cada vez mais os aeroportos têm funcionários chineses para poder acudir aos chineses que viajam, em zonas de interesse histórico espalhados pelo mundo há avisos em mandarim e informações em mandarim para os turistas chinesas e lembro-me de visitar monumentos famosos na Europa e pedir aos chineses para me tirarem uma foto, o que gera logo uma onda de simpatia e surpresa por verem um ocidental a dirigir-se a eles numa língua tão deles que julgam que poucos ocidentais têm interesse em a aprender.

O mandarim nunca destronaria o inglês enquanto o incontestável e tacitamente aceite idioma universal, mas a verdade é que cada vez mais tem uma projecção além-fronteiras para o mundo do turismo e dos negócios e abre portas aos estrangeiros que o saibam falar fluentemente não só na China como no resto do mundo.

Dentro da China falar mandarim ajuda a ultrapassar barreiras do dia-a-dia nos transportes, compras, trabalho, vida social, profissional e pessoal, mas também impede que se seja facilmente enganado e manipulado nos preços, cria uma esfera de empatia imediata com os nativos que ficam contentes que um estrangeiro fale esta complexíssima língua e possa comunicar com eles na mesma.

Ainda dentro da China e no mundo dos negócios, as coisas são agora diferentes para um estrangeiro do que eram há uns anos atrás: havia poucos chineses que iam estudar para fora e regressavam (os chamados “hai gui”, “tartarugas do mar”), os estrangeiros podiam apostar nesse facto para competir com os chineses e não precisavam de aprender mandarim no contexto de trabalho, mas hoje em dia, há chineses mais qualificados que falam não só mandarim como inglês e até um terceiro idioma como espanhol ou francês, tornando-se mais difícil para os estrangeiros conseguirem competir com os chineses se não falarem a língua deles e os mesmos preferem comunicar em mandarim do que inglês, mesmo que o saibam – vejo isso pelos meus colegas -, além de que também se consegue cortar em custo de mão-de-obra e em despesas de viagem ao ter que atribuir um tradutor para acompanhar o estrangeiro.

Há até empresas chinesas que valorizam bastante o facto de se falar mandarim exigindo até um nível HSK4 (correspondente ao nosso B2). Fora da China, se uma empresa precisar por exemplo dum Europeu nativo que tenha que comunicar com a China ou chineses, irá prefir um que fale mandarim porque assim pode cortar no custo do tradutor e não só por isto, como também pelo facto de ser perigoso alguém ficar totalmente nas mãos dum tradutor sobretudo no mundo dos negócios, onde a experiência me ensinou que a tradução feita nunca
corresponde exactamente à feita pelo emissor, ocultando e alterando conteúdo o que pode afectar a percepção do outro locutor.

Lembro-me de que quando não falava nada de mandarim e me encontrava com clientes tinha sempre comigo um tradutor e confiava no trabalho deles. Mais tarde quando comecei a aprender mandarim, percebi que o conteúdo que estava a ser traduzido não correspondia totalmente à minha mensagem e hoje em dia, salvas circunstâncias excepcionais, dispenso o tradutor e comunico directamente por minha conta e risco… Para mim o mandarim é o novo chique, a nova língua da moda, a nova língua essencial para viver e sobreviver no “País do Meio”.

Rosendo Costa (na China)

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